Banco do Brasil (BBAS3): quais perspectivas com Lula ou Bolsonaro?

Apesar dos ótimos balanços, mercado está receoso em investir nas ações do Banco do Brasil por causa das eleições de outubro

O Banco do Brasil (BBAS3) tem sido uma novidade positiva em 2022, reportando balanços considerados positivos pelos agentes do mercado. Apesar disso, muitos investidores estão receosos em investir nas ações da estatal, visando as eleições de outubro. Mesmo existindo tal receio, analistas consultados pelo BP Money acreditam que o banco continuará apresentando resultados consistentes durante o ano de 2022, independentemente do pleito eleitoral.

“Geralmente, o ano eleitoral costuma ser um cenário conturbado para as estatais devido ao risco de aumento dos gastos públicos, uma medida populista para o governo tentar a reeleição. Entretanto, os analistas esperam que o faturamento aumente no segundo semestre e em 2023, especificamente em reprecificação de crédito e resultados de mercado sustentáveis”, afirmou Fabrício Gonçalvez, CEO (diretor executivo) da Box Asset Management. 

No último balanço divulgado, o Banco do Brasil divulgou que seu lucro líquido ajustado foi de R$ 7,8 bilhões entre abril e junho, representando uma alta de 54,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O valor veio acima do consenso do mercado, que apontava ganhos de R$ 6,2 bilhões, segundo a Bloomberg.

Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a eleição de outubro não faz tanta diferença no desempenho do BB, pois a instituição financeira possui uma carteira mais exposta ao agronegócio, um setor econômico bem resiliente.

“Independente da eleição, o balanço do Banco do Brasil continua bastante robusto, então vemos que o setor agro ainda tem uma participação muito relativa nos resultados e deve ajudar bastante. Temos muitos bons olhos para o BB, dado que a representatividade da carteira de varejo é muito pequena, muito mais exposto ao agro, que é um setor bastante resiliente”, explicou. 

Mauricio Rahmani acrescenta que as ações do Banco do Brasil estão baratas, apesar do risco político. Rahmani acrescenta que a Lei das estatais, promulgada em 2016, protege mais os acionistas de eventuais interferências políticas. 

“É uma empresa que apesar de ter subido mais de 40% em ações esse ano, ainda negocia abaixo de 4x o lucro do ano que vem. É uma ação muito barata apesar dos riscos políticos. Pode haver interferência política, mas a governança melhorou, a Lei das estatais protege mais os acionistas hoje. É uma empresa que está num momento excepcional”, disse. 

“O Banco do Brasil é o que tem a carteira mais conservadora, pois ele tem uma carteira de crédito muito concentrada em funcionários públicos, bastante crédito consignado. O crédito tem pouco risco no segmento pessoa jurídica, que é o segmento que está sofrendo menos. Além disso, tem carteira de crédito agro e grandes empresas, que estão performando muito bem”, completou Rahmani. 

Caso Lula seja eleito, qual será o futuro do Banco do Brasil? 

Todas as pesquisas presidenciais até o momento apontam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante a campanha, Lula defendeu que os bancos públicos diminuíssem suas margens de lucro, ressaltando a necessidade de enquadrar o Banco do Brasil. Segundo os analistas consultados pelo BP Money, o petista pode usar a estatal para promover estímulos e reformas sociais.

“Quando a gente fala do Lula, a gente acredita que o Banco Brasil pode ser usado como uma ferramenta do governo para implementar estímulos e subsidiar crédito. Pode haver um sacrifício do lucro para conseguir subsidiar crédito mais barato para as empresas ou para auxílios específicos. A gente veria um aumento da participação dos bancos públicos na carteira de crédito”, analisou Komura.

Com pensamento congruente com o de Komura, Gonçalvez afirmou que uma eleição do petista significaria uma possível redução nos lucros do Banco do Brasil.

“Um dos planos do Lula é evitar privatizações das empresas estatais, e em um evento com pequenos e microempresários, o Lula disse que o Banco do Brasil será “enquadrado” caso ele seja eleito, e que a instituição não pode agir como um banco privado buscando apenas o lucro. O impacto no BB seria uma possível redução dos seus lucros e provavelmente mudanças em sua política interna e administração”, disse.  

E se Bolsonaro for reeleito? 

Durante todo governo Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a privatização do Banco do Brasil. Em 2021, no encontro “O Brasil Quer Mais”, organizado pela International Chamber of Commerce (ICC), Guedes afirmou que queria a estatal na “fila” das privatizações. De acordo com os analistas, uma reeleição de Jair Bolsonaro (PL) seria positiva para a empresa. 

“Se o Bolsonaro for reeleito, ele pretende dar continuidade nas privatizações das empresas estatais, dando continuidade na desburocratização dos impostos. Tais medidas são positivas na visão dos investidores, consequentemente uma diminuição e descomplicação nos impostos afetaria positivamente a empresa, possivelmente aumentando o seu lucro”, explicou Gonçalvez. 

Komura crê que uma reeleição de Bolsonaro significaria uma manutenção da política adotada desde o início do governo, não interferindo na rentabilidade do banco.

“Pelo Bolsonaro, não acreditamos que possa haver uma mudança significativa. Vamos ter a condução da empresa como vimos nos últimos 4 anos. Tentando diminuir a participação dos bancos públicos nas carteiras de crédito, não abrindo mão da rentabilidade para aumentar carteira de crédito ou subsidiária algum benefício”, relatou sobre o Banco do Brasil.