Crise na Americanas (AMER3) pode afetar demais empresas do 3G?

Analistas apontaram que, a curto prazo, ativos da Ambev e Zamp podem sofrer volatilidade

Desde que o rombo nas contas da Americanas (AMER3) foi divulgado, empresas em que o 3G Capital possui participações, como Ambev (ABVE3) e Zamp (ZAMP3), tomaram as atenções de investidores. Para analistas consultados pelo BP Money, os ativos de outras companhias que constam no portfólio do 3G podem sofrer volatilidade a curto prazo, mas não devem ser tão afetadas pela crise da varejista. 

Para Armando Borba, planejador financeiro CFP e sócio da Matriz Capital, as empresas do grupo tendem a sofrer de uma crise de confiança, que deve afetar o 3G Capital, por um tempo. Ygor Guedes, head de alocação da InvestSmart, parte da mesma opinião, reforçando  que o caso da Americanas relembra os investidores de outros casos de problemas contábeis no passado. 

Desde o anúncio do rombo da varejista, inicialmente em R$ 20 bilhões, no dia 11 de janeiro deste ano, até a última quarta-feira (25), as ações da Ambev (ABVE3), da Zamp (ZAMP3) e da Kraft Heinz (KHCB34), registraram oscilações negativas.

No caso da fabricante de bebidas, o recuo no período foi de 4,06%, segundo levantamento do TradeMap a pedido do BP Money.

“Dentre os motivos para essa queda, podemos citar a cautela dos investidores com as empresas do grupo 3G Capital. Até porque, ainda existe a dúvida se os sócios controladores precisarão vender parte das ações da Ambev para cobrir a inconsistência contábil da Americanas”, explicou Guedes.

Para Borba, no entanto, a volatilidade nos ativos da cervejista era esperado, mas, caso o balanço da companhia não apresente surpresas no quarto trimestre, é possível que o ativo recupere a cotação anterior ao evento.

O mesmo movimento visto na Ambev aconteceu com Zamp, dona do Burger King, e Kraft Heinz, que caíram, respectivamente, 5,6% e 7,97%, também de acordo com levantamento do TradeMap. A título de comparação, o Ibovespa subiu 1,56% no mesmo período.

Com isso, os negócios dos empresários perderam R$ 60 bilhões em valor de mercado. “Em um primeiro momento, os investidores ficaram mais cautelosos com as ações do grupo, o que pode ter corroborado para essa perda”, comentou Guedes, da InvestSmart.

O que também não ajuda a reputação do grupo são os desdobramentos da crise na Americanas. Agora, Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) estão buscando na Justiça uma forma de responsabilizar os acionistas de referência da Americanas.

Além de Americanas: outros problemas contábeis em empresas do 3G Capital

Não é a primeira vez que empresas do grupo 3G Capital apresentam problemas contábeis. Para o analista da InvestSmart, o histórico de problemas fiscais em algumas empresas do grupo tende a gerar perda de credibilidade, o que pode afetar também futuras linhas de crédito que o grupo possa precisar. 

Borba, também da mesma opinião, relembrou os erros milionários no balanço da Kraft Heinz, divulgado em 2019. Na ocasião, a gigante do setor de alimentos anunciou erros contábeis cometidos por três anos seguidos em seus balanços financeiros, em 2016, 2017 e 2018. A falha apontava para uma soma de US$ 298 milhões, o equivalente a R$ 822 milhões, na época. 

Guedes apontou outro caso, o da aquisição da América Latina Logística (ALL) pela Cosan (CSAN3), que mais tarde originou a Rumo (RAIL3). “A Cosan foi obrigada a republicar os balanços de 2013 e 2014 da companhia pois tinham inconsistência contábeis que inflavam o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa”, relembrou. 

Dessa forma, por fim, o analista da InvestSmart reforçou que, no curto prazo, uma das maiores preocupações dos investidores é se haverá uma pressão vendedora nos ativos de outras companhias, caso o grupo 3G Capital precise vender ações dessas empresas para cobrir a inconsistência da Americanas.