Ataques terroristas: o que explica a reação moderada da Bolsa?

No primeiro pregão após os ataques terroristas do Distrito Federal, Ibovespa fechou em leve alta

Na tarde de domingo (08), o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal foram atacados por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). A invasão dos prédios públicos, no entanto, não intimidou a Bolsa de Valores, já que seu principal índice, o Ibovespa, fechou em leve alta de 0,15%, no primeiro pregão após ataques terroristas. Para analistas consultados pelo BP Money, a resposta dada pelos poderes e pelo Governo Federal acalmaram o mercado. 

Para Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, o risco à democracia seria maior caso as instituições demonstrassem fraqueza no combate aos invasores. “A resposta foi dada pelos poderes e isso acabou acalmando o mercado. Apesar dos riscos de todo esse cenário incerto, as autoridades se posicionaram de forma célere e correta, demonstrando a força das instituições no País”, explicou.

Marcos Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, apontou o mesmo fator. Segundo ele, o mercado financeiro está atento às tomadas de decisões políticas que diretamente influenciam a conjuntura política, já que o estado tem poder de mudanças que quase sempre impactam nos setores econômicos. “Nenhuma economia funciona em harmonia quando o cenário político está conturbado. Apesar disso, o cenário está controlado”, apontou Labarthe.

Para o diretor de alocação e distribuição da InvestSmart, André Meirelles, o motivo para a reação moderada na Bolsa é o mesmo. “Quando temos um evento que preocupa os agentes econômicos, é comum vermos os preços caindo bruscamente, o que não aconteceu. Isso se deve, principalmente, a um consenso entre as respostas, já que diversas instituições governamentais condenaram a maneira como os presentes se manifestaram”, disse. Na visão de Meirelles, as invasões não significaram uma ameaça à democracia, o que realmente preocuparia os investidores.

Logo após os ataques, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou intervenção federal em Brasília até o dia 31 de janeiro. O objetivo da intervenção é “pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado do Distrito Federal, marcada por atos de violência e invasão de prédios públicos”. 

Na noite de domingo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias. Ainda, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu, ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, a prisão em flagrante dos envolvidos em atos golpistas, inclusive do ex-Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.

Exterior ajudou performance do Ibovespa

Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, e Ricardo Carneiro, operador de renda variável na WIT Invest, apontaram que o Ibovespa refletiu, na segunda-feira, o cenário externo, e por isso teve alta durante boa parte do pregão. 

Segundo Carneiro, no entanto, era esperado uma queda nos ativos brasileiros, o que não foi percebido, em um dia de alta volatilidade do índice. Na visão da casa, o fiscal continua sendo o que mais pesa sobre os ativos. “No geral, os eventos de domingo acabaram não fazendo tanto preço”, disse o analista.

Ataques terroristas podem assustar investimento estrangeiro?

Para Labarthe, os ataques de domingo foram negativos para a imagem do Brasil no exterior. “O fato posterga decisões importantes que devem ser tomadas logo no início de uma nova gestão, tirando o foco político para os novos ministérios que estão sendo formados”, apontou o analista.

Na visão de Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, por enquanto, nada muda em relação à entrada ou saída de capital estrangeiro na Bolsa. 

“Tivemos diversas instituições afirmando, lá fora, que Brasil se torna um país arriscado para investir, com possibilidade de investidores quererem tirar dinheiro. Mas, na minha opinião, isso não vai acontecer, tanto que a Bolsa não abriu caindo na segunda. Entre três a cinco dias, vamos saber o que de fato pode acontecer”, apontou Cohen.

Para ele, apesar dos ataques terroristas do domingo terem sido grandes, também foram atos isolados. “Não representa mudança de política no Brasil”, finalizou.