Em meio a um cenário de inflação, crise bancária e corte de produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o Fed (Federal Reserve, o BC norte-americano) divulgou nesta quarta-feira (29) a ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês). De acordo com analistas consultados pelo BP Money, o documento veio em linha com o esperado e mostrou que a instituição monetária não irá hesitar em subir os juros para arrefecer a inflação.
“A ata do Fed veio em linha com o esperado. Nela, o comitê afirma que o Fed continua preocupado com a inflação e, por isso, sinalizou que novas altas devem ser necessárias para que a inflação venha a convergir para a meta de forma saudável, e com pouso suave. Por conta disso, seus dirigentes entendem que é importante manter o patamar de juros atual por mais tempo e, se necessário, aumentar provavelmente os juros em mais 0,25 ponto percentual”, disse Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
Elber Laranja, sócio-fundador da fintech Antecipa Fácil, partilha da mesma visão de Alves, acreditando que o tom do documento do Fed tenha sido moderado. O analista ressalta que a ata do FOMC mostrou um BC cauteloso e observador, que busca atingir a meta de inflação.
“Eu diria que o tom da ata do FOMC foi moderado, revelando que o Fed quer observar com cuidado os próximos movimentos econômicos. Se por um lado a inflação divulgada nesta quarta-feira representou uma queda, os EUA ainda estão muito longe ainda do centro da meta da inflação, que é de 2%”, afirmou.
De acordo com o advogado Cesar Beck, a ata do FOMC revelou um Federal Reserve mais preocupado com a saúde do sistema financeiro norte-americano e disposto a promover mais aumentos na taxa básica de juros. Por conta disso, o tom do documento pode decepcionar o mercado global.
“O documento do FOMC veio com um tom mais preocupante com a saúde do sistema financeiro americano. Assim, observa-se um tom mais duro a partir do momento em que foi declarada a possibilidade do aumento de juros. É natural que o mercado receba a ata do Fed de forma negativa: diversos setores da economia americana já estão em retração econômica e é provável que várias empresas sintam o impacto ao longo de 2023”, declarou Beck.
Corte da Opep pode ser debatido na próxima reunião do Fed
Em 2 de abril, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) anunciou um corte de mais de 1 milhão de barris de petróleo por dia, correspondendo a 3% da produção mundial. A notícia surpreendeu os investidores e afetou negativamente os mercados globais por conta da possibilidade desse corte afetar a cadeia produtiva global e fortalecer a inflação.
Na visão de Licio da Costa Raimundo, professor de economia na Facamp, é provável que esse corte da OPEP seja debatido na próxima reunião do Fed, marcada para o início de maio. O analista explica que o petróleo, por ser um insumo com grande influência na cadeia produtiva, é natural que os dirigentes da instituição monetária analisem no futuro os impactos econômicos desse corte da Opep.
“Eu imagino que esse corte da Opep deva estar no radar do Federal Reserve para a próxima reunião. É preciso saber se esse aumento do barril de petróleo irá se propagar na economia e afetar os preços. É de se esperar isso, pois o petróleo é um insumo básico que tem um grande poder de penetração na cadeia produtiva de qualquer país”, explicou.
Beck ainda afirma que, como a cotação do preço do petróleo influencia o preço dos alimentos e dos combustíveis, é provável que o Fed use o corte promovido pela OPEP para justificar novos aumentos na taxa de juros norte-americana.
“Com a diminuição artificial da oferta de barris de petróleo feita pela OPEP, em termos microeconômicos, se pode esperar que os preços dos alimentos e dos combustíveis aumentem. É provável que nas próximas reuniões do FED, as consequências da redução da produção de barris de petróleo sejam citadas como uns dos parâmetros centrais para um possível e novo aumento na taxa de juros americana”, disse o advogado.
Em contrapartida, Laranja não crê que esse corte na produção de petróleo seja debatido e influencie as próximas decisões monetárias do Fed. O analista argumenta que os EUA são autossuficientes em petróleo e possuem grandes reservas do ativo, tornando-os imunes a eventuais contratempos.
“Eu acho pouco provável que a redução da produção de petróleo por parte da OPEP tenha um impacto na decisão de juros pelo Fed e não acredito que isso seja mencionado nas próximas atas do FOMC. Os EUA são praticamente autossuficientes na produção de petróleo e têm uma grande reserva da commodity, tornando-os imunes a eventuais quedas na produção internacional de petróleo”, afirmou o sócio-fundador da Antecipa Fácil.