Com as eleições se aproximando, a Bolsa brasileira (B3) vem passando por momentos de volatilidade nos últimos dias. Ainda assim, analistas já comentam sobre precificação, tanto para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto para Jair Bolsonaro (PL), que disputam o Palácio da Alvorada no próximo domingo (30). Por outro lado, especialistas também apontam que, mesmo tentando se antever, o mercado segue indeciso, dados as últimas pesquisas eleitorais.
“As eleições são uma influência muito grande, mas o mercado ainda não precificou quem vai ganhar porque ainda está indeciso, mesmo tentando adiantar isso”, aponta Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research.
Na opinião de Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, o mercado exagerou na euforia, na semana passada, de uma possível virada do Bolsonaro. “Agora precificou o cenário mais incerto. Acredito que um Ibovespa a 113 mil pontos esteja mais próximo da realidade que é 50/50 para cada candidato”, disse.
O comentário de Marcelo se reflete nas últimas pesquisas eleitorais, que apontam um cenário praticamente empatado entre Lula e Bolsonaro. No início desta semana, a pesquisa Atlas mostrou o petista com 52,9% contra 47,1% do atual presidente. Porcentagens parecidas se repetiram em outros levantamentos divulgados na semana que antecede a eleição.
O Ipec mostrou Lula com 54% e Bolsonaro com 46%. Ipespe, Genial/Quaest e PoderData apontaram o petista com 53% dos votos válidos, e Bolsonaro com 47%. Paraná Pesquisas teve um cenário ainda mais apertado, com Lula somando 50,2%, e Bolsonaro, 49,8%.
Mesmo assim, para Sobreira, a bolsa está precificando, atualmente, muito mais pelas notícias pontuais do que por um ou outro instituto de pesquisa. Um exemplo, segundo o analista, foi o caso Roberto Jefferson, que acabou prejudicando muito o Bolsonaro. “Por consequência, a Bolsa despencou, principalmente Petrobras, que caiu mais de 9%”, relembrou.
O fato aponta, no entanto, que diferentes setores estão precificando de formas distintas.
Como as estatais e outros setores estão precificando
Para Oliveira, a Bolsa voltou a ter assimetria para os dois lados depois da queda recente. Segundo ele, no curto prazo, as estatais devem sofrer com uma eleição de Lula, entre elas Petrobras (PETR3;PETR4), Banco do Brasil (BBAS3) e Eletrobras (ELET3;ELET6).
Sobreira concorda. De acordo com o analista, o está bem claro que as estatais estão sendo afetadas muito diretamente quando Bolsonaro vai pra frente ou melhora nas pesquisas. “As ações disparam, como aconteceu com a Petrobras e o Banco do Brasil nesses últimos dias”, disse.
Ainda assim, os papéis das duas companhias vêm perdendo desde então, já que o otimismo de uma virada de Bolsonaro foi perdendo fôlego no mercado. “Com esses movimentos de precificação do mercado, eles mostram que a posição que Bolsonaro exerce hoje é melhor para as estatais no Brasil do que a que o Lula poderia vir a oferecer”, aponta Sobreira.
No caso favorável à eleição de Lula, as empresas de educação, entre elas Cogna (COGN3) e YDUQS (YDUQ3), são o principal destaque. “Foi um setor que se beneficiou bastante no governo do petista, especialmente com o FIES”, apontou Oliveira.
Para Sobreira, as varejistas também tendem a se beneficiar com vitória de Lula. Nesta semana, o Ibovespa já vem deixando os dois setores – educacional e de varejo – entre os destaques positivos.
Mesmo assim, de modo geral, Oliveira entende que a Bolsa sofre mais com a incerteza do governo Lula, “que se nega a dar qualquer direção sobre ministros e plano de governo”. Nesse sentido, Sobreira entende que o mercado está precificando Bolsonaro de forma positiva, e de maneira negativa, o Lula.