Avaliam especialistas

Avanço nas medidas fiscais condiciona gatilho para rali da Bolsa

"Será muito difícil que a bolsa feche 2024 com ganhos" avalia Nissel

Foto: Canva
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Com a chegada de dezembro, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário nacional, está percorrendo seus últimos pregões de 2024. E, como de praxe, é de se esperar o rali de fim de ano. No entanto, as expectativas são contrastantes sobre a possibilidade de que o índice faça os investidores mais felizes nas últimas sessões do mês.

Se por um lado, investidores esperam algum alívio fiscal, do outro, os riscos fiscais e econômicos continuam a pesar sobre as perspectivas de desempenho.

Victor Deischl, cofundador da Runik Capital, observa que, para que o Ibovespa tenha uma performance positiva no final de 2024, será necessário um avanço significativo nas medidas fiscais. 

“Historicamente, novembro e dezembro tendem a ser positivos para a bolsa”, destaca Deischl, enfatizando que uma surpresa fiscal favorável, como uma medida de contenção de gastos, poderia impulsionar um rali. 

“Se houver alguma sinalização razoável por parte do governo, como uma melhora no quadro fiscal, podemos ver um movimento de alta no mercado”, aponta.

Deischl também observa que a possível reversão do pessimismo dos investidores locais seria crucial. O fluxo de capital estrangeiro tem sido um fator determinante nos últimos tempos, com os investidores internacionais comprando enquanto o investidor local vende. 

A continuidade desse fluxo, somada a uma postura fiscal mais equilibrada, pode ajudar a fortalecer o mercado. Entretanto, ele ressalta que um agravamento no quadro fiscal poderia levar os investidores estrangeiros a buscar alternativas em outros mercados emergentes, como México ou Argentina.

Riscos Fiscais é um obstáculo para rali

Gregório Nissel, sócio da Rubik Capital, compartilha de uma visão mais cautelosa. Para ele, a deterioração das expectativas fiscais é um dos principais obstáculos para a recuperação do Ibovespa no curto prazo. 

“Caso a política fiscal continue a gerar incertezas, podemos ver uma continuidade na alta do dólar e dos juros”, comenta Nissel. 

O especialista acredita que, apesar das quedas significativas observadas no mercado nos meses de outubro e novembro, o Ibovespa pode ter uma recuperação pontual em dezembro, caso haja alguma sinalização positiva sobre o fiscal. 

No entanto, Nissel adverte que, mesmo em um cenário de recuperação no último mês de 2024, é improvável que a bolsa feche o ano com um desempenho positivo no acumulado, com a performance sendo provavelmente inferior ao CDI.

De acordo com o executivo, a política fiscal será um fator determinante para a confiança dos investidores. 

“Sinalizações de equilíbrio fiscal, como cortes de despesas, poderiam aliviar a pressão sobre o dólar e os juros, o que ajudaria a impulsionar o mercado”, afirma. 

Para ele, uma postura fiscal mais rigorosa poderia trazer a estabilidade necessária para a confiança dos investidores, impactando positivamente a bolsa e outros ativos de risco.

Fluxo de capital estrangeiro dita o tom

Tanto Deischl quanto Nissel destacam o papel crucial do fluxo de capital estrangeiro. Deischl observa que, embora os investidores internacionais tenham se mostrado compradores recentemente, um agravamento fiscal poderia mudar esse cenário. 

“Caso o Brasil continue com um quadro fiscal instável, investidores estrangeiros podem migrar para outros mercados emergentes”, alerta.

Nissel compartilha uma visão semelhante, apontando que, embora o fluxo de capital tenha sido negativo em novembro, o diferencial de juros atrativo, com os títulos públicos prefixados acima de 14%, pode continuar a atrair o interesse dos investidores internacionais.

Desempenho do Ibovespa em 2024

No cenário atual, o rali de fim de ano no Ibovespa parece ser uma possibilidade, mas com muitas condições a serem atendidas. Como Deischl menciona, uma surpresa positiva no fiscal pode ser o gatilho necessário para uma recuperação, especialmente com o início do período de estocagem de minério na China, o que pode beneficiar empresas como a Vale.

No entanto, Nissel adverte que, mesmo que o mercado tenha uma recuperação em dezembro, isso não será suficiente para reverter as perdas acumuladas ao longo do ano.

“Será muito difícil que a bolsa feche 2024 com ganhos, e se isso acontecer, será bem abaixo do CDI”, conclui.

Embora as perspectivas para um possível rali de fim de ano existam, o desempenho do Ibovespa dependerá de um conjunto complexo de fatores fiscais e econômicos.

A cautela dos investidores será um reflexo direto do comportamento do governo em relação ao controle das contas públicas, e o fluxo de capital estrangeiro será um termômetro para medir a confiança dos mercados.