A expectativa do resultado da Braskem (BRKM5) no quarto trimestre de 2022 não é das melhores entre analistas ouvidos pelo BP Money. A previsão dos especialistas é de que o anúncio desta quarta-feira (8), previsto para depois do fechamento da bolsa, seja tão fraco quanto o do terceiro trimestre, quando a companhia teve prejuízo de R$ 1,1 bilhão.
O sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, Idean Alves, usou uma justificativa da empresa para embasar sua análise. A Braskem informou recentemente que a queda “na demanda de polipropileno (PP) e PVC, como consequência do menor consumo de bens duráveis e materiais de construção civil impactados pelo aumento da taxa de juros para o controle da inflação no Brasil”.
“Devemos ter mais um trimestre fraco para a empresa que anda patinando nos últimos meses por conta da queda na demanda, e passa por um processo de venda, a qual tinha como grande interessado o fundo americano Apollo Global, que teve os planos barrados pelo governo atual que acredita que a petroquímica não deve estar “nas mãos do capital estrangeiro”, argumentou.
Já André Fernandes, da Head de Renda Variável e sócio da A7 Capital, acrescenta que o mercado ainda está cético com os números que serão apresentados hoje e coloca a China também como indutor do desempenho abaixo do esperado.
“A retomada de demanda por parte da China está em um ritmo mais lento que o esperado. O anúncio de uma meta de crescimento menor na economia chinesa, deve também ter um impacto negativo nos resultados da empresa”, indicou.
Nesta terça (7), as ações da Braskem recuaram -1,21%, cotadas a R$ 20,43.
Mudanças na Petrobras podem impactar ações da Braskem
Outro fator que pode prejudicar o desempenho da Braskem é a mudança de gestão da Petrobras (PETR4). “A conta vai chegar para Petrobrás, Braskem, e demais empresas do setor. Não existe “fórmula mágica”, no final a conta tem que fechar, e alguém tem que pagar por ela, que normalmente são os consumidores, e a as empresas envolvidas por conta da perda de margem operacional”, avaliou Idean.
As indicações de alterações no preço de paridade de importação (PPI) e outras medidas que podem ser adotadas para reduzir o preço do combustível pode afetar as demais empresas do setor.
“Toda interferência política na Petrobrás em relação a isso acaba impactando a Braskem também, pois a Petrobrás é um acionista relevante na Braskem, e pode pressionar a empresa em relação a sua cadeia de produtos, visto que o governo acredita que a Braskem é um ativo sensível para a economia, e faz parte de um setor estratégico para o governo”, opinou Fernandes.
Venda emperrada
A venda da Braskem se arrasta já há algum tempo e não dá sinais de que vá acabar por agora. Para os especialistas, uma intervenção do governo pode estar atrapalhando as negociações.
“O processo de venda perdeu o fundo americano Apollo Global como grande interessado, por conta da interferência governamental, e hoje conta como melhor proposta a da JeF, dona da JBS, e que tem um interesse antigo na empresa. Ao que tudo indica as conversas vão continuar a até que se chegue a um denominador comum, e ao que a Novonor indicou, a proposta tem que ser maior para que ela aceite fazer a venda do controle, sem isso, dificilmente terá negociação com final feliz”, disse o analista da Ação Brasil.
“A Braskem está sempre avaliando propostas, mas já há conversas no mercado de que o governo, por meio da sua participação via Petrobrás na empresa, deve barrar a venda da empresa, por considerar um ativo estratégico para o país. Com os resultados fracos, e essas dificuldades sendo criadas para barrar a venda da empresa, a cotação das ações da Braskem já caíram -14% no ano de 2023, e já vem de uma queda acentuada em 2022 (-58,77%) devido ao cenário adverso em relação aos seus resultados no ano de 2022”, pontuou o analista da Head de Renda Variável e sócio da A7 Capital.
Negativa de proposta da J&F pode valorizar ações da Braskem
Os especialistas ouvidos pelo BP Money acreditam que a recente negativa da Braskem em vender a maior parte de suas ações para a J&F (JBSS3) possa fazer suas ações se valorizarem na bolsa de valores.
De acordo com a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, a dona da JBS realizou uma proposta indicativa no mês passado, não vinculante, de R$ 9 bilhões (R$ 30 por ação) pelos 50,1% que a Odebrecht detém na Braskem. No entanto, a oferta foi recusada.
Desde o ano passado que a holding de investimentos da família Batista avalia fazer nova proposta para adquirir 100% da Braskem. A dona da JBS, em conjunto com o BTG (BPAC11), estava disposta a comprar a dívida dos bancos credores, que hoje soma cerca de R$ 15 bilhões, mas pediram pesados descontos.
Para Fernandes, qualquer notícia sobre alguma oferta para comprar a Braskem vai impactar positivamente nas ações da empresa. “Não pelo veto, mas qualquer oferta de compra que algum player possa fazer pela fatia da Novonor, deve provocar altas nas ações da Braskem”, avaliou.
Idean acredita que “no curto prazo” as ações tendem a se fortalecer. “É a continuação da novela que se transformou o processo de venda da Braskem, com muitos interessados, e ainda nenhum negócio fechado. A negativa da Novonor em vender a sua fatia com um grande “desconto”, e os credores atuais da Braskem que não aceitaram a renegociação das dívidas para que a venda fosse concluída emperraram a negociação de uma novela que promete novos capítulos”, finalizou.