A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Americanas (AMER3), na Câmara dos Deputados, começou a ouvir nesta terça-feira (22) o depoimento do ex-CEO da empresa Sergio Rial, que revelou a fraude contábil da empresa. Ele relatou a surpresa que teve ao saber do rombo bilionário na companhia.
“No dia 4 de janeiro, dois diretores (Timoteo Barros e Ana Saicali) vieram pra mim, havia um desconforto em explicar o que tinha acontecido. Achava que fosse dívida bancária. Foi quando os diretores me disseram que a dívida não foi reportada. A empresa tinha um patrimônio de R$ 16 bilhões e uma dívida de R$ 36 bilhões. Foi um soco no estômago. Informei os departamentos necessários e comecei as diligências”, disse.
De acordo com Rial, o acionista Beto Sicupira estava na sala de reunião no momento da revelação. O acionista foi quem convidou Sérgio Rial para ser CEO da Americanas. O executivo disse que ele ficou com o ônus de ter que revelar o problema ao país.
“Depois de meses, tudo ficou mais claro. A dívida bancária era um pedaço de algo maior, que será comprovado pelas autoridades. Ficou comigo o ônus de reportar algo dessa magnitude de uma empresa de 90 anos”, afirmou Rial.
Rial foi CEO da companhia por nove dias e decidiu renunciar no dia 11 de janeiro. Na época, disse que a empresa tinha “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços de 2022 e de anos anteriores. Após isso, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial e passou a ser alvo da Justiça.
Na CPI, Rial justificou que fez as revelações em uma conversa no BTG, limitada a um público fechado, porque ainda procurava uma solução junto com investidores e se distanciou quando viu que a empresa pediu recuperação judicial.
“A conversa do dia 12 foi aberta, aconteceu no BTG porque ele tinha uma estrutura melhor. Eu não queria ver a implosão da empresa, queria que os bancos e os acionistas de referência encontrassem uma solução, mesmo eu não ficando na empresa. Dado o estado de choque do mercado, eu percebi (que não haveria solução) e me afasto”, disse.
Sergio Rial foi presidente do Santander (SANB11) durante o ano de 2019, época em que o banco autorizou operações de risco sacado com a Americanas. O deputado Tarcísio Mota (PSOL-RJ) ressaltou essa relação entre as companhias e questionou se houve possível conluio entre ambas, com intermédio dele. “Não tinha conhecimento sobre os créditos dados, não tive acesso”, negou Rial.
O ex-CEO que denunciou a situação financeira real da empresa acredita que o aumento explosivo dos negócios online da Americanas foi mal administrado e levou aos prejuízos.
“A empresa transacionava R$170 milhões de produtos online, com muita logística. O online acabou asfixiando as lojas físicas, que eram rentáveis”.
Com informações do jornal “O Globo”.
MPF negocia delação premiada de ex-executivos
O procurador José Maria de Castro Panoeiro, do Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro, afirmou, nesta terça-feira (15), que o MPF negocia um acordo de delação premiada com ex-integrantes da cúpula das Americanas (AMER3). A informação foi dada durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Câmara dos Deputados, que apura a fraude contábil de R$ 20 bilhões da varejista.
Panoeiro não informou quem são os ex-executivos da companhia que podem participar do acordo. Disse ainda que “não tem notícia” de uma eventual homologação por parte da Justiça. Afirmou, contudo, que a proposta foi feita pelos próprios ex-funcionários da empresa. As informações são do portal Metrópoles, parceiro do BP Money.
O integrante do MPF acrescentou que estão sendo analisadas eventuais semelhanças entre o caso da Americanas, no Brasil, e um acordo firmado, nos Estados Unidos, pela gigante de alimentos Kraft Heinz e a 3G Capital – a gestora fundada por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. O trio também compõe o grupo de acionistas de referência da varejista brasileira.
A Kraft e o 3G concordaram em fechar um acordo de US$ 450 milhões para encerrar uma ação coletiva, em curso no tribunal do estado de Illinois. O processo acusava a empresa e a 3G, sua acionista de referência, de terem divulgado ao mercado informações que não correspondiam à real situação financeira da companhia.
De acordo com o procurador, os supostos crimes investigados no caso da Americanas incluem associação criminosa, falsidade ideológica, manipulação de mercado e insider trading. Panoeiro observou que as investigações estão num “momento incipiente”.