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Ata do Copom reafirma ritmo de cortes, mas alerta para risco fiscal

O documento ressaltou que o descumprimento das metas fiscais pode resultar em uma necessidade de aumentar a taxa de juros para manter a inflação sob controle

O Comitê de Política Monetária (Copom) reafirmou sua intenção de continuar reduzindo a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. No entanto, a ata da última reunião, realizada na semana passada, trouxe um aviso importante.

O documento ressaltou que o descumprimento das metas fiscais pode resultar em uma necessidade de aumentar a taxa de juros para manter a inflação sob controle. 

Em termos mais técnicos, a taxa neutra, que é aquela que não estimula nem desestimula a economia, poderia ser elevada. Portanto, embora os cortes de juros estejam mantidos por enquanto, existe a possibilidade de que sejam reduzidos ou até interrompidos antes do planejado, caso o governo não consiga cumprir suas obrigações fiscais.

Na ata, o comitê observou que “no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”. 

Metas fiscais

Há pouco mais de uma semana, o presidente Lula declarou que o Brasil não necessariamente precisa atingir as metas fiscais. Essa declaração teve um impacto imediato e negativo nos mercados, resultando em um aumento do prêmio de risco dos títulos públicos e em uma queda nos ativos da bolsa. 

Desde então, o governo tem tentado suavizar essa situação e chegou a afirmar que não pretende propor alterações nas metas fiscais estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que está em processo de votação no Congresso.

“As expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação. O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”, pontua em outro trecho.

Inflação e cenário doméstico

No que diz respeito à inflação e ao cenário doméstico, a ata do Copom destaca que os indicadores mais recentes estão em conformidade com as expectativas, o que justifica a manutenção das reduções da taxa básica de juros, conforme já havia sido previamente comunicado em reuniões anteriores. 

O comitê enfatiza que avaliou diversas variáveis, especialmente considerando a incerteza no cenário internacional, que poderiam influenciar o processo de desaceleração da inflação no Brasil.

“Em um contexto geopolítico incerto, com um mercado de trabalho aquecido e um hiato do produto apertado nas economias avançadas, o Comitê avalia que a estratégia de aperto monetário prolongado tem sido fundamental para conter a inflação mundial, facilitando o controle inflacionário dos países emergentes. Por outro lado, o aperto monetário global pode trazer pressões sobre o câmbio e impactar o preço dos ativos domésticos, contribuindo para um processo desinflacionário interno mais lento no curto prazo”, aponta. 

Cenário global

O texto evidencia que o cenário global tem se mostrado uma das variáveis mais desafiadoras na definição da política monetária brasileira. Portanto, mesmo com os cortes na taxa de juros, o Banco Central acredita que é necessário manter uma postura contracionista. Ou seja, com taxas de juros mais elevadas, a fim de se aproximar da meta de inflação de 3% ao ano, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

“O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas”, diz a ata. 

O Copom apresenta projeções de inflação de 4,7% para 2023, 3,6% para 2024 e 3,2% para 2025.

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