A plataforma de negociação de criptoativos Ripio acaba de lançar no mercado brasileiro seu serviço para o segmento premium, a Ripio Select. Voltada principalmente à demanda das transações de grandes volumes, o novo produto requer um investimento mínimo de US$ 5 mil. O serviço garante aos clientes um acompanhamento personalizado da conta, armazenamento das criptomoedas a partir de qualquer parte do mundo e limites de operações superiores aos da categoria padrão. A chegada do produto ao País vem em linha com a análise do grupo de que o Brasil deve crescer entre os maiores mercados de criptoativos no mundo.
“No último ciclo [guiado pela redução de 50% da oferta do Bitcoin (BTC), o que acontece a cada quatro anos], o brasileiro entrou nesse mercado atraído pela especulação, mas, daqui para frente, deve ser atraído pelo aumento da usabilidade das criptomoedas”, afirmou Bernardo Gontijo, diretor de operações do Grupo Ripio, ao BP Money.
Ele explica que, com a mudança de cenário nesse universo cripto, surgirão muitas aplicações reais para o varejista usar a criptomoeda, algo que está só começando agora.
Pelas projeções do “Relatório Blockchain – Latam 2022”, o mercado brasileiro de criptomoedas pode dobrar ainda neste ano, com a entrada de 36 milhões investidores no segmento. O País já é um dos cinco maiores em número de investidores no mundo.
Além disso, para a plataforma de negociação de criptoativos, mudanças estruturais previstas nas redes de blockchain, especialmente na Ethereum, devem torná-las mais interessantes aos investidores. “Estamos falando de um horizonte de três, quatro anos”, avaliou o diretor de operações do grupo.
Apesar da queda da demanda por investimentos entre os clientes varejistas – fenômeno geral no universo financeiro atualmente -, analistas da companhia renovam suas esperanças em um horizonte mais distante. Gontijo avalia que as correlações nesses mercados de risco, que acompanham o cenário macroeconômico, acabam transparecendo nos preços dos ativos, o que cria algumas distorções sobre esse universo.
“É um segmento que segue forte no futuro, mas o amanhã reserva surpresas que podem impactar negativamente os valores”, disse o diretor de operações. Por isso, fazer previsões de curto prazo nesse mercado é algo quase impossível mesmo para os especialistas.
Mais para frente, as visões de investimentos dos mercados devem voltar a se distanciar, já que negociam ativos com propostas, comportamento e públicos muito distintos. A própria Ripio Select estará mais atenta às carências do investidor institucional, uma figura que vem ganhando peso no segmento cripto.
O avanço da regulamentação no Brasil, onde o custo de energia é mais baixo na comparação com outros países – o que favorece atividades de mineração das redes cripto -, ajuda a sustentar esse crescimento e a consolidar o mercado de criptomoedas por aqui. Membro da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), o Grupo Ripio acredita que alguns dos avanços já conquistados colocaram os criptoativos no radar dos governos.
A expectativa no setor é que a regulamentação do mercado nacional de criptomoedas, descrita no Projeto de Lei (PL) 4.401/2021, com diretrizes para a prestação de serviços de ativos virtuais, deve passar ainda neste ano, antes das eleições gerais de outubro. “É nossa torcida, pelo menos. Vimos que muitas barreiras foram derrubadas com a implementação do Pix, que se baseia em alguns atributos da tecnologia blockchain”, disse Gontijo.
Lançamento da Ripio Select estava previsto desde o aporte de US$ 50 milhões, levantado pelo grupo em rodada série B
Em setembro do ano passado, o Grupo Ripio captou US$ 50 milhões em uma rodada de investimentos série B, liderada pelo Digital Currency Group. O levantamento teve ainda o envolvimento do empresário Marcos Galperin, fundador e CEO do Mercado Livre (MELI34). O pitch vencedor considera o fortalecimento da presença da empresa na Argentina, seu país de origem, e no Brasil. A Ripio Select recebeu 10% do aporte para estruturar equipe e serviço.
A companhia, fundada em 2013 e presente no Brasil desde 2016, tem atualmente mais de 3 milhões de clientes na América Latina. Sua plataforma permite transações com todas as criptomoedas. Com o amadurecimento do mercado, em 2021, a empresa reportou um crescimento de 70%. Possui operações também na Argentina, Uruguai e Colômbia, mas em breve deve se lançar nos mercados do México, Espanha e Estados Unidos.
“Nosso objetivo é ampliar nosso portfólio de produtos e serviços, para diferentes perfis de investidores, no Brasil e posicionar o Grupo Ripio como marca líder Latam no segmento dos grandes investimentos”, afirmou o diretor global de desenvolvimento de negócios do grupo, Henrique Teixeira, no material de divulgação.
Durante o evento de apresentação do produto premium, o executivo falou da força da economia digital na região usando o Bitsampa como exemplo. O evento, organizado pelo canal “BitNada” e pelo Hathi Estúdios em março, reuniu mais de 2 mil pessoas em São Paulo para discutir o mercado de criptomoedas no País.
Parte dessa agenda, o leilão da obra Satoshi The Clown (Satoshi, o Palhaço), quadro doado pelo artista Fernando Quevedo, foi arrematado junto com um NFT por R$ 70 mil. O valor foi depositado em ETH diretamente numa carteira.
Na visão do grupo Ripio, não há volta nos caminhos da nova ordem econômica, baseada cada vez mais no universo digital – do qual dependem soluções como NFTs, outros tokens, o Metaverso, as próprias criptomoedas e por aí vai.
