Cenários para as aéreas

Azul e Gol: 'tiro no pé', classifica especialista de  reestruturação de empresas

Três especialistas ouvidos pelo BP Money avaliam os cenários com a possível fusão entre Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4)

Foto: Gol (GOLL4) / Divulgação
Foto: Gol (GOLL4) / Divulgação

Esta semana, surgiram notícias de que a Azul (AZUL4) estaria considerando fazer uma oferta para adquirir a concorrente Gol (GOLL4), que está atualmente em processo de recuperação judicial, o que a torna uma opção mais acessível.

Entretanto, a perspectiva de uma possível fusão entre as duas empresas, que juntas controlariam quase dois terços do mercado em um setor já dominado por três grandes players, apresenta desafios significativos.

Para o especialista em reestruturação de empresas, e CEO da Excellance, Max Mustrangi, essa união pode resultar em uma empresa ainda pior devido à má situação financeira e de alavancagem das empresas envolvidas. “É um tiro no pé, vejo como um verdadeiro ‘abraço dos afogados’”. 

Enquanto Mustrangi vê a situação com pessimismo, ele reconhece que o mercado muitas vezes valoriza a escala e o potencial de faturamento, mesmo que isso não garanta viabilidade ou rentabilidade a longo prazo.

Max destaca preocupações com o tamanho da nova empresa, a dívida associada e a dificuldade do setor em gerar lucro. Ele conclui que essa união pode criar um problema ainda maior do que resolver.

“Eu leio com péssimos olhos essa notícia. Pelo tamanho da empresa que vai ser resultante, tamanho da dívida que vai ser associada em conjunto, por mais que haja um haircut da dívida no processo de RJ da Gol, e a dificuldade do setor gerar resultado positivo”, explicou. 

Benefícios para Gol

O sócio da Itapeva Consultoria, Renoir Vieira, ressalta que, no seu ponto de vista, certamente pode beneficiar a Gol, que se encontra em recuperação judicial. “Os ganhos de escala, otimização da malha e sinergias fariam sobrar mais dinheiro para resolver o problema de endividamento”, pontuou.

Mustrangi menciona que os controladores da Gol podem se beneficiar ao vender sua parte na empresa e sair da dívida. Além disso, a associação com uma empresa em situação menos desfavorável do que a da Gol pode atrair investidores e parceiros interessados, o que poderia melhorar as condições de pagamento da dívida da Gol. 

Para Mustrangi, essa união pode criar mais condições para o plano de recuperação judicial da Gol, incluindo o alongamento da dívida e o pagamento aos credores, potencialmente mudando o plano e sua factibilidade.

Em relação ao impacto na recuperação judicial da Gol, o sócio da Ipê Investimentos, Fábio Murad, ressalta que é plausível considerar que a fusão poderia exercer influência positiva, uma vez que as sinergias projetadas teriam o potencial de fortalecer a posição financeira da empresa.

“Contudo,  destaco que a concretização do acordo e seus detalhes ainda permanecem incertos, demandando uma avaliação mais aprofundada”, afirmou Murad.

Azul e Gol: Visão do mercado

Para Vieira, o mercado respondeu positivamente ao rumor, aumentando o valor de ambas as empresas na bolsa. “O impacto seria positivo com ganhos de escala, otimização da malha e sinergias”.

Por outro lado, Murad afirma que a percepção do mercado é favorável à Azul, considerando-a como uma oportunidade, enquanto a Gol recebeu uma recomendação “underperform” de algumas casas, indicando uma visão menos otimista em relação à empresa.

“A possível fusão entre Azul e Gol está gerando expectativas positivas no mercado, com potenciais benefícios para ambas as companhias, destacando-se vantagens expressivas para a Azul”, disse Murad.

Murad explica que, o impacto a longo prazo no setor de aviação e para os consumidores necessita de uma avaliação mais detalhada à medida que mais informações sobre o acordo forem divulgadas.

Setor de aviação

Tendo em vista que esta possível união entre as duas grandes companhias aéreas do mercado, movimentará efetivamente o setor de aviação, Vieira explica que, reduziria a competição no setor.

Mustrangi aborda a concentração de competidores no setor de aviação brasileiro, destacando a presença de três grandes players: Gol, Latam e Azul. Ele menciona que a competição teoricamente levaria a preços mais baixos devido à competitividade, mas ressalta que em algumas rotas a Azul opera sozinha, o que pode resultar em menor competição e preços mais altos para o consumidor.

Para as companhias aéreas, menos competição pode levar a margens e lucratividade melhoradas, redução de perdas e até mesmo lucro, o que poderia ajudar a reduzir exposição a dívidas, explicou o especialista em reestruturação de empresas.

Azul e Gol: Efeitos para o consumidor

O consumidor evidentemente será impactado, se reduzir a competitividade, o preço sobe. As passagens ficarão ainda mais caras, para o consumidor isso é péssimo, explicou Mustrangi.

Ele ainda menciona que a competição existe um limite, uma vez que os preços muito altos poderiam levar as pessoas a optar pelo transporte rodoviário. No entanto, Max alerta para a ineficiência mercadológica que a concentração de mercado por apenas duas grandes empresas poderia causar, caso a operação seja aprovada.

“Provavelmente isso teria efeitos ruins para o consumidor, mas seria positivo para a nova companhia que surgiria a partir disso”, ponderou Vieira.

Atualmente, no setor de aviação há um oligopólio, composto pela Gol, Azul e Latam, competindo no mercado interno, pontuou Vieira. “Isso levaria a uma situação de ‘duopolio’ o que pode encarecer os preços para o consumidor”, acrescentou.