Hype já passou?

Ações de IA enfrentam turbulência, qual a próxima "mina de ouro" da Bolsa?

Mercado cansou de esperar resultados e empresas mudaram previsões; o que especialistas veem para o futuro do setor?

Foto: CanvaPro
Foto: CanvaPro

Neste trimestre os investidores se mostraram ansiosos para ver os resultados de seus investimentos nas ações pioneiras em projetos com IA (inteligência artificial). No entanto, os ventos parecem ter mudado, enquanto especialistas ainda tentam decidir qual setor pode ocupar o lugar dessa aposta.

Na avaliação dos analistas consultados pelo BP Money, investimentos alinhados à sustentabilidade, a exemplo de empresas ligadas à transição energética, bem como o setor de biotecnologia podem ser favorecidos nesse cenário.

Os aportes em projetos de IA causaram euforia ao mercado financeiro no início deste ano, com as big techs brilhando entre as principais escolhas de investimento. Porém, conforme explicado pelo economista Natale Papa Jr., como toda tecnologia, a IA está se acomodando.

“Como qualquer tecnologia, passa essa onda inicial e há uma certa acomodação onde as aplicações começam a ser demandadas de evidências, ou seja, cada vez mais o mercado quer ver o que vai ser gerado de resultado, o que é gerado de retorno financeiro a partir dessas novas tecnologias e está sendo exatamente assim com a inteligência artificial”, disse.

O economista avaliou que a demanda por sustentabilidade e questões verdes já vinha sendo observada, e nunca “saiu de cena”, mas ficou “de lado” pela tendência de investimentos em IA. 

“Empresas que trabalham tanto com a fabricação de painéis, como de carros elétricos e por aí vai, continuam em voga e sendo muito observadas pelos grandes investidores, como mais uma promessa”, afirmou.

Enquanto isso, Gerson Brilhante, analista da Levante Inside Corp., acredita que além da biotecnologia, “grande beneficiária da IA”, o setor de utilities como um todo “parece ser um ramo interessante para os próximos meses”, no contexto macro.

Ações de IA ainda estão fortes, mas por quê geram preocupação?

Os questionamentos sobre o rali em cima das ações de empresas ligadas à IA começaram após a temporada de balanços do segundo trimestre. Nesse aspecto, entre as big techs, a empresa que mais sofreu foi a Nvidia (NVDC34).

A fabricante de chips apresentou seus números no dia 28 de agosto e, embora tenha dobrado a receita, o mercado não ficou satisfeito com as previsões futuras. Na sessão seguinte, a empresa perdeu US$ 197 bilhões (ou R$ 1,1 trilhão) de valor de mercado.

Na semana posterior, na sessão do dia 03 de setembro, esse valor de mercado sofreu mais perdas fortes, em US$ 279 bilhões. 

No entanto, mesmo com o freio recente, os especialistas reforçaram que a IA segue fortalecida entre as opções de investimentos no mercado acionário, como indicou Waldir de Lara, CEO e Fundador da Larafy Consultoria e Contabilidade.

“Diversos fatores impactaram na queda de empresas de tecnologia. No caso específico da Nvidia houve fatores, sim, de alinhamento de expectativas, em razão da baixa demanda dos setores de mineração de criptomoedas”, disse.

Todavia, essas não foram as únicas razões para o desânimo, segundo Lara, a fabricante enfrenta alguns outros desafios, como a investigação por possíveis violações concorrenciais, além de crises políticas com as eleições dos EUA. 

“Neste cenário, é possível identificar fatores particulares que impactam diretamente à Nvidia, contudo, não se pode dizer que há uma crise no setor de IA, que segue com crescimento expressivo se considerado os números do acumulado de 2024”, avaliou.

Quanto às demais big techs, o que preocupa o mercado, explicou Lara, é que as ações estão sendo comerializadas a valores muito elevados.

Já Brilhante, alertou que os próximos balanços serão essenciais para entender para onde as empresas estão caminhando depois de um grande hype. 

“A respeito dos lucros das big techs, não creio que seja uma frustração, mas enxergo o mercado estando exausto em revisar as projeções continuamente para cima”, comentou.

Natale Papa Jr. destacou que as big techs e outras companhias do ramo de tecnologia também precisam olhar para o cenário macroeconômico mundial, que está enfrentando uma desaceleração e aumento das taxas de juros. 

“Isso também faz com que as grandes empresas do setor técnico tenham que se reajustar e ver a questão de custo de capital, perspectiva de geração de resultado, etc”, disse.