Mercado de criptomoedas passa por profundas transformações, que devem alavancar seu potencial, segundo Ripio
Por conta de transformações nas maiores redes de blockchain, na visão do diretor de operações do Grupo Ripio, Bernardo Gontijo, as inovações em criptomoedas devem acontecer de forma mais acelerada. O foco da criação e desenvolvimento do mundo cripto está em um nível mais próximo do dia a dia, isso quer dizer: voltado para aplicações mais reais.
A ideia é que, desde que a linguagem de programação da Ethereum se tornou universal no mercado de criptomoedas, a rede acabou atraindo um maior número de programadores. “O desenvolvedor está buscando facilidade e mercado. A Ethereum ofereceu isso”, concluiu Gontijo.
Ele explica que muitos blockchains costumam ter o problema de escalabilidade – algo comum também na rede do Bitcoin, que aceita isso como atributo em vez de considerar um bug da programação. Mas cabe lembrar que a Ethereum Foundation, o projeto que coordena a rede, tem entre suas principais propostas a de criar mais aplicações.
Então, diferentemente do caso do Bitcoin, a Ethereum precisou trabalhar suas questões de escalabilidade no blockchain. Daí, surgiu o “the merge” (a fusão, em tradução livre) .
O “the merge” é um dos pontos mais dramáticos da mudança de cenário no mercado de criptomoedas atualmente. É o processo pelo qual a rede Ethereum passará – em algum momento entre agosto e dezembro deste ano – e que prevê a atualização do seu blockchain. A Ethereum 2.0, como vem sendo chamada a nova versão, deixará de usar o mecanismo de consenso “proof-of-work” (PoW) para se tornar “proof-of-stake” (PoS).
De forma (bem) simplificada, com o “merge”, o validador de transações deixa de ser uma rede descentralizada de computadores, que hoje compete por mineração algorítmica. Sob a dinâmica do PoS, entram no lugar os validadores delegados, entes determinados que operam computadores com pelo menos 32 ETH “confinados” em uma carteira digital.
Como não há gasto de energia no processo de validação na Ethereum 2.0, a escalabilidade do seu blockchain deve aumentar dez vezes no próximo ciclo. Considerado o seu potencial, no entanto, o salto pode ser de até 100 vezes a capacidade atual de transações na rede.
Deixando a conversa técnica de lado: a Ethereum está prestes a roubar a coroa do Bitcoin, então? Não é bem por aí. Para o diretor de operações do Grupo Ripio, trata-se de propostas distintas.
Por isso, deixar de investir em uma para passar a apostar apenas na outra criptomoeda seria um erro crasso. “O Bitcoin quer ser uma reserva de valor global, enquanto o Ethereum tem como propósito tentar resolver o problema do dinheiro, quer dizer, das transações de mercado”, avaliou o executivo.
São respostas para problemas diferentes. Cada um deve seguir seu caminho daqui para frente, por isso o especialista enxerga oportunidades nos dois lados. Só de conseguir substituir o ouro, frente em que muitas cripto vêm investindo ostensivamente, especialmente o Bitcoin, o valor desse mercado já expandiria significativamente.
“Há dois fenômenos acontecendo simultaneamente hoje: o mercado cresceu e o peso do Bitcoin ficou relativamente menor nesse ambiente”, disse o diretor de operações do Grupo Ripio. Mas cabe lembrar que a criptomoeda ainda é a maior entre seus pares. Até 2020, época do último halving (como são chamados os ciclos de redução da emissão da criptomoeda), o Bitcoin representava quase 90% de toda a captação de criptomoedas.
A fatia do Bitcoin hoje é algo em torno de 30% a 40%, um reajuste que já vinha acontecendo mesmo antes da queda do seu valor no mercado. Só neste ano, o BTC teve uma variação negativa em dólar de 38%. Na quinta-feira (26), a criptomoeda foi negociada entre US$ 28 mil e US$ 30 mil. Bernardo Gontijo acredita que o ativo está em um bom preço para compra, considerando o longo prazo.
“Claro que há muita volatilidade, inclusive com a possibilidade de queda, mas, adiante, vemos alguns eventos que fariam o Bitcoin voltar às máximas”, disse o executivo. Ele menciona o ETF spot de Bitcoin, um ETF (fundo de índice) de BTC regular baseado no mercado à vista que rastreia o preço da criptomoeda nos mercados abertos, e a sua negociação se assemelha à compra de cotas em fundos.
Desde a aprovação do ETF spot de Bitcoin pela SEC (a comissão de valores mobiliários nos EUA), o interesse do mercado tradicional em criptomoedas cresceu. Uma pesquisa realizada em abril pela Nasdaq com 500 consultores financeiros confirmou que 72% dos entrevistados têm interesse em investir o capital sob sua gestão em ativos de criptomoedas negociados pelo novo veículo.
Gontijo menciona ainda o próximo halving do Bitcoin, em 2024, e a adoção da Lightning Network, que deve permitir aos usuários da rede enviar e receber transações mais rápidas e baratas, diferentemente das que acontecem na camada base do Bitcoin. “Um quarto fator relevante é a adoção do Bitcoin como moeda por Estados, como El Salvador fez. Com o preço mais baixo, pode ser que outros vejam uma oportunidade para entrar na rede das criptomoedas”, concluiu.
No Grupo Ripio, a mensagem reforçada a todo instante é que este é apenas o início no universo dos criptoativos. “Ou nem isso: talvez não tenhamos nem saído da linha de largada nessa nova economia”, disse o diretor global de desenvolvimento de negócios da companhia.