Quais são os setores da Bolsa menos suscetíveis ao risco político?

Em ano de eleições, política pode mudar rumo de empresas na bolsa de valores; entenda

Todo investimento em renda variável possui riscos, que estão ligados ao cenário macroeconômico e também aos setores específicos das empresas listadas na bolsa de valores (B3). Para além disso, existe ainda o cenário político, que também mexe com o mercado financeiro, já que através da política o Governo Federal consegue controlar (ou não) a economia do País, além de ter um certo poder sobre as estatais. Sendo assim, será que existem setores da bolsa com risco político menores do que outros? O BP Money conversou com especialistas, que explicaram se existem setores mais perenes, mesmo em época de eleições.

Para Guilherme Tiglia, analista da Nord Research, o risco político das empresas listadas na B3 independe de um setor específico. Segundo Tiglia, esse risco está mais relacionado ao fato da empresa ser estatal ou privada.

“Acho que existem diversos episódios que já observamos no passado, onde o governo agiu em prol de fazer uma política própria ou ter atitudes com fins políticos nas empresas estatais, então acho que esse tipo de empresa é quem acaba sendo mais suscetível a ter algum tipo de risco futuro, a depender do resultado da eleição, porque a depender do que o governo fizer pode prejudicar muito o resultado da empresa”, disse Tiglia. 

“Já vimos isso acontecer com Banco do Brasil, Petrobras, empresas de saneamento, petróleo, bancos, acho que não é somente um setor, são setores diversos que tem como ponto em comum o governo no comando”, complementou o analista da Nord. 

Tiglia ainda mencionou os riscos que podem afetar essas estatais. No exemplo da Petrobras, o analista citou o congelamento de preços. Já no caso do Banco do Brasil, Tiglia falou sobre a possibilidade de políticas de subsídio ao agronegócio.

“Os riscos políticos tem mais a ver com quem está no comando daquela empresa, se é o governo ou se é o poder privado. Prefiro não seguir tanto a visão de cada setor em específico e certamente isso também já reflete nível de preço, está embutido nos múltiplos das empresas e existe um certo motivo para, às vezes, a gente observar algumas estatais com nível de desconto bastante acentuado quando comparamos com outros pares ou com a bolsa”, afirmou Tiglia. 

De acordo com Maykon Henrique de Oliveira, especialista em investimento CEA e professor na Eu me banco, não existe um setor específico da B3 que tenha 100% de isenção em relação aos riscos políticos. 

“O risco político é muito difícil de ser mensurado. Ele afasta o investidor da bolsa, porque o principal risco político é a interferência do governo, que é uma questão que impacta diretamente a bolsa e afeta negativamente o investidor. A bolsa reage de forma negativa como um todo ao risco político. É o famoso risco sistêmico, que significa possibilidade de perda relacionada ao mercado como um todo, e não a setores específicos”, disse Oliveira. 

O especialista da Eu Me Banco destacou que as ações que caem menos são as que possuem “um beta mais baixo” (menos voláteis). 

“Essas ações são dos setores de energia, bancos, seguros e telecomunicações”, afirmou Oliveira. 

Ao contrário do que pensa Tiglia, da Nord, Oliveira acredita que empresas ligadas a commodities devem ser menos impactadas pelos riscos políticos. 

“O Brasil é um celeiro de commodities. Acho muito difícil um investidor que tem carteira com ações do agronegócio, ferro e celulose perder muito por risco político. Pensando em ações que possam ser beneficiadas, acredito que a parte de commodities sejam as menos prejudicadas, assim como as ações com beta mais baixo”, disse Oliveira.

Contudo, o especialista em investimentos da Eu Me Banco também reforçou a fala de Tiglia sobre as empresas estatais e destacou que quando se trata de risco político as estatais são as empresas que sofrem mais na bolsa.

Como o cenário político influencia até os papéis mais estáveis na B3? 

Para Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro, a primeira coisa que o investidor mais conservador tem de fazer em época de eleições é fugir de empresas que dependem muito de programas do governo. 

“Toda empresa vai ter algum tipo de risco político porque o cenário político impacta em uma coisa muito dura na vida das empresas, que é a taxa de juros. Por mais que uma empresa tenha uma receita muito estável, como é o caso das elétricas, se você tem uma política de taxa de juros que eleva muito os juros, acaba afetando o resultado da empresa que não tem nada a ver com isso”, disse Ferreira. 

De acordo com o diretor da Comdinheiro, as empresas que menos são impactadas são as que conseguem surfar ambientes de juros baixos ou altos. 

“Banco tende a sofrer menos com esse cenário político, porque se os juros sobem ele vai ter uma forma de ganhar dinheiro, se os juros caem, ele vai ter outra forma de ganhar dinheiro, mas das duas formas ele consegue historicamente se der bem. Empresas de elementos básicos, saneamento básico, alimentação, são empresas que vão ser mais robustas. Se tiver aumento de inflação, ela repassa”, explicou Ferreira.

O especialista, entretanto, chamou atenção para empresas de serviços essenciais, em especial do setor de alimentação. “Tem que tomar cuidado com uma empresa que eventualmente esteja muito endividada, porque ela acaba sofrendo com um eventual aumento da taxa de juros”, afirmou Ferreira.

Segundo Fabrício Gonçalvez, Ceo da Box Asset Management, todos os setores da bolsa são influenciados diretamente ou indiretamente pelas eleições. Para Gonçalvez, o mercado espera um crescimento do Ibovespa no curto prazo, por pelo menos seis meses. Após esse período, o setor que vai se beneficiar depende muito mais do vencedor da disputa do que qualquer outra coisa, segundo o especialista.

“Os discursos de Bolsonaro e Lula em geral são a favor do mercado. De um lado, temos um exemplo mais conservador, e do outro, mais assistencialista. Caso o Bolsonaro se reeleger, as estatais tendem a se beneficiar. Se for Lula, terá um momento de gastos com setores voltados à educação e afins. A partir disso, vai dar para saber quais empresas devem crescer dentro da bolsa”, disse Gonçalvez.

“Em contrapartida, temos setores e ações que sofrem menos, se tudo der errado, como por exemplo juros e dólar subirem muito. Esses setores que tendem a se beneficiar na B3 são o setor elétrico, o de commodities, bancos, serviços essenciais e empresas que possuem receita dolarizada”, acrescentou o especialista da Box Asset Management.

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