Domínio ameaçado?

B3: rival carioca não tem chance no mercado

O Rio de Janeiro anunciou que estuda reabrir a Bolsa de Valores carioca; analistas consultados pelo BP Money não veem espaço para tal

Foto: Unsplash
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Dividir os ‘holofotes’ não tem sido uma preocupação para os negócios da B3 (B3SA3), Bolsa de Valores brasileira, há cerca de 25 anos. No entanto, a velha rivalidade entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro pode trazer de volta uma antiga concorrente no mercado financeiro. 

Na semana passada, o secretário de desenvolvimento urbano e econômico municipal do Rio de Janeiro, afirmou que a empresa ATG tem estudado uma reabertura da Bolsa na capital do estado, para concorrer com a B3.

A Bolsa carioca encerrou as operações em 2000. A possibilidade de levar a rivalidade a outros campos – além do futebol e da cultura – seria interessante, mas improvável, disseram especialistas ao BP Money.

“Toda concorrência é bem-vinda, inclusive à B3, mas nos mesmos produtos, e, considerando-se a intensidade do capital investido necessário, não será agora que veremos [uma nova Bolsa]”, avaliou Ricardo Martins, economista chefe da Planner Investimentos.

Tirar esse projeto do papel e transformá-lo em realidade pode encontrar obstáculos com os quais a B3 já exerce dominância. 

Uma Bolsa com cerca de 450 companhias não estimula concorrência, segundo Martins, por conta das exigência que as empresas de capital aberto brasileiras precisam atender e se adequar, na tentativa de atender bem os reguladores e o mercado.

“Com a alta dominância da B3, qualquer movimento comercial ou de preços será coberto, dada a sua expertise”, disse Martins, que também é presidente executivo da APIMEC Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil).

Para Rodrigo Negrini, especialista em finanças e CEO da Soul Capital, o mercado brasileiro não tem espaço para 3 Bolsas – considerando a iniciativa outra iniciativa de concorrência pela Mubadala – no momento. 

“Seria interessante uma concorrente para a B3, faria com que o mercado de capitais crescesse em volume, alcance e profissionalização. Sendo sincero, a Bolsa do Rio muito provavelmente não faria frente à uma Bolsa de um investidor poderoso como o fundo soberano de Abu Dhabi”, analisou.

B3: Brasil precisa desenvolver mercado para empresas de médio porte

Martins pontuou que o que falta no País é “um trabalho consistente que estimule e convença o empresário a abrir o capital, e uma maior sintonia com os desinvestimentos de fundos de private equity”.

“Uma nova Bolsa só se justifica com volume e liquidez ou produtos de mercados relevantes que precisam ser mais bem precificados”, afirma Martins.

Mas, se no Brasil não há espaço para concorrência, quando comparado com as Bolsas internacionais o mercado brasileiro ainda é “pequeno”, na avaliação de Negrini. 

Isto para as emissões de equity e também para o balcão de produtos alternativos, como debêntures, pela falta de negociações significativas de ações de empresas de médio porte.

Porém, o Brasil tem chances de ser player do mundo com o desenvolvimento de mercados que se relacionam com a economia verde, como o de descarbonização, ou comercialização de energia, frisou Martins.

Histórico das Bolsas: domínio do Ibovespa é recente

Apesar de ter toda a concentração do mercado hoje, a Bolsa de Valores de São Paulo, semente da qual se originou a B3, foi criada anos após o início das operações das primeiras Bolsas do Brasil.

As Bolsas do Rio de Janeiro e de Salvador foram as pioneiras, criadas em 1851. Em São Paulo, o mercado financeiro começou a operar nessa estrutura a partir de 1895, com o fundamento da Bolsa de Títulos de São Paulo. 

Já a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), criada em 1890, firmou-se como a principal do País apenas no ano 2000, mesmo período em que a Bolsa do Rio de Janeiro foi fechada. 

A ausência de proteção aos acionistas minoritários, unida às incertezas com as aplicações financeiras, fizeram o mercado de capitais brasileiro perder espaço no cenário internacional. O custo de capital das companhias só cresceu devido à gestão opaca e inexistência de ferramentas para supervisionar as empresas, aumentando a percepção de risco.

A título de curiosidade, o “nascimento” da B3 só ocorreu, de fato, em 2017, quando a BM&FBovespa – resultado da fusão entre Bovespa e CM&F – se uniu à CETIP.