"Mar de monstros"

B3: PLDO derruba confiança dos investidores estrangeiros

Categoria já sacou R$ 21,8 bilhões da Bolsa no primeiro trimestre

Foto: Pexels
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O governo Lula jogou sobre a B3 um novo transtorno: o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias). Especialistas ouvidos pelo BP Money sinalizaram que, nessa conjuntura, a Bolsa brasileira se tornou um “mar de monstros” para os investidores estrangeiros.

As modificações nas metas fiscais anuais, que empurraram o tão esperado superávit apenas para 2026, ofereceram espaço fiscal ao governo, mas destruíram a confiança dos agentes da B3 com a responsabilidade fiscal. 

No caso dos investidores estrangeiros, que já fazem o movimento de saída da Bolsa brasileira, essa mudança esclarece o seguinte ponto: no Brasil, até o passado é incerto. Foi o que explicou o sócio da Aware Investments, João Guilherme Caenazzo.

“O mercado como um todo já encara que a credibilidade dos compromissos fiscais e o zelo pelo equilíbrio da dívida pública está indo por água abaixo de forma escancarada”, disse.

O investidor estrangeiro já via com certa reprovação algumas das interferências políticas em ativos que performaram bem na B3, disse Caenazzo. Pesando o risco no Brasil, acaba-se repelindo o anseio de investir por aqui.

Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento, liderados por Fernando Haddad (PT) e Simone Tebet (MDB), respectivamente, apresentaram o texto com previsão de resultado primário de 0,0% do PIB para 2025. 

Antes esperava-se 0,5% do PIB. Junto a isso, as metas dos anos seguintes também mudaram, com superávit de 0,25% para 2026 e 0,50% somente em 2027.

Apenas em abril, os investidores estrangeiros sacaram R$ 3,35 bilhões da B3, ao passo que o saldo negativo já chegou a R$ 21,8 bilhões nos primeiros 3 meses do ano. 

Perspectiva de fraqueza na B3 afasta Investidores estrangeiros

A impressão que o PLDO lançou sobre os investidores é de que o governo Lula abriu mão do controle de gastos e do equilíbrio das contas públicas. 

Logo, um controle menor pode resultar em desvalorização do Real e aumento da inflação projetada, segundo Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed.

Ele ressaltou os agentes externos não gostam de investir em moedas estrangeiras desvalorizadas.

“É uma mudança, de fato, negativa para o investidor estrangeiro, que privilegia países que tem uma austeridade fiscal maior, que olham a projeção do resultado fiscal com  mais austeridade” 

Em sua análise, no momento, o Brasil hoje é uma boa opção fora dos EUA, pois outros emergentes como Rússia e China não são países investíveis. 

Isto porque, os recursos de investimentos nos mercados de capitais dessas nações estão sendo retirados. Logo, o Brasil sobra como opção, sobretudo devido às commodities, com a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR4).

A incerteza acentuada ao redor do mundo sobre o ritmo de queda das taxas de juros é benéfico para as commodities, afirmou Piovesan.

“Já que essa alta da inflação projetada global está ligado a uma valorização das commodities, o que acaba sendo positivo para o Brasil e positivo para as empresas de commodities aqui. Então podemos citar Petrobras, Vale e Suzano [SUZB3] como empresas grandes que os estrangeiros mais olham”, avaliou.

Para Caenazzo, no curto prazo o movimento dos investidores estrangeiros na B3 deve seguir o mesmo curso atual. Quanto ao longo prazo, se a “insensatez persistir”, disse ele, “o investidor estrangeiro ligará o alerta vermelho e “zarpará o seu barquinho para longe desse mar de monstros”.

“O estrangeiro quer, em um momento tão ímpar no contexto global, maior segurança, e enxerga em dólares seu porto seguro”, observou.

Postura do mercado e do governo

Para continuar sendo atrativa aos estrangeiros, Caenazzo acredita que as empresas cotadas na B3 devem manter a agenda de transição energética, pois a categoria visa muito a prática e pode, eventualmente, beneficiar esses negócios.

“No caso do governo, seria uma maior austeridade fiscal. Um governo mais preocupado com as contas fiscais, mais preocupado com o lado de custos, embora não deva ser isso que deve acontecer”, frisou ele.

Já Piovesan, dado o cenário, vê que as metas anteriores [do governo para os resultados primários] já eram demasiado otimistas. 

“Realista é entender que falta muito para entrarmos no eixo virtuoso de alcançar um déficit zero em 2025, com a razão dívida/PIB em um caminho direcionado ao desequilíbrio”, disse.

Segundo o sócio da Aware Investments, a janela de oportunidade para ingresso voltará a se abrir para os investidores estrangeiro na B3, se eles entenderem que a Bolsa está barata e verem efeitos práticos do fluxo de corte de juros.