Especialistas respondem

Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) renegociam dívidas: o pior já passou?

Especialistas consultados pelo BPMoney analisaram as renegociações de dívidas de Azul e Gol com a União e disseram o que esperar das ações

Aviões da Gol e Azul
Aviões da Gol e Azul / Foto: Divulgação

O momento de recuperação das companhias aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) pode estar se aproximando, ao que ambas anunciaram recentemente acordos com a União para renegociarem parte de suas dívidas. No entanto, especialistas dizem não esperar que essa negociação implique, necessariamente, em uma melhora na performance das ações.

Juntas a Azul e Gol deviam cerca de R$ 5,8 bilhões em passivos tributários. O acordo prevê a oferta de condições mais favoráveis para que as companhias consigam pagar seus débitos.

A Gol – que enfrenta um processo de Chapter 11 nos EUA – tinha uma dívida original de aproximadamente R$ 5 bilhões. Após a negociação, o valor foi reduzido para cerca de R$ 880 milhões, que serão pagos em até 120 parcelas.

Já no caso da Azul, a dívida original era de R$ 2,9 bilhões, e o valor recuou para R$ 1,1 bilhão após a negociação, também com pagamento previsto em até 120 parcelas.

Na avaliação de Ângelo Belitardo Neto, da Hike Capital, o acordo realizado entre o governo e as companhias aéreas não deve impactar de forma relevante no comportamento das ações. 

Isto porque o volume de dívida com o setor público não é significativo quando comparado ao restante dos passivos onerosos da Azul e da Gol, segundo ele. Esses passivos incluem debêntures e outros instrumentos financeiros de dívidas com credores e arrendamentos.

“Ao longo do próximo ano a alavancagem das companhias ainda devem seguir pressionadas por conta de juros alto, dólar alto e bastante oscilação no preço dos combustíveis, que são três variáveis que impactam de forma significativa o lucro operacional dessas companhias”, disse Neto, em resposta ao BPMoney.

O head de análise da Levante, Enrico Cozzolino, afirmou que as companhias aéreas sempre viveram momentos complexos com dívidas, no Brasil e no mundo, mas que os acordos recentes são positivos.

“Acredito ser que aquele clássico jargão de ‘foto é boa, mas o filme é muito ruim’, mas um pouco ao contrário. É necessário e bom que tenham reperfilado a dívida, isso é tudo que uma empresa, no final das contas, precisa nesses aspectos da dívida, melhorar taxa, melhorar prazo, é melhorar, isentar multa, alguma coisa para dar um fôlego e esperar uma melhora”, explicou Cozzolino.

 Momento da Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) no mercado

O desempenho das empresas foi extremamente pessimista no acumulado de 2024, com a Azul tendo a maior perda do Ibovespa (-77%), enquanto fora do índice a Gol já perdeu 80,96% em 1 ano. Apesar disso, ambas começaram 2025 performando bem, com alta de 7,64% no caso da Gol e 18,59% para a Azul.

Porém, Ângelo Belitardo Neto, alertou que o momento requer atenção dos acionistas minoritários, pelo menos até que o movimento de conversão de dívidas em ações dessas empresas seja concluído. 

O mercado financeiro verá, segundo ele, a quitação de grande parte das dívidas da Azul e da Gol, pois ambas já anunciaram que vão realizar a conversão de dívidas em ações para entregar essas ações aos credores.

Ele explicou que, no caso da Gol, foi anunciada uma conversão de dívida em ação no valor de US$ 1,7 bilhão, porém, por conta do valor de mercado atual da companhia, é como se 20 novas Gols estivessem sendo criadas. O executivo da Hike Capital concluiu que isso resultará em uma forte diluição nos acionistas minoritários. 

“E o pior não está nessa diluição, mas sempre que uma companhia muito alavancada faz uma conversão de dívidas em ações os credores que recebem essas ações acabam vendendo grande parte delas para recuperar o dinheiro”, acrescentou.

O “x da questão”, de acordo com Neto, está no fato de que o volume de novas ações que serão entregues aos credores da Gol é proporcionalmente muito maior do que quanto ela vale hoje na bolsa. 

“Então quando os credores venderem essas ações, vai causar uma queda muito agressiva no valor de mercado da Gol. Então, com essa conversão de dívida em torno de R$ 10,2 bilhões, as ações da Gol podem cair ainda mais de 90% depois que finalizar essa conversão de dívidas”, projetou o especialista.

Ele finalizou afirmando ter uma projeção extremamente pessimista para o comportamento das ações da Azul e da Gol, e que o mercado pode ver uma grande destruição de valor ainda esse ano no começo desse ano de 2025. 

Ainda à espera dos dados financeiros do quarto trimestre de 2024, Cozzolino afirmou, com base nos últimos resultados do terceiro trimestre, que demonstrado através do lucro depois das amortizações, juros e depreciações, deixou as companhias aéreas em uma situação delicada.

Nesse sentido, acaba sendo necessário uma fusão de negócios entre a Azul e a Gol, como tem sido noticiado nos últimos meses, para reduzir os custos. 

“Tem sobreposição de rotas para, de fato, não precisar recorrer às falências históricas e recorrentes que vemos, principalmente, na aviação brasileira”, observou.

Cozzolino reiterou a visão de Neto quanto à diluição de novo de minoritários, e também quanto ao endividamento persistente. Apesar da “foto ser boa”, no longo prazo, segundo ele, o cenário ainda guarda questões com os portos e aeroportos, o retorno do investimento do governo e outros pontos fundamentais para o setor, como o real desvalorizado.