Mercado

Americanas (AMER3): analistas antecipam desafios e impactos no mercado com resultados 

A leitura de analistas ouvidos pelo BP Money, é que, sem surpresas, não serão bons

Quase um ano após o tombo da Americanas (AMER3), com a revelação da existência de um rombo contábil multibilionário, posteriormente confirmado como esquema de fraude. A varejista divulga na próxima quinta-feira (16), o balanço referente ao ano de 2022.

A leitura de analistas ouvidos pelo BP Money,  Mozar Carvalho, fundador do escritório Machado de Carvalho Advocacia e Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos, economista especialista em reestruturação e recuperação de empresas, é que, sem surpresas, não serão bons.

“Dada a complexidade do contexto em que a Americanas se encontra, os resultados financeiros de 2022 são aguardados com apreensão. A revelação das inconsistências contábeis, aliada ao cenário macroeconômico desafiador, provavelmente se refletirá em um balanço menos otimista”, destaca Carvalho. 

Contudo, Carvalho ressalta que, a maneira como a Americanas endereçará essas questões e as estratégias que apresentará para o futuro podem ser tão ou mais importantes do que os números em si.

Duek, por sua vez, ressalta que, os resultados da varejista estão sendo arrumados, “tirando aquela maquiagem”, no entanto, o mercado já já espera e já está precificado na ação um resultado muito negativo. “Este balanço será uma limpeza de uma possível fraude, então a expectativa é muito ruim. Mas tudo que foi feito com realocações que eles faziam, já dá para ter uma ideia de o “quanto ruim”mais ou menos será”. 

Cenário de 2022

Carvalho destaca que, em geral, 2022 foi um ano de volatilidade para a economia brasileira. Fatores como a flutuação da taxa de juros, oscilações na taxa de câmbio e incertezas políticas, mudança geral na direção da equipe econômica, impactaram diretamente a performance de empresas de varejo como a Americanas. “A saúde financeira da varejista não pode ser avaliada sem considerar esses elementos externos, pois eles influenciam tanto as operações internas quanto a percepção do consumidor”, .destaca Carvalho.

“Portanto, há de se esperar um resultado tímido, se comparado àqueles que a Americanas vinha oferecendo antes dos eventos que resultaram em seu pedido de Recuperação Judicial”, completou. 

Impacto do balanço de Americanas

De maneira geral, Carvalho explica que, a divulgação de resultados negativos de uma varejista pode precipitar uma queda no preço das ações devido à reação imediata do mercado. “Essa situação também pode corroer a confiança de investidores e acionistas, questionando a competência da gestão”, explica.

Além disso, Carvalho ressalta que a imagem da Americanas pode ser comprometida, afetando relações com fornecedores e a percepção dos clientes. “Isso pode levar a restrições mais severas de financiamento e forçar a empresa a reavaliar e adaptar suas estratégias, incluindo potenciais cortes de custos”, continua.

Como a varejista encarou os desafios

Nessa linha, Duek explica que, na sua avaliação, um grande problema de Americanas, que muitas varejistas do setor não tem, é a inovação. O economista exemplifica com o caso do Magazine Luiza (MGLU3), que por mais problemas que encontre no caminho, existe um centro de inovação. 

“A Americanas não tem, na minha visão,  é uma empresa que parou no tempo”, ressalta Duek. “Além disso, no modelo online ela não deixa de ser um queimador de preço, não é um modelo onde ela dá dinheiro ou ganha dinheiro, nos últimos 12 anos o e-commerce dava um prejuízo muito grande para a varejista. Portanto, ela queimava gasolina no modelo online, algo pouco inovador”, acrescenta o economista.. 

Por outro lado, Carvalho afirma que, em 2022, a Americanas navegou por um mercado varejista online altamente competitivo e por transformações significativas no comportamento do consumidor. 

A empresa capitalizou sua profunda expertise em e-commerce, especialmente quando o cenário de fechamento das lojas físicas se intensificou”, diz Carvalho, por outro lado.

“No entanto, a volatilidade econômica, refletida na elevação dos juros, desencadeou uma inflexão negativa no desempenho das ações, apesar do crescimento observado nas transações online”, explica. 

Ainda segundo Carvalho, embora a Americanas tenha capitalizado sobre seus pontos fortes, ainda enfrentou obstáculos significativos em um ambiente de mercado que ainda apresenta volatilidade em evolução.

Perspectivas para os resultados de 2023

Para Duek, a principal expectativa para os próximos meses da companhia é que ela chegue em acordo com os credores para conseguir ter o aporte dos acionistas. Além disso, tendo em vista que a varejista já fechou “os piores pontos”, após entrar em RJ,”então digamos que ela está com o “fillet mignon”, com bons pontos, funcionários que eram os melhores”, afirma. 

“Portanto, os resultados tendem a ser melhores por conta desse movimento de reestruturação da companhia, ainda vale destacar que, estamos entrando na época do natal que são meses bons para as vareistas”, diz o economista.

Nesse contexto, Carvalho ressalta que Americanas enfrenta um cenário bifurcado neste ano. “Entendo que se conseguir solucionar as pendências contábeis e restabelecer a transparência em suas operações, há potencial para recuperar a confiança dos investidores, fundamental para seu crescimento e estabilidade”, explica Carvalho.

No entanto, vale lembrar que o contexto macroeconômico, marcado por juros elevados, pode pressionar suas margens e capacidade de financiamento, recorda Carvalho. “E com contínuo crescimento e competitividade do setor de e-commerce impõem desafios, exigindo inovação e adaptabilidade da empresa para se destacar em um mercado cada vez mais saturado”, finaliza.

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