Efeito cascata?

Americanas (AMER3): rombo gerou desconfiança generalizada

Executivos foram acusados de atuarem em esquema de manipulação dos balanços para ocultar a situação financeira da varejista

Americanas
Foto: Divulgação

Maior fraude financeira da história brasileira. É assim que o caso Americanas (AMER3) tem sido identificado pela imprensa e nomes ligados ao mercado financeiro.

Um rombo bilionário de uma das maiores e mais tradicionais varejistas do Brasil não poderia acontecer sem respingar nos pares do setor. Analistas têm chamado atenção para um “efeito cascata”.

Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, ex-CEO das Lojas Americanas, junto com a ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali e outros ex-executivos foram acusados de atuarem em esquema de manipulação dos balanços para ocultar a situação financeira da varejista.

O resultado foi um rombo de aproximadamente R$ 20 bilhões, enquanto a dívida total da empresa em recuperação judicial é de R$ 40 bilhões.

Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, a  revelação da fraude causou um efeito cascata no mercado, com outras grandes empresas pedindo recuperação judicial devido à saturação do crédito. 

“Embora os mercados de crédito, fundos e bancos soubessem da grande alavancagem da empresa, duas coisas eram inimagináveis: a possibilidade de fraude nos balanços, que eram auditados, e a falta de intervenção imediata dos sócios, que eram as pessoas mais ricas do país, para cobrir déficits e evitar a recuperação judicial com grande deságio e parcelamento”, disse Eyng ao BP Money.

Para o executivo, toda essa situação resultou em uma desconfiança generalizada no mercado durante o primeiro semestre de 2023, especialmente em relação à credibilidade dos balanços auditados e à expectativa de que os sócios assumiriam os pagamentos. 

“Isso não aconteceu. Houve muitas críticas posteriormente, mas a verdade é que todos que concederam crédito e investiram mais do que deveriam na Americanas, o fizeram confiando na reputação do grupo 3G Capital, conhecido por sua credibilidade e meritocracia, que acabou decepcionando todo o mercado de crédito brasileiro”, destacou Volnei.

O economista Bruno Corano, investidor da Corano Capital, não acredita no “efeito cascata”, já que, segundo ele, o setor já era muito alavancado e com um grande nível de endividamento.

Além disso, Corano pontuou que a combinação de juros elevados, inflação e outras consequência dos últimos anos já vinham pressionando as varejistas.

O impacto do rombo da Americanas (AMER3) no setor de varejo diz respeito à preferência dos investidores, garantiu Bruno.

“Então, as ações [do varejo têm sido menos procuradas, as debêntures têm precisado fazer ofertas mais rentáveis para serem vendidas e os próprios bancos têm desejado não aumentar o nível de concessão de empréstimo que fazem para esse segmento, dada toda essa fragilidade”, afirmou o economista.

Caso Americanas (AMER3) não é o único: veja empresas brasileiras que revelaram rombos

A CVC Brasil (CVCB3) encontrou R$ 362,384 milhões em erros e distorções contábeis em suas demonstrações financeiras. O número foi divulgado em agosto de 2020, junto com a reapresentação dos resultados de 2019.

A situação se arrastou por meses. Um ano depois, quatro membros do Conselho de Administração renunciaram – entre eles, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank (ROXO34).

Uma análise da Squadra Investimentos feita no final de 2019 apontou para supostos erros contábeis em balanços trimestrais do IRB Brasil (IRBR3).

Segundo a gestora, a empresa acumulou prejuízo de R$ 112 milhões nos primeiros nove meses de 2019. Mas o IRB divulgou lucro de R$ 1,39 bilhão no mesmo período.

A empresa também foi acusada de divulgar mentiras a respeito de um investimento do bilionário Warren Buffett – que, na verdade, nunca existiu.

Toda a crise fez a IRB perder, ao menos, R$ 24 milhões em valor de mercado à época, além da renúncia do então presidente, José Carlos Cardoso, e do diretor financeiro, Fernando Passos.

Já no caso do Grupo Itapemirim, o longo processo de recuperação judicial – iniciado em 2016 – levou à falência da empresa em 2022. As dívidas tributárias somam cerca de R$ 2,8 bilhões.

Credores acusavam o grupo de desviar dinheiro para financiar a ITA, companhia aérea que começou a operar em junho de 2021.

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile