Fim da exclusividade?

B3: ‘monopólio sempre impediu crescimento do mercado’, diz especialista

A ausência de pressão competitiva permite a B3 um conforto que não é saudável para o mercado, avalia Cohen

B3
B3 monopoliza mercado (foto: unsplash)

A perspectiva de uma nova Bolsa de Valores no Brasil em 2025, pelo Mubadala Capital, reavivou discussões sobre o papel da concorrência no mercado financeiro. Ao BP Money, o analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen, expressou que o monopólio da única Bolsa de Valores brasileira, a B3, apresenta-se como um obstáculo para o crescimento do mercado. 

“Eu acho que a entrada de uma nova bolsa já é esperada há muitos anos. Acredito que o monopólio da B3 sempre, na minha opinião, atrapalhou o crescimento do nosso mercado, porque, quando a gente tem monopólio, não existe competição, então quem está no poder manda e o serviço certamente, por melhor que seja, certamente cai, deixa a desejar”, avaliou. 

Cohen enfatizou que a falta de competição no setor permitiu que o serviço, mesmo que de qualidade, deixasse a desejar devido à ausência de pressão competitiva.

De acordo com o analista financeiro, a introdução de uma segunda Bolsa de Valores no País pode potencialmente aumentar a visibilidade e a credibilidade do mercado. Ele sugere que, com o crescimento econômico, poderia haver um aumento no número de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais), embora ressalte que isso dependerá das políticas governamentais.

“Como consequência para o país, eu acredito que pode trazer mais visibilidade, mais credibilidade com duas bolsas. Com o país crescendo, podemos ter novos IPOs, dependendo de como vai ser, pode ter uma febre de IPOs, se o governo ajudar”, avaliou.

O sócio fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, ressalta que a discussão acerca da criação de uma concorrente da B3 no Brasil não é uma novidade. O profissional relembra a tentativa da ATG (Américas Trading Group), representando um projeto que, até então, não se concretizou. “Mas toda tentativa é válida”, diz o profissional.

Nova B3: a história não é nova

Há aproximadamente um ano, o Mubadala, um dos principais fundos soberanos de investimentos do Emirado de Abu Dhabi, adquiriu a ATG. Somado a isso, o Fundo árabe recentemente trouxe Cláudio Pracownik, ex-Agora e ex-Genial, para liderar o projeto, como reportado pelo Valor em janeiro.

Diferente do cenário anterior, agora a informação da possibilidade da abertura de uma nova Bolsa de Valores no País possui local, sendo prevista para que sua sede seja no Rio de Janeiro, bem como prazo estabelecido: segundo semestre de 2025. É o que aponta o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

A cidade do Rio de Janeiro não abriga um mercado acionário desde os primeiros anos de 2000, quando o remanescente das operações da BVRJ foi transferido para a atual B3, sediada em São Paulo. A BVRJ era a principal bolsa de valores do País, mas entrou em colapso após um escândalo de especulação associado a Naji Nahas.

Para além dos rumores, a CVM (Comissão de Valores Mobiliados) confirmou, na sexta-feira (1º), que está conduzindo um procedimento para analisar a solicitação.

De acordo com informações preliminares, o plano inicial envolveria a introdução de negociações de ações, o que marcaria a estreia de um concorrente na esfera da B3.

“Eu acho que é uma notícia muito positiva e que dependendo dos serviços que a nova bolsa oferecer, vai ser ótimo. De repente, vai que ofereça mercado 24 horas que a nossa bolsa não oferece. E aí vai se igualar com outros mercados mundiais que tem bolsa por 24 horas como no mercado de forex para as moedas, o mercado de índices”, afirmou Rodrigo Cohen.

Concorrente da B3 terá desafios para superar

Costa também contrapõe chamando atenção para o desafio principal que uma nova Bolsa de Valores deve enfrentar durante a fase inicial, que é evitar a fragmentação da mesma. Segundo ele, essa situação implicaria em uma divisão do volume, acarretando em maiores custos de infraestrutura, porém, sem gerar novos negócios ou um aumento significativo nos resultados para o Brasil. 

“Uma nova Bolsa possibilitaria maior liquidez, mas o problema é o tamanho do mercado para que evite a fragmentação e, por consequência, tenha destruir valor na Bolsa”, completou a análise.

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