A possível chegada do fenômeno climático La Niña tem gerado expectativas no setor agrícola brasileiro, mas desta vez, as notícias são mais otimistas.
Segundo análise de Bruno Gurgel, economista e assessor financeiro, a previsão é de que o La Niña se manifeste de forma mais moderada em comparação à sua última ocorrência, o que pode trazer alívio para os produtores, especialmente na região sul do país.
O fenômeno La Niña, marcado por temperaturas mais frias no Oceano Pacífico, deve se manifestar entre setembro e novembro. O Centro de Previsão Climática (CPC) do Serviço Nacional de Meteorologia informou em sua previsão mensal que a fase neutra entre os padrões climáticos La Niña e El Niño deve perdurar por alguns meses, com 74% de probabilidade de La Niña se prolongar entre novembro e janeiro.
Com essa previsão, há a possibilidade de reverter parte dos danos agrícolas provocados pelo recente e intenso El Niño, o mais forte dos últimos dez anos, que acabou de se dissipar.
O especialista destacou que a última vez em que o fenomeno ocorreu de maneira intensa, a região sul do Brasil sofreu com uma estiagem severa, resultando em perdas significativas, principalmente na produção de soja.
“Se o fenômeno realmente ocorrer de forma mais branda, como está previsto, temos a expectativa de boas colheitas”, afirmou. Este cenário mais ameno é crucial para os agricultores que enfrentaram adversidades climáticas severas em anos anteriores.
O otimismo não é infundado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já está trabalhando com a previsão de uma safra recorde de soja no Brasil para 2025, estimando uma produção em torno de 169 milhões de toneladas. Este seria um marco histórico para o país, que já é um dos maiores produtores e exportadores de soja do mundo.
Além da soja, outras culturas também se beneficiariam de um La Niña menos agressivo. “O cenário é positivo, até o momento, para a produção de milho, cana-de-açúcar e café, principalmente”, destacou Brenda. Essas culturas são essenciais para a economia agrícola do Brasil, e uma boa safra pode ter impactos positivos significativos, tanto no mercado interno quanto nas exportações.
Embora as previsões sejam favoráveis, os agricultores permanecem cautelosos. O clima, como sempre, é um fator imprevisível e pode mudar rapidamente. No entanto, com as atuais estimativas, o setor agrícola brasileiro pode se preparar para um período de crescimento e prosperidade, impulsionado por colheitas promissoras e uma demanda global crescente por commodities agrícolas.
La Niña e o impacto nas culturas agrícolas do Brasil
Com a previsão da formação do fenômeno La Niña na segunda metade deste ano, as atenções se voltam para as principais culturas agrícolas do Brasil, que podem enfrentar desafios climáticos significativos.
Segundo Alê Delara, Diretor da Pine Agronegócios e especialista em agronegócio, “Soja e milho são as principais culturas que podem ser afetadas, especialmente considerando que o La Niña deve começar entre outubro e dezembro, coincidindo com o plantio dessas culturas no sul do país.”
A característica de temperaturas mais baixas e a redução das chuvas, típicas desse fenômeno, podem levar a uma escassez hídrica, comprometendo a produtividade.
Enfrentar as condições adversas impostas por La Niña é um desafio para os agricultores brasileiros.
Alê Delara ressalta que “não há tecnologia capaz de enfrentar plenamente as condições climáticas extremas, mas regionalmente, a irrigação por Pivot pode ajudar a mitigar os impactos da falta de chuvas.”
Essa prática pode ser uma solução importante para áreas que enfrentam escassez hídrica, ajudando a manter a produtividade das lavouras durante o fenômeno.
Volatilidade dos preços das commodities e o mercado financeiro
A volatilidade dos preços das commodities agrícolas, provocada por La Niña, pode ter repercussões significativas no mercado financeiro.
“Durante o desenvolvimento das lavouras, se as condições climáticas forem adversas, a expectativa de redução ou quebra de produção pode levar a prêmios de risco nos preços,” explica Delara.
Isso pode afetar diretamente o poder de compra dos consumidores, como no caso de uma possível geada nas lavouras de milho, que poderia elevar os preços do cereal, encarecendo o custo da ração para pecuaristas e granjeiros.
Para além do agronegócio
Além do agronegócio, outros setores também podem ser diretamente afetados pelas mudanças climáticas associadas ao La Niña. Delara destaca que “setores como o de saneamento, em regiões onde há redução das chuvas, podem sofrer com a diminuição das reservas hídricas.”
O setor energético também pode ser impactado, com o aumento do consumo e a redução da capacidade de geração hidráulica, devido à baixa nos níveis dos rios e represas.
O transporte por barcaças, crucial para o escoamento de produtos, também pode enfrentar dificuldades em função da queda no nível dos rios.