Amazon (AMZO34): veja 3 vetores que influenciam queda das ações

Ações da bigtech caem 34% no acumulado de 2022; analistas explicam baixa

Assim como grande parte das companhias de tecnologia internacionais, a Amazon (AMZO34) tem sofrido neste ano, com a instabilidade do cenário macro. Mas não é só isso que impacta as ações da empresa, que acumulam queda de 34% neste ano. De acordo com analistas consultados pelo BP Money, existem três vetores principais que explicam a queda dos papéis dessa empresa. 

A Amazon reportou, na última quinta-feira (27), depois do fechamento do mercado, os seus resultados operacionais referentes ao 3º trimestre de 2022 e vieram em linha com estimativas. Contudo, a gigante do e-commerce declarou que possui uma previsão de resultados menos otimista para os próximos trimestres e isso, segundo analistas da Avenue, fez as ações da companhia caírem 20% no after-market, na última quinta.

Para além de seus resultados reportados, a Amazon, de acordo com especialistas, tem outros desafios e “triggers” que influenciam seu desempenho na bolsa de valores dos EUA.

Para William Castro Alves, chief strategist da Avenue, uma conjunção de fatores pesaram para que a Big tech tivesse uma piora significativa no desempenho nos últimos meses. Em primeiro lugar, para além dos fatores externos (como o aperto monetário nos EUA), Alves cita o valuation da empresa.  

“O que pesou foi que, quando você olha as Big techs, ela é uma das empresas que negociam o valuation mais esticado com uma relação preço lucro mais alta, com múltiplos mais caros, porque ela vinha entregando um ritmo de crescimento maior. Em um cenário onde você acredita que vai ter menos crescimento, os múltiplos têm que ser ajustados, e a Amazon negociava com múltiplos mais elevados, então o ajuste de valuation é o ponto um”, disse Alves. 

O crescimento da concorrência, segundo o especialista, também influenciou negativamente os resultados e o desempenho da companhia nos últimos meses, e esse pode ser considerado o vetor número dois.

“O ponto dois é que, de fato, ela teve resultados mais fracos neste ano. Houve uma desaceleração do crescimento e ainda a marcação a mercado daquele investimento que ela fez em uma empresa de carros elétricos, a Rivian, que agora é negociada em bolsa, e tem uma volatilidade maior e acaba gerando alguns bilhões de impacto negativo sobre os resultados dela”, afirmou Alves.  

“Esses resultados mais fracos advém também de um aumento de concorrência. A Amazon passou a ter mais concorrência nesse mundo do e-commerce e, até mesmo, do armazenamento de nuvem”, complementou o analista. 

Por fim (vetor três), Alves destacou que o desempenho mais fraco da Big tech está ligado à mudança de comportamento do consumidor norte-americano. De acordo com o especialista, os consumidores nos EUA passaram a comprar mais experiências, no pós-pandemia, e deixaram um pouco de lado a aquisição de bens materiais. 

“Esse desempenho mais fraco também tem um pouco a ver com o perfil de gastos do consumidor americano neste ano. Os americanos compraram menos produtos e gastaram mais em experiências. Gastos em bares, cinemas, restaurantes e hotéis elevaram. Foi uma tendência muito clara de maiores gastos com experiências e menores gastos com bens”, pontuou o analista. 

Amazon x aperto monetário do Fed 

O Fed (banco central norte-americano) tem sinalizado que realizará novos aumentos de juros para conter a inflação no país. De acordo com os especialistas consultados pelo BP Money, esse é um dos principais fatores externos à Amazon que impactam diretamente a empresa. 

“A gente teve desde o início do ano o recrudescimento da inflação, a percepção de que o Fed estava muito “behind the curve” em relação aos juros e que teria que fazer o “catch up” disso, ou seja, teria que correr atrás para elevar juros e, consequentemente, controlar a inflação. Isso vem acontecendo. Houve uma mudança bastante forte na postura do Fed, em termos de retórica e em termos de ação frente aos juros”, disse William Castro Alves, chief strategist da Avenue. 

O Ceo da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, destacou que as principais empresas da Nasdaq (bolsa de valores de tecnologia dos EUA) têm sofrido bastante, perdendo cerca de US$ 2 trilhões em valor de mercado. 

“Só a Amazon corresponde a 25% dessa queda. Ela é uma dessas Bigtechs que tem sofrido bastante. Se o Fed continuar subindo juros, essas empresas vão continuar sofrendo. A inflação nos EUA ainda não foi controlada. O mercado está de olho nisso, porque à medida que o mercado sobe juros, você tem uma recessão econômica batendo a porta”, explicou Gonçalvez. 

De acordo com Alves, da Avenue, o Fed está fazendo o maior aperto monetário da história, com recompra de títulos e enxugando liquidez do mercado. O que o mercado está mais atento é em relação, segundo o especialista, a retórica firme do BC norte-americano de que os juros ainda precisam subir e a inflação ainda está alta. 

“Tudo isso, junto com a continuidade de aumento de preços commodities ainda elevados e o normal de uma desaceleração de uma economia, que vinha de um período de aceleração muito forte pós-pandêmico, gerou um certo mau humor com empresas de tecnologia, porque começou a se ver que essas companhias tenderiam a crescer menos, porque você está em uma economia que desacelera e, também, porque com juros mais alto essas empresas que dependem de capital para o seu projeto para crescer e para investir, tenderiam a sofrer mais em um cenário de juros altos”, pontuou Alves, da Avenue. 

O analista ainda explicou que isso gera uma desconfiança do mercado frente às companhias de tecnologia, como a Amazon. “A questão de como você precifica uma empresa, aqueles fluxos de caixas futuros que são trazidos ao valor presente, você aumenta a taxa de desconto e tende a diminuir o valor da ação. De forma geral, o cenário macro afetou o mercado como um todo e em especial as empresas de tecnologia”, finalizou Alves.