B3 (B3SA3): quais papéis se beneficiam do alto fluxo estrangeiro?

Em janeiro de 2023, a Bolsa recebeu R$ 12,550 bilhões em recursos estrangeiros

O Brasil bateu recorde de recursos investidos por estrangeiros em 2022, somando pouco mais de R$ 100 bilhões aportados em ações no mercado secundário, e caminha em 2023 para o mesmo lugar. De acordo com dados da B3 (B3SA3), até o dia 31 de janeiro, ingressaram R$ 12,550 bilhões em recursos estrangeiros. Esse montante, segundo especialistas, tende a beneficiar empresas específicas da Bolsa de Valores brasileira. O BP Money conversou com especialistas, que explicaram quais são os prováveis destinos dos recursos estrangeiros na B3. 

Segundo Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, o fluxo “gringo” tende a movimentar “ações grandes”, que são mais líquidas, ou seja, de grandes empresas. 

“O gringo vem com o dólar nas ações mais líquidas do Ibovespa: Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco”, exemplificou Barbosa. 

“O Ibovespa é 30% bancos, 30% commodities e 30% consumo interno. Consumo interno é menor, está sofrendo bastante aí nos últimos anos, e bancos e commodities são mais resilientes”, complementou o sócio-fundador da Nord, destacando a escolha dos gringos pelos setores de bancos e commodities. 

Em relatório, a Guide informou que o fluxo estrangeiro observado na B3 no primeiro mês de 2023 se deve ao valuation baixo das ações no Brasil, além do maior crescimento econômico (menor risco de recessão) e chances de redução de juros ainda em 2023 – cenário oposto ao de mercados desenvolvidos, como Estados Unidos e Zona do Euro.

“Os EUA devem aumentar os juros pelo menos mais uma vez, as perspectivas de crescimento econômico são ruins e o valuation dos mercados é ainda muito próximo da média”, informou a Guide. 

De acordo com Paulo Luives, da Valor Investimentos, o gringo olha para o Brasil muito mais como uma “derivada de China” do que efetivamente uma oportunidade no mercado doméstico, ou seja, com o processo de reabertura de China, existe um impacto positivo sobre as empresas de commodities e, paralelo a isso, você tem a bolsa brasileira negociando a múltiplos muito descontados. 

“Você pega a média do Ibovespa, a Bolsa está negociando 40% abaixo da média histórica dos últimos 15 anos. O prêmio de risco é o maior dos últimos sete anos para investir em Bolsa. Então a gente tem um cenário de oportunidade, valuation descontado, óbvio que não é toda a Bolsa que vai andar, mas tem ali o setor financeiro, as empresas portadoras de commodities, as empresas do setor elétrico, que negociam a um nível de múltiplo mais descontado, na média”, disse Luives. 

O que traz o investidor estrangeiro ao Brasil? 

A forte onda de investimento estrangeiro acontece desde meados de 2022, mas se intensificou no segundo semestre. Para Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, o Brasil atrai o estrangeiro por diversas frentes. A primeira delas teve início em outubro, quando se encerrou o ciclo eleitoral, onde houve muito ruído. 

“O simples fato de ter ‘tirado o bode da sala’ da indefinição política, de quem seria o sucessor na presidência, já foi um fator positivo. Em segundo lugar, o Lula é bem visto lá fora. Enquanto muitos gestores locais ficam bastante desconfortáveis, para o estrangeiro Lula é até melhor visto do que Bolsonaro. Em terceiro, o Brasil está muito barato dentro da classe de emergentes e os emergentes estão muito baratos em relação às bolsas estrangeiras”, disse Levy. 

Por fim, Levy cita a retomada chinesa como um fator de grande importância para o investimento estrangeiro no Brasil. 

“O Brasil, dentro da América Latina, é um dos que mais se aproveita da retomada asiática. Então acho que se a China continuar nesse bom humor, e os investidores continuarem direcionando recursos para emergente, o Brasil com certeza deve continuar vendo mais fluxo e, se vier fluxos adicionais, acho que a gente pode ver uma reação muito positiva dos ativos”, concluiu Levy. 

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