Se em 2024 os bancos tradicionais lutaram e perderam no mercado acionário, devido às constantes perspectivas de piora no quadro econômico brasileiro, este ano os papéis parecem estar se restaurando das cinzas. Nas primeiras semanas de janeiro, as ações têm acumulado altas, o que, na visão de analistas, já aponta um caminho mais sólido ao longo do período.
Até o momento, as ações dos principais bancos tradicionais, Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) tem se destacado bem e servido como uma base para as tímidas tentativas de recuperação do Ibovespa, principal índice acionário brasileiro.
Luciano Bravo, CVO da Inteligência Comercial, ressaltou que 2024 foi marcado por um “boom” de recuperações judiciais, o que espalhou uma inadimplência no mercado e “afetou muito os bancos que estavam mais expostos”.
“Quando olhamos para o ano de 2025, já notamos que este ano será um ano muito mais sólido e conciso para as ações do banco, principalmente porque com o aumento da Selic, os bancos acabam tendo um grande aporte em renda fixa, onde é mais seguro”, disse.
Por sua vez, Nicolas Merola, gestor da Skopos Investimentos, explicou que a cautela adotada no ano passado deixou “bastante margem de manobra” para 2025. Porém, ainda é preciso que as perspectivas futuras para a economia melhorem, para elevar também o setor.
“O cenário está dado, não será fácil operacionalmente navegar um ambiente de juros mais altos e provavelmente de crescimento de inadimplência, mas se as perspectivas de 2026 melhorarem, os preços tendem a subir para aqueles que fizeram bem o dever de casa em 2024”, afirmou.
Enquanto isso, um ponto destacado por Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da Top Gain, foi as divergências de volatilidade entre cada banco, ao passo que a desvalorização do segmento em 2024 foi “apenas um respiro” para “o que aparente ser um impulso para de uma nova onda de valorização”, no caso de algumas ações.
Nas primeiras semanas de janeiro, o papel BBAS3 avançou 10,55%, logo atrás, o ITUB4 subiu 6,17%. A sequência continua com a valorização de 3,28% do SANB11 e alta de 0,85% do BBDC4.
Roteiro dos juros no Brasil ainda é uma preocupação para os bancos
Na última reunião realizada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) em dezembro do ano passado, os membros do colegiado não apenas elevaram os juros para 12,25% ao ano, como sinalizaram mais duas altas de 1 ponto percentual ainda no primeiro trimestre deste ano. Sendo assim, a Selic (taxa básica de juros), deve chegar a 14,25% em março, o que não é favorável para os bancos.
Nicolas Merola avaliou que, apesar do setor bancário ser um dos que melhor se adaptam a períodos de juros altos, isso ainda é “completamente diferente” de se beneficiar.
“O grande risco está no crescimento desenfreado da inadimplência. Por isso, aqueles que fizeram o dever de casa em 2024 e foram mais conservadores com sua carteira de crédito devem ser menos impactados”, salientou.
Matheus Lima compartilhou da mesma avaliação, apontando também que os juros altos levam as ações dos bancos a desvalorizar por várias razões, desde as premissas de valuation até o desaquecimento da economia, devido aos encarecimento dos financiamentos.
“Isso sem considerar o risco fiscal que foi um fator crucial para o pessimismo no mercado como um todo”, disse o analista. O tema de risco fiscal “ainda causa muito pânico entre os investidores domésticos e internacionais”, segundo Lima.
No entanto, a análise de Luciano Bravo foi na contramão dos outros especialistas. Para ele, o crescimento da Selic – que algumas casas já preveem que pode chegar a 15% a.a. em 2025 – se deve, na verdade, a uma administração melhor do conjunto de investimentos, despesas e inadimplência.
“Na verdade, isso fará com que os bancos tenham um retorno nas suas ações de valorização muito maior, se tornando as queridinhas da B3 em 2025”, apontou Bravo.
O CVO da Inteligência Comercial ressaltou que é esperada uma valorização “muito melhor” dos bancos este ano, movimento que deve se ater à resiliência do mercado financeiro e, principalmente, ao cenário mais estabilizado, do ponto de vista do conhecimento dos bancos, em 2025.
“O desempenho dos bancos tradicionais e dos bancos de investimento pode ajudar muito o Ibovespa, até porque, logo na entrada do ano de 2025, observamos que das nove maiores empresas em valor que existem hoje no índice, cinco são bancos”, afirmou Bravo.
Isso significa que o setor bancário representa a maior parte do valor total das maiores empresas cotadas na Bolsa brasileira.
Nicolas Merola concordou em partes com a avaliação. Na visão do gestor da Skopos Investimentos, para que esse movimento ocorra, será preciso que o cenário de deterioração se reverta, ou estabilize, o que depende não apenas do compromisso fiscal do governo, mas também do quadro geopolítico, que, segundo ele, tem cooperado para que o Brasil atingisse um patamar de juros tão altos.