Na última quarta-feira (1), a notícia sobre um suposto rombo de R$ 30 bilhões nas demonstrações financeiras da Ambev (ABEV3) mexeu com as ações da companhia. A cervejaria, entretanto, negou a notícia veiculada. Além disso, mesmo que fosse verdadeiro, o suposto rombo não seria suficiente para quebrar a Ambev, nem para levá-la a recuperação judicial (RJ), segundo especialistas consultados pelo BP Money.
A participação dos acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, membros do 3G Capital (grupo de grandes investidores brasileiros que virou pauta após rombo de R$ 40 bi na Americanas), teve grande influência na queda das ações, já que o noticiário recente sobre a Americanas gerou desconfiança nos investidores sobre o trio.
Para Paulo Luives, assessor de investimentos da Valor, a situação da Ambev seria bem diferente da Americanas, caso se concretizasse o rombo, já que a companhia é maior e possui uma “saúde financeira” melhor do que a da varejista.
“Primeiro, pelo tamanho da companhia. A Ambev, hoje, tem um patrimônio líquido de R$ 90 bilhões. Os ativos que ela conseguiria converter rapidamente em caixa é de quase R$ 20 bi. A empresa tem dívida líquida negativa, ou seja, o caixa dela é maior do que a dívida bruta, então a empresa tem uma saúde financeira bem forte. Óbvio que esse rombo tributário iria impactar a empresa, mas um caso de recuperação judicial já seria um pouco mais extremo”, explicou Luives.
Luives também destacou que, em comparação a Americanas, são casos de naturezas diferentes e graus de escala de empresa diferentes.
“Eu acho que a associação em si acaba sendo um pouco difícil de fazer porque são problemas diferentes. Óbvio que são acusações de falha no balanço, de suposta fraude, mas o nível de empresa é diferente e a natureza do problema também acaba sendo diferente”, afirmou o assessor de investimentos da Valor.
O COO do Economatica e especialista em renda variável, Felipe Pontes, reiterou que, considerando os dados formalmente divulgados pela Ambev e auditados pela PwC, a companhia é muito sólida.
“O endividamento da Ambev é controlado, ela tem bom nível de capacidade de pagamento de juros da dívida e tem gerado fluxo de caixa livre acima dos R$ 10 bilhões. O risco da empresa, com os números divulgados no balanço e auditados pela PwC, não conseguir pagar suas contas é baixo – em torno dos 23%, que no geral é considerado normal”, disse Pontes.
Ambev chamou notícia sobro suposto rombo de “irresponsável e oportunista”
A Ambev comunicou ao mercado, na última quinta-feira (2), que foi acusada “indevidamente” por uma associação formada por cervejarias concorrentes (CervBrasil – Associação Brasileira da Indústria da Cerveja) de ter um suposto “rombo” em suas demonstrações financeiras.
“A acusação é falsa e acreditamos que foi promovida de forma oportunista e irresponsável”, informou a Ambev.
“Somos uma empresa brasileira que expandiu internacionalmente e hoje opera em comunidades em 18 países, com uma cultura baseada na ética e gerando impacto positivo nas comunidades onde vivemos e operamos”, completou a companhia em comunicado ao mercado.
Para Vicente Guimarães, CEO da VG Research, um rombo de R$ 30 bilhões teria o potencial de quebrar grandes empresas, como aconteceu com a Americanas. A Ambev, entretanto, possui grandes diferenças competitivas em relação à varejista e, por isso, sentiria o impacto de maneira mais sútil. Para além do tamanho da empresa, o especialista citou o setor de atuação e a rentabilidade da cervejaria como vantagens em relação à Americanas.
“Trata-se de uma empresa que domina grande parte do marketshare do segmento, atuando como um ‘quase monopólio’. O segmento de bebidas alcóolicas é sabidamente um segmento de consumo praticamente perene (com picos sazonais como no verão, feriados e no carnaval). Ou seja, a empresa não está inserida em um ambiente competitivo tão voraz quanto as Americanas”, disse Guimarães.
O CEO da VG Research finalizou destacando que a Ambev também possui marcas importantes, que tem um público cativo – o que também gera importantes vantagens competitivas.
“Em consequência disso, os indicadores de rentabilidade e de lucratividade da empresa são muito maiores. Inclusive a empresa distribui dividendos com consistência há vários anos. Quebrar a Ambev é um grande exercício de incompetência. Entretanto, todos esses dados de lucratividade e rentabilidade que destaquei, obviamente, baseiam-se nas informações prestadas pela empresa e estou assumindo que as informações estão corretas”, finalizou Guimarães.