Agosto chegou e com ele o “mês do desgosto”, como é popularmente conhecido. O apelido vem do fato de que o período é marcado por condições climáticas extremas, como calor intenso ou o auge da temporada de furacões e tempestades.
Essa oscilação climática pode ter alimentado a percepção de que o mês carrega uma aura de má sorte. Mas será que o Ibovespa deve surfar em uma onda de azar?
O gestor e analista da Buena Vista Capital, Renato Nobile, explica ao BP Money que historicamente tanto o S&P quanto o Ibovespa tendem a ter um desempenho mais morno em agosto.
Nobile destaca que o volume e a performance são geralmente menores, em parte devido à extensão das férias no mercado americano e à realização de lucros após o fechamento fiscal nos EUA.
No entanto, o gestor destaca que nas sessões dos últimos dias a temperatura “morna” não seria o termo ideal para caracterizar os primeiros pregões do índice neste mês.
“A gente começou de forma muito mais negativa ao mês de agosto, porque o Brasil ainda é muito dependente do cenário macro, e os últimos dados do Payroll, lá nos Estados Unidos, bem abaixo do que o mercado esperava, mostram uma desaceleração um mais acentuada do que o mercado estava prevendo”, afirmou
Alarme falso que assombrou mercado
A preocupação com uma possível recessão na economia dos EUA foi o principal motivo que abalou os investidores globalmente no segundo pregão do mês, sexta-feira (2), se agravando nesta segunda-feira (5).
Os dados de emprego de julho mostraram resultados abaixo do esperado, gerando especulações de que a atual taxa de juros americana pode estar impulsionando a maior economia do mundo em direção a uma desaceleração mais pronunciada.
O relatório “payroll” revelou que os EUA adicionaram 114 mil empregos no último mês, um número abaixo da previsão de 175 mil, e a taxa de desemprego subiu para 4,3%, quando o mercado esperava que permanecesse em 4,1%.
Esses dados ativaram a chamada Regra de Sahm, que indica o início de uma recessão quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos 0,5 ponto percentual acima da mínima dos últimos 12 meses. Em agosto do ano passado, o índice estava em 3,8%, colocando a taxa atual exatamente no ponto crítico.
Passado o ruído, Ibovespa pode ser favorecido
Passado o temor, a onda de pânico foi lida como “marola”, uma espécie de alarme falso. Na sessão seguinte, terça-feira (6), o Ibovespa, junto com as bolsas globais, já registrava leve ganhos indicando um possível realinhamento.
“A alta das bolsas de valores após um dia de intensa queda, causada por tensões globais e preocupações sobre uma recessão nos Estados Unidos, exemplifica a volatilidade e a resiliência dos mercados”, disse Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments.
De acordo com um especialista, a alta das bolsas após um dia de queda reflete a natureza especulativa dos mercados, onde expectativas e emoções desempenham papéis significativos na distorção dos preços.
“Passando esse ruído, acredito que os próximos dados mostrando que não vai ser uma desaceleração mais acentuada, eu acho que pode favorecer bastante a bolsa brasileira”, avalia Nobile.
O economista destaca que existem dois cenários a serem considerados. Se houver uma desaceleração mais acentuada no mercado americano, isso pode ter um impacto negativo no Brasil, uma vez que o cenário macroeconômico do país depende da entrada de investidores estrangeiros.
No entanto, se a desaceleração nos EUA for mais gradual e ocorrer uma redução nas taxas de juros, essa “desaceleração saudável” pode beneficiar significativamente os mercados emergentes, incluindo o mercado brasileiro.