Alta do IPCA em 2023 não tira otimismo do mercado na Bolsa

Selic e dólar também foram revisados para cima, no último Boletim Focus; especialistas não veem motivos para fuga da bolsa

O Boletim Focus publicado na última segunda-feira (21) mostrou alterações (para cima) nas expectativas para Selic, IPCA (Índice de preços no consumidor) e dólar em 2023. A discussão sobre o aumento de gastos do governo eleito é o fator principal para a alta nas expectativas dos indicadores macroeconômicos.

De acordo com especialistas consultados pelo BP Money, as projeções não devem assustar o mercado financeiro, já que o Brasil está bem posicionado em relação ao estágio do ciclo de política monetária e o mercado tem precificado, inclusive, os riscos políticos. 

Para Maria Levorin, gestora da Multiplica Capital, se o governo do PT, que assumirá no dia 1º de janeiro de 2023, tiver responsabilidade fiscal, o Brasil será o primeiro País relevante a começar a cortar os juros de forma significativa. 

As projeções para o IPCA 2023 foram de 4,94% para 5,01%, o primeiro aumento em quatro meses. As previsões para o câmbio foram de R$ 5,20 para R$ 5,24 e Selic de 11,25% para 11,5%. Segundo Levorin, essas mudanças, ainda que pequenas, refletem uma piora das expectativas de mercado em relação ao novo governo. 

“Tais pioras nas projeções se devem principalmente ao peso do possível descontrole fiscal e à gastança sem fonte de financiamento sustentável sugerido até então pelo próximo governo”, disse Levorin.

De acordo com Marcelo Ferreira, economista e professor, a principal preocupação do mercado deve ser em relação à inflação. Mesmo assim, o indicador já está precificado pelo mercado na bolsa de valores.

“Imagino que isso está sendo atribuído a política fiscal que será implantada a partir de 1 de janeiro e aos desafios fiscais existentes. Em cima disso, acredito que de certa forma isso já está precificado na bolsa de valores, tomando por base o movimento que foi feito de uma alta um tanto quanto expressiva nos primeiros dias após o primeiro turno e depois em uma queda fortíssima dos últimos dias, como resposta a política fiscal que deve ser apresentada. Então acredito que já está precificado”, disse Ferreira.

O assessor Paulo Luives, da Valor Investimentos, afirmou que o investidor, neste momento, deve ser pragmático para entender que muita coisa que foi falada ainda não é concreta. 

“A PEC de Transição ainda vai ser votada pelo Congresso e está sujeita a alterações. Ao mesmo tempo, a gente ainda espera, no ano que vem, que o governo mostre qual vai ser o arcabouço fiscal”, disse Luives. 

Segundo o assessor de investimentos, o governo deve mostrar algum plano ou meta, seja de superávit ou mesmo de controle de despesas, para que o Brasil tenha estabilidade. 

“Isso deve ser feito para que os investidores tenham uma previsibilidade de como vai ser a política fiscal nos próximos anos e como o governo vai manter esse endividamento controlado, de certa forma até em um movimento de queda, para que o juros voltem para um patamar estimulante”, explicou Luives.

Mercado brasileiro pode se beneficiar no curto prazo? 

Além da definição sobre a PEC, o Brasil tem outros fatores que podem mexer com o mercado no curto prazo. Um deles é a definição sobre o aperto monetário nos EUA. 

Segundo Levorin, da Multiplica Capital, ativos de risco brasileiros podem se beneficiar, mesmo com a inflação nos patamares atuais, caso os juros nos EUA subam menos que o esperado. Isso porque os investidores estrangeiros tendem a aumentar os aportes em países emergentes. 

“Os ativos da bolsa brasileira podem ser considerados baratos, quando comparados às bolsas emergentes e também às desenvolvidas, o que deveria ser um potencial upside para a bolsa Brasil. Porém, sabemos que o fluxo estrangeiro é bastante importante para a valorização desta classe de ativos e a incerteza na condução da política fiscal afugenta o capital estrangeiro ou faz com que eles coloquem um prêmio em nossos ativos”, disse Levorin.

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile