Foto: Pexels / Ibovespa
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Apesar da desaceleração do crédito e do cenário macroeconômico desafiador, as ações dos grandes bancos brasileiros seguem sendo vistas como porto seguro para muitos investidores. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo BP Money, que apontam resiliência e dividendos robustos como os principais atrativos — embora alertem para riscos no curto prazo.

Segundo os especialistas, os grandes bancos — Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3) — continuam apresentando fundamentos sólidos e payout consistente. Para o planejador financeiro da GuiaInvest, Tobias Camargo, eles são instituições testadas pelo tempo e mantêm margens elevadas mesmo em cenários adversos.

“O setor bancário sempre foi visto como um porto seguro dentro da bolsa brasileira. Em um país historicamente marcado por juros altos, spreads elevados e forte barreira de entrada, as grandes instituições, como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, consolidaram margens sólidas ao longo dos anos”, disse Camargo.

Na mesma linha, Claudio Ianface, sócio da The Hill Capital, destaca que o setor bancário brasileiro “segue com instituições sólidas”, sustentado por altos índices de Basileia e boa geração de caixa. “Assim, no curto prazo, a performance das ações tende a refletir mais as expectativas de queda dos juros e a capacidade de gestão interna dos bancos em conter provisões, do que propriamente um crescimento robusto de lucros”, completou.

Juros altos e inadimplência preocupam

Apesar dos fundamentos positivos, os especialistas alertam para riscos que podem limitar os ganhos no curto prazo. Entre eles, estão os juros elevados, a inadimplência crescente e a lentidão na expansão do crédito.

O custo do dinheiro segue alto e afeta tanto a demanda quanto a capacidade de pagamento dos tomadores. Segundo os analistas, isso pressiona as carteiras de crédito e pode reduzir a rentabilidade dos bancos.

Contudo, Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, explica que, quando se refere a ações, vale lembrar que “cotação de ação é opinião. Nada além disso. O número que vemos na tela, todos os dias, é basicamente o consenso entre os vendedores e os compradores da ação”.

“A queda de juros se configura como bom gatilho para que a macroeconomia respire um pouco melhor”, acrescentou.

Além disso, Ianface apontou que existe espaço para uma reversão de fluxo (efeito de recuperação), mas ela depende de alguns gatilhos claros. “A queda mais consistente da taxa de juros pode aliviar tanto o custo de funding quanto a inadimplência. Uma retomada do crédito, com empresas e famílias voltando a demandar financiamento de forma saudável, também seria um motor importante”, disse.

Segundo dados do BC (Banco Central), o crédito bancário deve crescer entre 7,7% e 8,5% em 2025 — abaixo das projeções anteriores. Já o Banco do Brasil reportou níveis recordes de inadimplência no agronegócio, o que acende um alerta sobre o impacto de setores específicos nos balanços das instituições financeiras.

Competição e regulação desafiam o setor

Além dos fatores macroeconômicos, as fintechs e as mudanças regulatórias também pressionam o setor. “As novas regras de capital e provisão podem pressionar a rentabilidade”, disse Ianface.

O analista pontuou que além desses fatores que podem reduzir a margem dos bancos tradicionais, “a concorrência das fintechs e bancos digitais, que seguem capturando clientes em segmentos antes dominados pelos grandes bancos”, comentou.

Oliveira complementa que, após a valorização recente das ações, o valuation do setor não está tão atrativo. “O investidor de renda busca retorno via dividendos, mas o preço atual dos papéis exige cautela”, afirma.

Cenário pode mudar com queda da Selic

Mesmo diante dos desafios, os analistas apontam gatilhos que podem reaquecer o setor nos próximos meses. Entre eles, a possível queda da Selic, que tende a impulsionar o crédito, reduzir a inadimplência e melhorar a rentabilidade bancária.

Além disso, a digitalização de serviços, a busca por eficiência operacional e o crescimento da economia podem fortalecer os lucros das instituições financeiras. “Quando a economia volta a girar, os bancos são os primeiros a sentir o impacto positivo”, lembrou Camargo.

Bancos seguem como opção de segurança — mas com moderação

Na visão dos especialistas, os bancos continuam sendo uma boa opção dentro de uma carteira diversificada, especialmente para quem busca renda passiva via dividendos. No entanto, a recomendação é de exposição seletiva, priorizando instituições com balanços saudáveis e menor exposição a carteiras de alto risco.

Assim, Camargo destacou que o investidor deve ter bancos na carteira, mas não depender apenas deles. “a renda fixa privada segue interessante, com debêntures incentivadas, CRI e CRA de alta qualidade de crédito, enquanto os fundos de infraestrutura permanecem atrativos e são ativos que devem seguir com isenção de IR, mesmo após a MP que altera regras tributárias sobre investimentos”, concluiu.

Assim como o dólar mantém sua relevância global mesmo em tempos de crise, os grandes bancos brasileiros continuam sendo um pilar de estabilidade — ainda que longe de um cenário de euforia.