Ativos de países emergentes registraram saída de cerca de US$ 17,1 bilhões em investimentos estrangeiros em março, conforme cálculo feito pelo IFF (Instituto de Finanças Internacionais). Esse é o nível mais fraco desde novembro de 2024.
A retração foi encabeçada pelos mercados de ações, que tiveram saída de US$ 12,4 bilhões, enquanto os títulos de dívida tiveram prejuízo líquido de US$ 4,8 bilhões – a primeira leitura deste tipo em nove meses.
O IIF ainda afirmou que comparado a incerteza global crescente, a mudança nos fluxos de capital demonstra deterioração frente à crescente incerteza global, em grande parte pela escalada das tarifas e da guerra comercial.
A maior parte dessa retração veio por parte da China, visto que os ativos de outros países emergentes registraram perdas “mais moderadas”.
No caso das ações chinesas, a saída registrada foi de US$ 8,9 bilhões em investimento estrangeiro em março, de acordo com o IIF. Excluindo o país asiático, as ações emergentes anotaram uma saída de US$ 3,4 bilhões.
Além disso, considerando os títulos de dívida, o mercado chinês perdeu um valor líquido de US$ 6,7 bilhões, ao passo que, do outro lado, outros emergentes tiveram saldo positivo de US$ 1,9 bilhões.
“Em nível regional, Brasil e México continuam a atrair atenção no mercado de renda fixa. Já a Ásia permanece vulnerável aos choques de políticas macroeconômicas e comerciais”, observou o IIF, segundo o “InfoMoney”.
Brasil é destino atraente de investimentos, mas perde para pares emergentes
O Brasil tem se tornado um destino atraente para alguns setores como o agronegócio, que possui forte presença global como exportador. Na perspectiva do economista Alex André, o país pode ser um foco de investimentos estrangeiros, especialmente no que diz respeito à transição energética.
Apesar das tensões geopolíticas, os investimentos diretos no país registraram um ingresso líquido de US$ 9,3 bilhões em fevereiro, segundo dados divulgados na última quarta-feira (26) pelo BC (Banco Central).
Mesmo com a entrada de capital, o país enfrenta entraves internos que precisam ser resolvidos. Entre eles, destaca-se o alinhamento da política monetária e fiscal com as expectativas dos investidores internacionais. Esse tema gera preocupação até mesmo entre investidores nacionais, que acompanham de perto a trajetória dessas políticas.
“Embora a política fiscal esteja cada vez mais expansionista, enquanto a política monetária segue restritiva, com juros elevados, acredito que entraves regulatórios estão sendo solucionados”, acrescentou o economista.
Além disso, há uma pressão do mercado interno por reformas administrativas e, principalmente, pelo cumprimento do arcabouço fiscal. Outro ponto de preocupação é a trajetória negativa do endividamento público.
Apesar das fragilidades fiscais, a política monetária conduzida pelo BC tem sido bem recebida pelos investidores internacionais. “O Banco Central brasileiro tem sido elogiado pela sua condução da política monetária, especialmente por sua atuação frente às pressões inflacionárias e às críticas de diversos setores da sociedade sobre suas decisões em relação à taxa de juros”, comentou Marcelo Tommasi, economista e sócio-líder de Corporate Finance da Crowe Macro Brasil.