Ata do Copom: analistas veem BC comprometido e corajoso

Segundo analistas consultados pelo BP Money, a ata do Copom teve um tom duro

Em meio a um cenário de pressão promovido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros, o Banco Central divulgou nesta terça-feira (28) a ata da sua última reunião – encerrada em 22 de março e que decidiu pela manutenção da taxa Selic em 13,75%. De acordo com analistas consultados pelo BP Money, o documento teve um tom duro e mostrou que a instituição monetária não irá hesitar em subir os juros caso a inflação não cesse.

“A ata do Copom manteve o tom hawkish [focado em subir juros] do comunicado emitido após a reunião, sem acenos para ceder às pressões do governo para redução da Selic. O recado segue o mesmo, sem convergência às metas e consolidação do processo de desinflação, não haveria indicação de corte da Selic”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Na ata, o Copom ainda disse que a apresentação do novo arcabouço pelo presidente Lula pode auxiliar a diminuir a inflação de forma indireta. Na visão de Nishimura, a preocupação do BC com a parte fiscal foi muito clara, pois uma nova regra fiscal ajudaria o órgão a cumprir as metas de inflação e traria menos  incerteza ao mercado financeiro.

“A preocupação com o fiscal segue como um vetor bem claro, com a necessidade de uma nova regra fiscal “sólida e crível”, que seria “benigna” para a redução das expectativas de inflação, da incerteza na economia e do prêmio de risco. O início do ciclo de cortes parece mais factível para o segundo semestre, quando o arcabouço fiscal já deve estar definido e o processo de desinflação consolidado”, explicou o economista.

André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, partilha da mesma opinião de Nishimura, acreditando que a apresentação de um arcabouço fiscal sólido possa criar um momento propício para o Banco Central começar a cortar a taxa Selic.

“Na minha visão, caso o arcabouço agrade o mercado quando for divulgado, tomando como histórico do nosso presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que no passado aguardou a votação da reforma da previdência para começar a cortar a Selic em 2019, podemos aguardar um movimento parecido para a próxima reunião do Copom caso o arcabouço seja divulgado a tempo”, afirmou.

A ata do BC é má notícia para Lula

Desde que assumiu a presidência, o presidente Lula tem dado diversas declarações contra o BC e contra seu presidente, Roberto Campos Neto. Na semana passada, um dia após o banco manter a taxa de juros em 13,75%, o petista voltou a criticar o órgão.

“Eu digo todo o dia: não tem explicação para nenhum ser humano do planeta Terra a taxa de juro no Brasil estar a 13,75%. Não existe explicação”, disse Lula, em visita a um complexo da Marinha no Rio de Janeiro.

Apesar das pressões vindas do governo federal a respeito do atual patamar da Selic, os analistas entrevistados pelo BP Money acreditam que a ata do Copom divulgada nesta terça-feira deixou claro que o Banco Central continuará exercendo o seu objetivo de combater a inflação.

“Está claro que o BC não irá ceder às pressões governamentais. Ele já mostrou isso no último resultado e reforçou a sua postura de independência nesta ata. O BC se tornou independente em 2021 e mostrou a sua credibilidade institucional ao fazer o maior aumento de juros em ano eleitoral já visto no Brasil. Conhecendo a história do Roberto Campos Neto, parece pouco provável que ele ceda a pressões políticas, sendo guiado assim como o seu colegiado por indicadores técnicos na tomada de decisão”, contou Luan Alves, analista da VG Research.

Segundo Ricardo Julio Rodil, líder de Capital Markets da Crowe Macro Auditores e Consultores, as pressões do governo federal não estão sendo levadas a sério pelo Banco Central, visto que as críticas de Lula não possuem cunho técnico e são feitas no sentido dele tentar cumprir suas promessas de campanha.

“O Copom é um colegiado de orientação técnica, que tem como missão a manutenção do poder de compra da moeda de curso legal no País.  Para tanto, está ancorado na independência do BC. Estamos cansados de saber que as pressões políticas do presidente vão na direção da satisfação de promessas de campanha que, no atual marasmo deste início de governo, parecem muito difíceis de serem cumpridas”, disse.

“Precisa-se de um inimigo e veio a calhar um presidente do BC, que leva a sério seu papel de guardião do poder de compra do dinheiro. Minha impressão pessoal é de que o Copom não vai ceder às pressões do Planalto, pois este Comitê tem os resguardos legais e regulamentares para tanto”, completou Rodil.

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