Na Bolsa de Valores, o que 2022 deixa de lição para o investidor?

Ano foi marcado por volatilidade em ações de diversos setores, dado as incertezas macroeconômicas no cenário doméstico e global

O fim de ano costuma ser uma época de “balanços” sobre a vida pessoal. No campo financeiro, muitas pessoas também param para analisar seus feitos durante os últimos 12 meses. Em 2022, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) acumula uma leve alta de 3%, mas passou por, literalmente, altos e baixos, devido ao cenário macroeconômico doméstico e global. O que ficou de lição, afinal, para os investidores? 

De acordo com especialistas ouvidos pelo BP Money, a maior lição de 2022 para os investidores é que diversificar a carteira é sempre a melhor opção para proteger o patrimônio. Não adianta, portanto, investir somente fora do Brasil, como uma estratégia de proteção, ou ter uma parte do patrimônio em fundos imobiliários e achar que está com o risco diluído. É preciso ter uma carteira diversa, com os mais variados tipos de ativos e, é claro, voltados para o seu perfil de investidor.

Segundo Virginia Prestes, professora de finanças da FAAP, a grande lição que o ano de 2022 deixou para os investidores não é algo novo, mas parte dos investidores ainda não praticam. 

“A diversificação da carteira é sempre importante e é a melhor alternativa contra a volatilidade, vamos dizer assim, do que a gente tentar ficar buscando qual que vai ser o ativo ganhador. Por exemplo, em 2021, os fundos multimercado acabaram indo muito mal, até porque a gente teve uma crescente de alta de taxa de juros e houve uma migração de muitos investidores dos fundos multimercado para a própria renda fixa. Já em 2022, o cenário foi diferente. Essa classe de ativos conseguiu surfar bem toda a volatilidade que tivemos durante o ano”, disse Prestes. 

Prestes explicou que muitos fundos performaram bem em 2022, ficando acima da taxa de juros, inclusive. Enquanto isso, a renda variável sofreu com bastante oscilações durante o ano. 

“Claro que quem conseguiu aproveitar essa oscilação acabou podendo ter uma performance melhor, mas quem ficou ‘passivo em bolsa’ realmente deve ter amargado perdas, apesar do índice estar terminando aí levemente positivo”, afirmou Prestes. 

A especialista reiterou a importância da diversificação em diferentes tipos de investimentos e classes de ativos, citando como exemplo as oportunidades que 2022 reservou em renda fixa, para quem  tinha dinheiro em caixa.

“É importante ter uma parcela de renda fixa, é importante ter um pouco de caixa para aproveitar eventuais oportunidades e também aproveitar a renda variável, principalmente no momento em que existe toda essa insegurança. Esse é o momento em que os ativos estão mais baratos”, explicou Prestes.

A professora da FAAP ainda destacou que a renda fixa acabou tendo um papel importante principalmente nos pós-fixados, que acompanharam a alta da taxa de juros em 2022.

“Quem estava com caixa conseguiu aproveitar pra pré-fixar a níveis altos, muitas vezes acima de 15% ao ano. Então já não é uma lição nova, mas mais uma vez é importante dizer que a diversificação dos ativos é o que vai garantir uma boa performance ao longo dos anos aos investidores”, concluiu Prestes.

A importância da renda fixa em cenários adversos

Para além do cenário já conhecido da Covid-19, 2022 foi marcado pela guerra na Ucrânia, que teve influência sobre a economia brasileira. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou a marca dos US$ 100, ainda em fevereiro deste ano, e deu início a uma ampla discussão sobre o reajuste nos preços dos combustíveis da Petrobras. 

Com a gasolina, o diesel e o etanol em forte alta, a inflação oficial no Brasil, ainda na primeira metade do ano, subiu, puxada pelos combustíveis, e registrou alta recorde no acumulado de 12 meses, em março de 2022, com uma taxa de 11,3%. Foi a maior taxa desde outubro de 2003, quando o País registrou inflação acumulada em 12 meses de 13,98%. 

Segundo Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Mirae Asset, o Brasil terá uma piora fiscal em 2023 e, com isso, existirá a necessidade de uma política de juros mais apertada nesse ano. 

“Esse possível cenário vai beneficiar os ativos em renda fixa, lastreados em juros., principalmente ativos pós-fixados, já que a gente não tem uma uma leitura muito clara sobre o que que vai acontecer com o país em 2023”, disse Netto, complementando as ideias de Virginia Prestes, da FAAP. 

Além de títulos pós-fixados, Netto destacou que títulos de liquidez imediata, como CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) também são boas opções, assim como CDBs (Certificados de Depósito Bancário). 

“Estamos, realmente, em uma época boa para renda fixa e equity está sendo afetado. A perspectiva que se tem é de uma taxa de juros num patamar de dois dígitos pelo menos nos próximos dois anos, então acho que 2023 será um ano de renda fixa e vai ser um ano de muita volatilidade na Bolsa de Valores, dado o discurso do presidente eleito de aumentar mais gastos públicos”, finalizou Netto.