Impacto na bolsa

Dino desafia EUA, bancos despencam e bolsa derrete 2%

Insegurança sobre os efeitos da Lei Magnitsky ditaram o resultado do pregão desta terça-feira (19).

(Foto: reprodução/Politize/Getty Images)
(Foto: reprodução/Politize/Getty Images)

O Ibovespa, o principal índice acionário brasileiro, fechou o pregão desta terça-feira (19) no seu segundo menor índice do ano graças ao “efeito dominó” geopolítico da tensão entre Brasil e EUA.

No dia, recuo foi de 2,10%, a 134.432 pontos. Na semana, as perdas somam 1,4%. Os bancos foram os principais agentes das quedas do dia, apesar dos bons resultados trimestrais apresentados pela maior parte deles. De acordo com o jornal O Globo, os cinco principais do país perderam R$ 41,3 bilhões em valor de mercado somente nesta terça.

No fim do dia, o Itaú (ITUB4) desvalorizou 3,05%, a R$ 36,31, Banco do Brasil (BBAS3) caiu 6,03%, a R$ 19,80, Bradesco PN (BBDC4) recuou 3,43%, a R$ 15,79, BTG Pactual (BPAC11) perdeu 3,48%, a R$ 43,50 e Santander (SANB11) cedeu 4,88%, a R$ 25,94.

O desempenho pela tarde já dava sinais: às 14h36 (horário de Brasília), o Itaú (ITUB4) operava com queda de 2,89%. Banco do Brasil (BBAS3) recuava 4,51%. Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) desvalorizavam 3,18% e de 2,90%, respectivamente.

De acordo com especialistas, o sentimento de insegurança dos investidores foi engatilhado pela decisão de Flávio Dino tomada na segunda-feira (18). O ministro determinou que as ordens judiciais e executivas estrangeiras não são válidas no Brasil até que o supremo as reconheça como tal. A decisão foi tomada em uma ação relacionada à tragédia de Mariana (MG), mas também teve como objetivo “blindar” o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que está sofrendo sanções financeiras com base na Lei Magnitisky.

Em possível resposta a essa medida, o Departamento de Assuntos do Hemisfério Ocidental (Bureau of Western Hemisphere Affairs) publicou, através da rede social X, um texto em que chamava o ministro do STF, Alexandre de Moraes, de “tóxico” e afirmava que “nenhum tribunal estrangeiro pode anular as sanções impostas pelos EUA ou proteger alguém das severas consequências de descumpri-las”.

Para Gabriel Filassi, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, a decisão de Dino foi estratégica: “eu acredito que a decisão de Flávio Dino foi uma estratégia para ganhar tempo, já que a implementação da Lei Magnitsky, que prevê a restrição dos serviços bancários, ocorre de forma gradual, não imediata. Entendo que eles terão que cumprir a exigência internacional na íntegra, apenas não está claro quando”, analisou.

Em contrapartida, a percepção de risco fez com que os investidores recorressem ao dólar como forma de garantir segurança, associado também ao recuo do petróleo e do minério de ferro. Ao fim do dia, o dólar comercial acumulava ganho percentual de 1,22%, cotado a R$ 5,50.

“Em contrapartida”, comentou João Sá, co-head de Investimentos da Arton Advisors, “algumas empresas com forte exposição em receita dolarizada têm conseguido se sustentar melhor, já que o dólar sobe 1,15%, na faixa de R$ 5,50 a R$ 5,51. Ao mesmo tempo, a curva de juros também reflete essa aversão a risco: a taxa de janeiro de 2030, que estava em 13,39% ontem, subiu para 13,60% hoje, reforçando um ambiente de maior cautela.”

As ações de empresas frigoríficas como Minerva (BEEF3), JBS (JBSS32) e Marfrig (MRFG3) estão nesse grupo. Em parte, impulsionadas pelos resultados positivos, valorização do dólar e aumento da demanda por exportação.

“Entendo que, dada a instabilidade do cenário econômico global, impactado pelos conflitos geopolíticos, juntando expectativas relacionadas a futuras decisões de políticas monetárias nos EUA, naturalmente o preço das ações sofrerá volatilidade até que se encontre um cenário mais claro para o investidor. Pelo menos até sexta, penso que o mercado deve agir com mais cautela, até que tenha acesso as informações atualizadas para assim tomar melhores decisões”, concluiu Filassi.

Histórico de 2025 das desavenças entre Brasil e EUA

É possível tomar como ponto de partida para a atual agravamento da relação entre Brasil e EUA a Cúpula dos BRICS sediada no Rio de Janeiro (RJ) em julho. À época, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou, por meio de sua rede social Truth Social, impor uma tarifa adicional de 10% a países que se alinharem ao BRICS. A declaração ocorreu após os líderes do bloco econômico criticarem o aumento unilateral de tarifas, classificando essas medidas como ações que “distorcem o comércio”.

Além disso a ampliação de discursos de desdolarização no bloco não agradaram o governante, ainda mais num cenário em que o dólar tem passado por uma lenta desvalorização mundial.

Para “piorar”, as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem Donald Trump compartilha afinidades, foram se encaminhando para a prisão do político. Ao anunciar a tarifa de 50% pela primeira vez, o republicano já incutia uma forte carga política relacionada ao julgamento de Bolsonaro na decisão.

Pouco após a decisão do STF em colocar o ex-presidente do Brasil em regime de tornozeleira eletrônica, após uma operação da Polícia Federal, veio a assinatura de ordem para oficializar a taxa de 50%.

Desde 6 de agosto a sobretaxa está sendo aplicada e o governo brasileiro tem tentado negociar com os EUA. O país norte-americano disse, em anúncio oficial sobre os produtos exportados divulgado pela Casa Branca, que petróleolaranja aviões escapam do tarifaço e serão isentos de tarifas.