Ativos descontados

América Latina: valuations atrativas abrem janela para aportes

Os principais índices acionários da América Latina tem acumulado valorização desde o início deste ano; analistas indicam continuidade do momento positivo

América Latina / Foto: CanvaPro
América Latina / Foto: CanvaPro

Os mercados de capitais da América Latina tem potencial para atrair mais investimentos e abrir novas janelas para os negócios este ano. A análise dos especialistas consultados pelo BPMoney é que os preços de ativos da renda variável tornam as valuations latinos atrativas.

Uma representação dessa análise pode ser vista no desempenho dos índices dos principais mercados da América Latina este ano. Enquanto o Ibovespa acumula alta de 6,08%, o índice argentino S&P Merval está em rota de recuperação, após uma forte queda causada pela polêmica da criptomoeda $LIBRA, divulgada pelo presidente Javier Milei. 

Já o índice mexicano S&P/BMV acumula ganhos de 9,47%, enquanto o S&P/BLV do Peru sobe 0,79%, o S&P IPSA do Chile cresce 9,13% e o índice colombiano MSCI COLCAP avança 17,24% este ano.

A avaliação de Eduardo Klautau Filho, analista sênior e sócio da Aware Investments, é que os descontos nos preços de ativos desses mercados, que atraem os investimentos, são um reflexo do cenário político instável na região.

“Além disso, a estabilização das políticas monetárias e a retomada da demanda global favorecem setores estratégicos como commodities e infraestrutura. No curto prazo, essas condições criam oportunidades interessantes para investidores em busca de ativos descontados”, disse.

No entanto, seguindo a essência de risco que representa a renda variável, o especialista indicou que a instabilidade política também surge como um dos desafios dos mercados da América Latina, junto com os altos níveis inflacionários persistentes, que dificultam a previsibilidade econômica dos países da região.

“A falta de reformas estruturais e a volatilidade regulatória dificultam investimentos de longo prazo. Sem mudanças significativas, a competitividade da região pode ser prejudicada frente a outros mercados emergentes”, acrescentou Klautau.

Como fica o Brasil contra os vizinhos da América Latina?

Depois de muitas decepções no ano passado, nesse momento a Bolsa brasileira tem perspectiva de alcançar novamente as marcas recordes de 130 mil pontos atingidas em meados de 2024. Quando comparado com os mercados vizinhos, o Brasil é destaque, sendo a maior economia da região.

O sócio da Aware Investments apontou também que a liquidez da Bolsa brasileira é uma das principais portas de entrada de capital estrangeiro na América Latina. 

“Apesar do cenário político conturbado, há expectativas de melhora com o avanço de agendas fiscais e econômicas. No curto prazo, isso pode gerar volatilidade, mas cria um ambiente favorável para valorização de ativos”, afirmou Eduardo Klautau.

Além disso, a robustez e diversificação dos ativos brasileiros colocam o Pais na dianteira, se diferenciando das demais economias latinas, que tem maior dependência de um único setor, conforme indicou o CFO da Inteligência Comercial, Luciano Bravo. 

“O Brasil tem uma base econômica ampla, que inclui setores de tecnologia, serviços financeiros, indústria e agronegócio. Além disso, a solidez do sistema financeiro e o elevado nível de reservas internacionais oferecem um grau de resiliência em momentos de volatilidade”, comentou.

Mas as fraquezas ainda se encontram em outros pontos como as questões fiscais e o ritmo das reformas estruturais, que abalam a confiança dos investidores. No ano passado, o mercado financeiro acreditava que o governo federal não conseguiria cumprir a meta de zerar o déficit primário, o que causou perdas severas ao Ibovespa. 

“O país tem atraído atenção pela agenda de descarbonização e transição energética, com oportunidades em energias renováveis e infraestrutura sustentável”, prosseguiu Luciano Bravo.

Influência de Trump 

Desde que tomou posse como presidente dos EUA em janeiro, Donald Trump já anunciou tarifas de importação para alguns países e intensificou sua política de deportação de imigrantes ilegais dos EUA, fatores que mexeram com as relações políticas e comerciais entre o país norte-americano e as nações da América Latina. 

No entanto, as manobras do republicano têm sido mais brandas do que o esperado durante o período de campanha eleitoral no ano passado. Um exemplo disso foi a pausa de 1 mês decretada sobre as tarifas comerciais ao México, após uma reunião realizada entre Trump e a presidente do país, Claudia Sheinbaum. 

Apesar disso, a política protecionista, uma marca do governo trompista, ainda acende um alerta para os investidores quando se tratam dos mercados da América Latina. 

“Além disso, Trump já demonstrou uma postura mais dura em relação a governos de esquerda na região, o que pode afetar investimentos e acordos bilaterais com países como Argentina, Chile e Colômbia”, reforçou Bravo.

Em outra linha, o fato de alguns dos países latinos de maior relevância – no caso, Brasil, Chile e Colômbia – serem governados por políticos de esquerda pode levar os EUA a adotarem uma postura mais dura com possíveis investimentos e acordos comerciais, segundo o especialista.

“O impacto real dependerá das políticas adotadas e da capacidade dos países da região de manterem estabilidade macroeconômica e previsibilidade para os investidores”, afirmou.

Porém, até o momento, as investidas do republicano, sobretudo no setor de commodities, ainda não fez preço significativo nos mercados latinos.

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile