A cada ciclo de alta da Selic, a Bolsa de Valores brasileira, B3, registrou quedas. No entanto, as expectativas para 2024 são diferentes.
Mesmo com o aumento dos juros, o mercado projeta que o Ibovespa, que vem enfrentando os seus melhores momentos históricos, possa alcançar novos recordes.
Na noite da última quarta-feira (18), o Copom (Comitê de política Monetária) aumentou a Selic, taxa básica de juros, pela primeira vez desde agosto de 2022.
Ao BP Money, Wander Brugnara, cofundador do Grupo Brugnara, observa que, em vez da reação negativa tradicionalmente esperada, alguns fatores indicam uma possível inversão desta tendência.
De acordo com o especialista, a expectativa é de que a alta da Selic possa, paradoxalmente, aumentar a confiança no mercado de ações e reduzir o prêmio de risco na renda fixa.
“Geralmente, quando a Selic sobe, a Bolsa reage negativamente e a curva de juros inclina para cima. Desta vez, uma série de fatores fez com que a ordem se invertesse e a expectativa é de mais confiança para investir em ações e prêmio de risco menor na renda fixa”, afirmou.
De olho no mercado de júros futuros
A relação entre a alta da Selic e o comportamento da Bolsa de Valores é complexa e não se resume apenas às taxas de curto prazo. É o que explica Elias Pinto Coelho, planejador financeiro e especialista em mercado financeiro.
Segundo Coelho, a curva de juros, que reflete as expectativas do mercado para o futuro da Selic, tem um papel crucial. “A percepção do mercado sobre a trajetória futura da Selic afeta diretamente os preços das ações”, disse.
“O que influencia, e muito, é a expectativa que o mercado tem de quanto vai ser essa taxa nos próximos 5 ou 10 anos. Existe uma curva de expectativa de juros para os próximos anos, chamada curva de juros, que reflete como o mercado espera que será a trajetória futura desses juros”, explicou.
Coelho ressalta que, apesar de uma alta pontual na Selic, o que realmente importa é a expectativa de longo prazo.
Um aumento temporário pode ser neutralizado se houver uma perspectiva de queda nos próximos anos. Ele aconselha os investidores a não focarem exclusivamente em movimentos de curto prazo, mas a considerar um planejamento financeiro robusto e de longo prazo, que possa garantir melhores retornos
“Podemos ter um aumento pontual hoje para o Copom controlar inflação mas uma expectativa de queda dessa taxa pelos próximos 5 anos, por exemplo. Já o contrário também é possível, uma queda pontual hoje e uma expectativa futura de crescimento”, disse.
Empresas na Bolsa para monitorar após alta de Selic
No que diz respeito aos setores afetados, Coelho aponta que os mercados mais alavancados e que dependem de capital são mais impactados pela alta da Selic.
No entanto, ele adverte que a alta da Selic geralmente já está precificada nas ações e que um aumento menor do que o esperado pode até beneficiar o mercado acionário.
Além disso, Pedro Persichetti, especialista do mercado financeiro e CSO da Sail Capital, observa que as empresas endividadas, especialmente aquelas que dependem de linhas de credito enfrentam maiores custos financeiros com a alta da Selic.
Persichetti explica que isso compromete suas margens de lucro e, consequentemente, reduz a atratividade de suas ações.
Em contraste, empresas que dependem fortemente de crescimento e expansão, como as empresas de tecnologia ou outras empresas com estratégias de crescimento acelerado, ou que precisam de recursos para capital de giro, como
Empresas do varejo, enfrentam mais dificuldades”, ressalta
Por outro lado, o especialista em especialista do mercado financeiro, destaca os setores que têm maior exposição a investimentos em renda fixa, como as seguradoras, podem se beneficiar da alta da Selic.
“Esses ativos rendem mais, permitindo que as seguradoras gerenciam seus recursos de maneira mais eficiente” explicou.
Wander Brugnara ainda completa: “O setor bancário e de seguros com reserva são os que mais se beneficiam com a alta da Selic”.