O Ibovespa renovou sua carteira, mas especialistas acreditam que, no curto prazo, não há perspectiva de crescimento real. “A situação econômica brasileira, fiscal, política, inflação e dólar alto não atrai capital para renda variável, deixando a B3 à deriva”, disse ao BP Money Felipe Sant’Anna, especialista em mercado da Star Desk.
Recentemente, a B3 (B3SA3) anunciou que o Ibovespa renovou sua carteira, que irá vigorar de 6 de janeiro a 2 de maio. A relação conta com 87 papéis de 84 empresas brasileiras (ações ordinárias, ON, e preferenciais, PN, de uma mesma companhia também podem integrar o indicador). Segundo a organização, os cinco ativos com maior peso na composição do índice são: Vale ON (11,783%), Petrobras PN (8,353%), Itaú Unibanco PN (7,406%), Petrobras ON (4,720%) e Banco do Brasil ON (3,497%).
As empresas mais negociadas pertencem, em sua maioria, aos setores bancário e de commodities. Estas últimas são fortemente influenciadas pelo cenário externo, especialmente pela China. Em 2024, o país apresentou um PIB (Produto Interno Bruto) robusto, contrariando as expectativas do mercado.
Além disso, os EUA também desempenham um papel importante na volatilidade das commodities e nas ações do setor negociadas na B3. O dólar mais forte favorece as exportações brasileiras, mas penaliza o mercado interno e o consumidor, aumentando a Selic e a inflação.
Outro fator relevante são os conflitos no Oriente Médio. Espera-se que o fim das guerras acomode os preços de ativos como Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3)
B3: como commodities afetam as mais negociadas
Petrobras (PETR4): cenário peculiar com preços defasados
No caso da Petrobras, as questões são mais complexas, pois a empresa une o poder público ao privado. A estatal de capital aberto sofre frequente interferência governamental nas decisões estratégicas.
Recentemente, chamou atenção o nível de defasagem nos preços de combustíveis praticados pela petroleira em relação ao mercado internacional. Analistas do BTG Pactual apontaram que a defasagem nos preços da gasolina está em 11%, enquanto a do diesel alcança 18%.
“Se o petróleo sobe, o preço dos combustíveis sobe junto, e quando a empresa segura o reajuste, está abrindo mão de sua margem ou lucro”, comentou Sant’Anna.
“Ao menor sinal de interferência ou preço artificial, o investidor vende as ações sem perda de tempo, o mercado financeiro não espera para ver o estrago que já fizemos em um passado recente”, concluiu.
Vale (VALE3): gigante entre as mais negociadas, mas com cenário desfavorável
A Vale é uma gigante mundial no setor de minério de ferro, com um caixa sólido, mas extremamente dependente do mercado asiático — que vive meses de incertezas.
“O ano de 2024 foi de volatilidade constante para a companhia, devido às flutuações intensas nos preços do minério de ferro”, avaliou Mario Mariante, analista-chefe da Planner Investimentos.
No cenário doméstico, as incertezas também pesaram. A produção brasileira de aço bruto atingiu 33,7 milhões de toneladas em 2024 (+5,3% em relação a 2023), enquanto as vendas alcançaram 21,2 milhões de toneladas (+8,3% na mesma comparação), conforme acrescentou Mariante.
O mercado segue em compasso de espera, especialmente com a postura do presidente dos EUA, Donald Trump, que prometeu impor tarifas à China durante sua campanha. Agora empossado, Trump mantém silêncio estratégico enquanto negocia com autoridades chinesas.
Na última terça-feira (21), ele anunciou uma tarifa de 10% sobre produtos importados da China. Segundo Trump, a medida visa combater a entrada de opioides no México e Canadá, com origem chinesa.
Como consequência, os contratos futuros de minério de ferro registraram baixas. Na quarta-feira (22), o minério de ferro de referência para fevereiro na Bolsa de Cingapura caiu 1,1%, para US$ 103,6 a tonelada. Por fim, na Bolsa de Commodities da China (DCE), o contrato mais negociado para maio recuou 0,44%, fechando a 800,5 iuanes (US$ 109,94) por tonelada.