Bradesco (BBDC4): decepção do 3º tri deve se repetir no 4T22?

Instituição financeira deve apresentar um dos piores resultados entre os “bancões”; caso Americanas deve pesar

A divulgação do lucro recorrente de R$ 5,22 bilhões no terceiro trimestre de 2022 decepcionou o mercado no ano passado, fazendo as ações do Bradesco (BBDC4) terem a maior queda diária em 24 anos. O lucro reportado no 3T22 representou uma queda de 22,8% frente ao mesmo intervalo de 2021. Para o quarto trimestre de 2022, apesar das condições não serem tão favoráveis (e ter o agravante do rombo da Americanas), a decepção não deve se repetir, segundo analistas. Isso, entretanto, não deve salvar o Bradesco de ter um dos “piores balanços” entre os “bancões”.

De acordo com Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos, o resultado do Bradesco deve vir em linha com o que está sendo apresentado por outras instituições financeiras, ou seja, lucro menor do que o registrado no 4T21. Há, entretanto, uma esperança do mercado em relação aos números, já que o Itaú surpreendeu o mercado com o lucro recorde em 2022, mesmo com o impacto das provisões contra calote da Americanas. 

“O resultado deve demonstrar o aumento das provisões, principalmente por causa da exposição que os bancos tiveram a Americanas, além de uma situação pior no mercado, o que vai acabar consumindo um pouco os lucros dos bancos no geral. No geral, fazendo uma análise da situação, provavelmente vão ser lucros menores, provisão maiores e níveis mais altos de inadimplência do que foi visto nos períodos passados”, disse Gracia. 

No terceiro trimestre de 2022, o Bradesco informou que os resultados foram influenciados pela margem financeira – que foi negativamente afetada pela Selic – o aumento da PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) Expandida, causado pelo cenário de inadimplência, o reforço da PDD complementar e o impacto da deflação do IPCA no resultado financeiro de seguros. 

Segundo Carlos André Vieira, analista-chefe da casa de análises do TC, entre os grandes bancos, chamados “bancões”, o Bradesco pode reportar um dos piores resultados na comparação tanto trimestral quanto anual, devido às provisões (mas nada que o mercado já não tenha precificado).  

“O Bradesco já vinha constituindo um volume elevado de provisões, por conta da sua carteira de crédito onde ela observava o maior nível da inadimplência. Agora que o escândalo da Americanas estourou é provável que o Bradesco siga o caminho de Santander e ABC, que apresentaram provisões bem mais elevadas, até mesmo o Itaú que não estava tão exposto ao caso Americanas apresentou provisões muito grandes”, disse Vieira. 

O Bradesco é um dos bancos com maior exposição ao caso Americanas, com um volume de crédito de quase R$ 5 bilhões, que corresponde a quase o lucro trimestral do banco. Por isso, segundo Vieira, a instituição deve reportar resultados ruins na parte do custo do crédito, na PDD, com as outras linhas de receita mantendo-se estáveis, como a margem com clientes.

“Receitas com serviços devem apresentar uma estabilização, as despesas devem avançar um pouco, principalmente por acordos com os seus funcionários, mas em linhas gerais o lucro deve refletir boa parte do que foi o evento da Americanas, fazendo com que o banco apresente um retorno bastante abaixo dos demais pares privados que reportaram até agora”, explicou Vieira. 

Para Gustavo Franco Freitas, analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, o Bradesco, nos próximos trimestres, deverá diminuir sua exposição ao segmento de baixa renda e de produtos de risco, focando na expansão em linhas de créditos mais conservadoras, ocasionando, por um lado, proteção contra a inadimplência e, por outro, queda no spread. 

“Na semana passada, por exemplo, vimos que o Santander aumentou as despesas para se proteger de eventuais calotes, com a PDD [Provisão de Devedores Duvidosos]. O Bradesco também deverá seguir a mesma linha e expandir mais as despesas com provisões contra a inadimplência”, disse Freitas.

Queda nas ações do Bradesco desde o 3T22 

O Bradesco sofreu a maior queda em suas ações, em um dia, em 24 anos, após a divulgação do resultado do terceiro trimestre de 2022. Até hoje, os papéis da instituição não recuperaram o valor visto até meados de novembro do ano passado. 

“Desde quando teve essa divulgação do balanço até hoje o papel não se recuperou, visto que os investidores ainda estão esperando uma recuperação do papel, por conta desses indicadores que vieram bem abaixo das expectativas. Hoje, o papel Bradesco sobe, aproximadamente, 4%, em reflexo do balanço do Itaú, visto que os dois são bancões e estão dentro do mesmo segmento”, disse Gustavo Gomes, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero.

O especialista da Acqua Vero afirmou que o Itaú mostrou em seu balanço que conseguiu diluir o risco de Americanas e existe uma expectativa também para que o Bradesco consiga fazer isso.

“Americanas ainda está sendo um caso bastante repercutido, então dentro do balanço de Bradesco existe a possibilidade dele ter um impacto, mas, como foi visto dentro do balanço de Itaú, talvez esse impacto seja menor do que o mercado está precificando”, afirmou Gomes. 

As ações preferenciais do Bradesco (BBDC4) operavam em alta de 4,07%, nesta quarta-feira (8), por volta das 16h, apoiadas no otimismo do mercado em relação ao resultado anual e trimestral do concorrente Itaú.

A XP, em relatório recente, afirmou que apesar da redução do preço-alvo para R$18,00 por ação para o final de 2023, decidiu manter a recomendação “neutra” para o Bradesco. 

“No geral, vemos o impacto do aumento da inadimplência e o consequente aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa, continuando a pesar nos resultados do Bradesco em 2023 e começando a diminuir no segundo semestre. Dito isso, acreditamos que a queda recente de suas ações já precificou esses impactos esperados no curto prazo e vemos seu valuation como justo”, informou a XP.