Crise no setor

Agrogalaxy entra em recuperação judicial e liga alerta para os Fiagros

A crise na Agrogalaxy é um reflexo de problemas mais amplos no setor de distribuidores de insumos agrícolas

Foto: Aglogalaxy/Reprodução
Foto: Aglogalaxy/Reprodução

A Agrogalaxy comunicou na última quarta-feira (19) que entrou com pedido de recuperação judicial, após não conseguir honrar uma amortização de R$ 70 milhões, que tinha vencimento nesta data.

A empresa, que opera uma rede com mais de 100 lojas de insumos agrícolas, acumula uma dívida líquida superior a R$ 1,5 bilhão com bancos e CRAs

No entanto, seu endividamento total é ainda maior, superando R$ 4 bilhões, ao incluir débitos com fornecedores.

As ações da Agrogalaxy, que já estavam próximas de sua mínima histórica, despencaram mais de 13% após o anúncio. 

Além do pedido de recuperação judicial, a empresa informou a renúncia de seu CEO e de cinco dos nove membros do conselho, deixando a companhia em uma situação crítica.

Esse movimento não surpreende quem acompanha o setor, já que a Agrogalaxy enfrenta dificuldades desde o início do ano passado, quando o panorama do agronegócio sofreu mudanças significativas.

Expansão impulsionada por aquisições aumenta alavancagem

A Agrogalaxy, que é controlada pela Aqua Capital, expandiu significativamente nos últimos anos através de uma estratégia agressiva de consolidação, comprando várias revendas e financiando essas aquisições com uma combinação de capital próprio e dívida.

Essa abordagem fez com que sua alavancagem disparasse, embora por algum tempo o aumento não fosse tão perceptível devido ao cenário favorável do setor.

“Os anos de 2020, 2021 e 2022 foram muito bons para a agricultura e para o setor de insumos. As margens das distribuidoras estavam muito altas e elas formavam muito estoque porque esse estoque só se valorizava,” disse um gestor de Fiagro, que não tem exposição a empresa. “Isso fez com que as distribuidoras pisassem no acelerador.”

Cenário do Fiagro se torna desfavorável em 2023

Em 2023, o panorama sofreu uma reviravolta, com a queda acentuada nos preços das commodities, especialmente soja e milho, levando os produtores a adotarem uma postura mais cautelosa.

“Para o produtor foi a tempestade perfeita. Ele tinha comprado o fertilizante no high, por conta da guerra na Ucrânia, e depois teve que vender a soja no low,” disse outro gestor. 

A Agrogalaxy realiza grande parte de suas vendas a prazo, com os pagamentos ocorrendo somente após a colheita dos produtores. 

Com a crise no setor, muitos agricultores atrasaram ou deixaram de efetuar os pagamentos, o que tem pressionado o fluxo de caixa da empresa.

Essa situação se agrava ainda mais em anos de safra ruim, pois a companhia enfrenta dificuldades tanto com a inadimplência da carteira atual quanto com a redução dos pedidos para a próxima safra.

A Agrogalaxy enfrenta margens negativas, com EBITDA de -7,9% no segundo trimestre e dificuldades de integração pós-aquisição. 

Apesar de tentativas de ajuste e investimento de R$ 150 milhões pela Aqua, a empresa não conseguiu reverter a situação. 

Seus principais credores incluem Santander, Citi, Banco do Brasil e fundos de CRAs como Capitânia, JGP e XP Asset, que estão sofrendo perdas. 

A ação da Agrogalaxy caiu para menos de R$ 1, avaliando a empresa em R$ 249 milhões, abaixo do valor captado em seu IPO. A crise na Agrogalaxy é um reflexo de problemas mais amplos no setor de distribuidores de insumos agrícolas.

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