O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, nesta segunda-feira (22), que ainda não tomou uma decisão sobre os indicados para o Banco Central (BC) e que discutirá os nomes com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, incluindo o do futuro presidente que substituirá Roberto Campos Neto.
“A hora que ele (Haddad) falar comigo nós vamos indicar (presidente do BC). Eu espero que a gente encontre uma pessoa que seja, do ponto de vista técnico, muito competente, seja, do ponto de vista político, muito honesto e muito sério, e que seja uma pessoa que efetivamente ganhe autonomia pela sua respeitabilidade, pelo seu comportamento”, afirmou em entrevista a agências de notícias internacionais, incluindo a Reuters.
“Na hora que for para eu indicar eu vou combinar com Haddad”, disse Lula.
A equipe econômica, junto com o próprio Campos Neto, tem expressado preferência por uma rápida indicação do novo presidente do BC, que ainda precisará ser aprovado após sabatina no Senado. Em ano eleitoral, esse processo provavelmente só ocorrerá após outubro.
O nome mais cotado para a presidência do BC é Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária da instituição, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e aliado próximo de Haddad.
Nomeação do novo presidente do BC
Até o final deste ano, além de nomear um novo presidente, Lula precisará indicar mais dois diretores, conferindo ao governo atual a maioria no Copom (Conselho de Política Monetária).
Embora isso não assegure que o governo possa mudar os rumos da política monetária, devido à independência do BC, poderá resultar em um colegiado mais sintonizado com a visão do governo atual.
“Como pode um rapaz, que se diz autônomo, presidente do Banco Central, estar incomodado com o fato do povo mais humilde estar ganhando aumento de salário? Talvez na cabeça dele (presidente do BC) o bom para inflação seja criança morrendo de desnutrição, seja criança morrendo de fome”, prosseguiu o presidente.
No mês passado, Campos Neto expressou preocupação com o potencial impacto do mercado de trabalho restrito na inflação de serviços, embora tenha destacado que esse efeito ainda não foi observado.
Lula reiterou sua oposição à autonomia do Banco Central, mas lembrou que durante seus primeiros mandatos (2003-2010), o então presidente do BC, Henrique Meirelles, teve total liberdade para atuar.
Segundo Lula, durante os quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, Campos Neto participou de 31 reuniões com o presidente.
“Meirelles não teve isso nos oito anos do meu mandato. Presidente do BC não precisa se reunir com o presidente da República”, afirmou.
Lula enfatizou, por fim, que o governo continua comprometido com a seriedade fiscal para possibilitar a redução da taxa de juros, que ele vê como o principal obstáculo ao crescimento do país. Ele destacou que sua responsabilidade com o risco de inflação é ainda maior porque ele “sente seus efeitos na própria pele.”