A B3 iniciou 2025 com um saldo negativo em relação ao investimento estrangeiro. Até o dia 6 de janeiro, a bolsa brasileira já havia registrado a retirada de R$3,04 bilhões em recursos, além disso, o país bateu recorde de saída desse tipo de capital em 2024. Esses fatores contribuíram para a queda de 10% no Ibovespa no ano recém encerrado.
A entrada de investimento estrangeiro é importante pois ajuda na liquidez e dinamismo do mercado interno, fatores bem vindos para empresas que buscam resultados de curto prazo, contudo, apenas quatro meses viram entrada de capital estrangeiro em 2024, é a maior saída líquida de recursos desde 2016.
Esse movimento se intensificou na conclusão do ano, mas era recorrente em períodos de instabilidade política e econômica. Com a alta do dólar histórica e o desânimo com a política fiscal e monetária do governo, os investidores e mercado financeiro preveem um futuro pessimista em 2025.
Em contraste, 2022 foi um ano de altas para o investimento estrangeiro. A variação nos últimos oito anos ainda é de carácter negativo, mas alguns fatores externos e internos ajudam a explicar o comportamento do índice.
Variação do dólar
Para Cristina Mello, professora e pesquisadora em Economia da PUC-SP, a percepção do aumento no déficit em conta corrente apressou a saída dos capitais. A crescente compra de dólares apoiou um comportamento especulativo, elevando o preço da moeda estrangeira.
Bruno Corano, economista da Corano Capital, destaca que há uma grande correlação que se aproxima muito mais de um tripé: performance cambial da moeda, projeção de crescimento econômico e o status do valor dos ativos disponíveis. Um dólar valorizado incentiva os investidores a buscar ativos nos EUA, considerados mais seguros.
As perdas cambiais desempenham grande importância nesses cenários, já que investidores precisam levar em conta a depreciação do real nas transações.
Saídas de capital estrangeiro se repetem ao longo da história em consonância com uma grande variação do câmbio como explica Bruna Alleman, head de Investimentos Internacionais da Nomos: “Em 2018 e 2019, por exemplo, o dólar variou entre R$ 3,80 e R$ 4,20, enquanto 2024 registrou uma disparada ainda maior, atingindo R$ 6,18. Essa volatilidade do real frente ao dólar impacta diretamente o retorno dos investimentos”, afirmou.
Orçamento 2025
O atraso do congresso em aprovar o orçamento para 2025 também é visto como ponto negativo e reflete problemas do Brasil com seu planejamento e metas, fatos que não passam batidos pelo investidor externo.
Alleman acrescenta duas questões que contribuem para esse cenário, o déficit fiscal elevado e a instabilidade política: “O mercado está preocupado com a sustentação das contas públicas e o risco de descontrole inflacionário”, assim como: “a dificuldade em aprovar reformas estruturais gera incerteza quanto à capacidade do país de manter um ambiente favorável a investimentos.”
Iniciar o ano sem um orçamento é grave mas já se repetiu em momentos anteriores, para Mello, é necessário agilidade do congresso, a pesquisadora acredita que o problema não passará de Janeiro.
Corano revela uma preocupação maior não com o atraso, mas com o próprio conteúdo do orçamento: “Não tem falta de clareza, o que tem é um orçamento que não é devidamente ajustado ao que o mercado espera como uma…. Não é nem conservador, é uma conduta cuidadosa, ou responsável, a palavra ‘responsável’ é ideal”, conclui.