Com apenas nove dias no comando da Americanas (AMER3), Sergio Rial deixou o cargo de CEO, após encontrar R$ 20 bilhões de “inconsistência contábil” no balanço. As ações da companhia caíram mais de 75% e entraram em leilão logo no início do pregão desta quinta-feira (12). Para especialistas, entretanto, a chance de falência da Americanas é (quase) nula.
De acordo com Caue Mancanares, CEO da Investo, é muito improvável que a empresa quebre, já que ainda não se sabe o tamanho do impacto dessa inconsistência no caixa da empresa.
“Direto ao ponto, a chance de quebrar é quase nula. É muito improvável que isso aconteça. Não temos muita informação sobre a natureza dessa inconsistência, o tamanho disso, mas a gente tem menos informação ainda sobre o impacto dessa inconsistência no caixa da empresa”, disse Mancanares.
“É, sim, uma contabilização super-relevante, porque ela é maior do que o patrimônio da empresa, maior do que a capitalização de mercado, mas é muito improvável que isso leve a empresa a falir, a quebrar do dia para noite”, complementou o especialista.
Mancanares destacou que, apesar da chance da empresa quebrar ser muito baixa, a chance dela recuperar o seu valor de mercado também é pequena. O especialista destacou que o valor de mercado da Americanas, quando essa situação se estabilizar, e os reais impactos da inconsistência contábil aparecerem, provavelmente será uma fração do que era até a última quarta-feira (11).
“O investidor vai ver uma desvalorização muito grande no seu patrimônio, por isso é importante você diversificar, para não ficar exposto só a um risco de uma ação individual”, alertou Mancanares.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus, explicou que é difícil estimar qual o real impacto do acontecimento na empresa. No curtíssimo prazo, é estimado, até pelo ex-CEO da Americanas, que a companhia tenha liquidez para seguir, mas em um prazo mais estendido a empresa precisaria, sim, de uma capitalização, segundo Ferrer, em torno de R$ 10 bilhões ou R$ 12 bilhões para fazer frente a toda a despesa financeira que ela que ela vai ter.
Ferrer destacou que se essa capitalização não ocorrer, a Americanas pode, sim, quebrar.
“Se essa capitalização não acontecer, ela pode quebrar, mas como ela tem acionista de referência muito importante, relevante, e que tem acompanhado o desenvolvimento da companhia, tudo leva a crer que esse acionista de referência, que é o 3G [Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira] não deixaria a empresa quebrar”, disse Ferrer.
O analista da Empiricus ainda salientou que os R$ 20 bilhões constam no balanço, mas em linhas erradas. “Até onde se sabe, a companhia não reportava valores de dívida bancária na parte financeira do balanço”, disse Ferrer.
Segundo os analistas consultados pelo BP Money, pode ser que outras varejistas passem a dar mais atenção para esse tipo de ocorrência, já que empresas de crescimento, com faturamento alto e margens baixas, podem ser levadas a ter uma ideia de contabilidade criativa para que flua o seu balanço (como pode ter ocorrido com a Americanas).
Segundo Ferrer, a Americanas começou a remanejar o seu balanço com o desejo de crescer no online e, com isso, teve que financiar fornecedores.
Para o analista da Nord, Victor Bueno, ainda é muito cedo para afirmar que a empresa vai entrar em falência.
“A falência é o último passo para o fechamento de uma empresa, então a gente precisa aguardar sinalizações mais concretas do que de fato aconteceu desde quando isso vem acontecendo, se é realmente um rombo de R$ 20 bilhões ou se é maior”, pontuou Bueno.
Como o valor de R$ 20 bi poderia ter impacto mínimo na empresa?
Se por um lado, os R$ 20 bilhões de rombo encontrados no balanço da Americanas poderia quebrar a empresa, por outro poderia não ter um impacto tão grande (guardada as devidas proporções).
O CEO da Investo, Caue Mancanares, explica como seria possível um menor impacto dos R$ 20 bilhões na companhia.
“Por exemplo, eles identificam R$ 20 bilhões além do que estava contabilizado em uma conta com fornecedores. Isso não necessariamente se traduz em caixa que a empresa tenha que desembolsar. A empresa pode sentar com o fornecedor e renegociar dívidas que você tenha com ele, além de prazos de pagamento”, disse Mancanares.
O especialista explicou que o impacto poderia ser diminuído, caso parte do valor tivesse envolvimento de pagamento a fornecedores. “Às vezes é possível sentar e renegociar preços, prazos de pagamento, dívidas, inclusive validar se o impacto desses 20 bilhões talvez tem coisas que não são devidas ou entrou como parte de outra renegociação”, pontuou o especialista da Investo.