Brasil se opera, Estados Unidos se investe?

Os especialistas Guilherme Zanin e Ian Caó em entrevista à PB Money explicam as vantagens da bolsa norte-americana.

Uma das regras básicas que fazem parte do conhecimento geral de todo investidor é de que a diversificação da carteira é fator fundamental para obter as melhores estratégias no mercado de capitais. Desta forma, os investimentos no exterior se apresentam como uma excelente alternativa, além representar a facilidade de encontrar mais alternativas de rentabilidade. É o que explicam os especialistas Guilherme Zanin e Ian Caó em entrevista à BP Money.

Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities, explica que a bolsa norte-americana representa a maior participação no somatório do valor de todas as empresas negociadas, superando os US$ 19 trilhões. “A bolsa americana representa 60% market cap [capitalização de mercado] mundial, eles têm uma representatividade expressiva e boa parte das empresas buscam abrir capital diretamente nos Estados Unidos”, afirma.

O CIO da Gama Investimentos, Ian Caó, completa resgatando a informação de que o mercado de renda variável local representa aproximadamente 1% do mercado global. “Ao investir no mercado exterior aumentam de forma significativa as opções de empresas e setores disponíveis e, consequentemente, a diversificação efetiva do portfólio”, avalia o especialista.

Zanin ressalta a segurança institucional proporcionada pelo mercado estadunidense, uma vez que o país possui leis pró-mercado, relacionadas à propriedade privada que tendem a proteger os investidores. “Uma proteção institucional é significativa”, destaca. Além disso, o profissional salienta a importância do dólar, principal meio de negociação internacional, que se apresenta como fundamental ao passo que adere consistência à bolsa de valores, já que a moeda performa resistência em sua valorização, embora enfrente forte cenário inflacionário. 

Caó relata a vantagem na comparação dos dois cenários: “No curto prazo é muito difícil prever o comportamento dos mercados, principalmente quando há a questão cambial(caso o investimento no exterior não seja hedgeado). No longo prazo, no entanto, a possibilidade de investir em mais empresas, mais setores e aumentar a diversificação do portfólio, deve produzir um retorno ajustado ao risco superior”, analisa o CIO da Gama Investimentos.

O estrategista da Avenue Securities, por sua vez, exemplificou o cenário local mais vantajoso, que seria quando encontra-se um aumento do preço das commodities e também a elevação dos juros, neste cenário commodities e bancos se beneficiam.  “O investimento no Brasil tem uma característica que nós chamamos de ‘tática’. Isso quer dizer que há alguns momentos, janelas e oportunidades. Já nos Estados Unidos a vantagem é que é um investimento estrutural. Uma moeda local [o dólar] que se estabeleceu e é o principal meio de troca mundial” disse.

“De forma geral, eventos que impactam os mercados acionários dos países desenvolvidos acabam afetando o mercado local”, acrescenta Ian Caó e completa que “a principal questão impactando os mercados desenvolvidos é a mudança de postura dos policymakers dos EUA, com a reversão das políticas expansionistas. Para o mercado local, além do possível aumento da aversão à risco pelo ambiente global, a capacidade do Banco Central em combater a persistência inflacionária e o calendário eleitoral serão fatores importantes para o comportamento dos mercados”.

Para Guilherme  Zanin, a afirmação ‘Brasil se opera, Estados Unidos se investe’ faz total sentido. “Como costumamos dizer, é uma obrigação do investidor brasileir ter um percentual da sua carteira aplicado no exterior, porque os investimentos nos EUA são estruturais. Vemos empresas centenárias que estão no mercado e que devem estar nos próximos anos. […] Então, com certeza, o Brasil é um investimento tático onde no curto prazo a gente pode ter uma janela de oportunidade, mas a parte estrutural de crescimento econômico mundial da principal economia do mundo continua sendo Estados Unidos”, diz o especialista.

Enquanto que para Ian Caó a declaração “Brasil se opera, Estados Unidos se investe” é uma afirmação forte demais. “Há possibilidade de investir também no Brasil. Ainda que as restrições impostas pela pouca profundidade dos mercados, como a concentração setorial e virtual inexistência de opções em diversos setores promissores, representem  uma proposta de valor mais desafiadora”, completa.