A empresa especializada em dados e inteligência artificial, a Databricks divulgou no início do ano a chegada ao Brasil, de Marcos Grilanda, para assumir como vice-presidente e General Manager para a América Latina.
Para entender os próximos passos, a decisão do executivo em retornar ao País, os novos desafios e as perspectivas da companhia, o BP Money entrevistou Grilanda. Ele enfatizou seu entusiasmo e foco na América Latina em relação à Inteligência Artificial Generativa e aos dados, e especialmente seu entusiasmo com o Brasil.
“A minha chegada é o foco no Brasil e estar muito próximo dos nossos clientes e sócios de negócio, é um mercado de extremo potencial”, diz Grilanda.
Confira abaixo a entrevista na íntegra com Grilanda:
Como foi a decisão para assumir como executivo para liderar o Brasil?
Minha entrada na Databricks aconteceu no final do ano passado, mas minha mudança efetiva aconteceu no dia 1 de março, após alguns anos trabalhando nos EUA.
O processo de decisão, recapitulando, eu trabalhei durante oito anos na Oracle, nesse meu tempo lá, vi uma ‘palavra’, que me chamou muito atenção Cloud, Nuvem, e acabei indo para a AWS.
Lá em 2014, há 9 anos atrás, fui o primeiro gerente de vendas na América Latina da AWS, e eu tinha aquela função de visitar cliente com a intenção de convencer os clientes sobre o uso da nuvem, de que ela é segura, instalável, que é melhor que ter seu próprio Datacenter.
Como você enxerga o papel da IA e dos dados?
Em 2023, quando deixei a AWS, já não tinha mais essa função, já tinha acontecido, já era claro o uso da nuvem.
Agora, em 2024, eu vejo que a parte boa de dados e inteligência artificial é que eu não preciso convencer ninguém. As empresas já entenderam que dados e IA, não são um diferencial, e sim, uma questão de sobrevivência.
O CEO e fundador da Databricks, Ali Ghodsi, conta que, entre 5 e 10 anos, os CEOs terão que ter um background focado em inteligência artificial também, ou será muito difícil que sejam aptos a dirigirem as suas companhias.
Qual o seu papel na companhia?
Portanto, meu papel hoje é muito mais de como ajudar essas companhias, o que fazer para ajudá-las para que elas possam maximizar efetivamente a utilização dos dados e da IA.
Os analistas avaliam que até 2032 é um mercado que ultrapassará US$ 1 trilhão, e é um mercado que ainda está só no começo. Então olha o tamanho dessa oportunidade para companhias como a Databricks, para mim e principalmente para os nossos clientes.
A minha chegada é o foco no Brasil e estar muito próximo dos nossos clientes e sócios de negócio, é um mercado de extremo potencial.
Como surgiu a Databricks?
Basicamente, em 2010, eles observaram muito o que o Facebook e a Uber estavam fazendo com a parte de dados e IA, e decidiram que poderiam possibilitar a mesma coisa para o mercado, para outras companhias. A partir daí, eles criaram uma resolução, que acabou se tornando uma categoria de produto, isso foi muito importante lá em 2010.
Em 2023, os fundadores da Databricks tiveram uma nova observação, e viram que estava vindo efetivamente uma disrupção, a inteligência artificial generativa.
E eles tomaram por decisão fazer uma disrupção interna, antes que acontecesse de fora para dentro, decidiram fazer de dentro para fora. Isso quer dizer, eles incorporaram através da aquisição da Mosaic ML, incorporaram toda a parte de IA Generativa junto com as soluções de lakehouse, e criaram uma nova solução que a ‘data intelligence platform’, que é o que estamos levando para o mercado agora, isso é uma ajuda para os nossos clientes.
Atualmente, a Databricks detém 6 mil funcionários no mundo, na América Latina nós somos mais de 150 já, temos escritório aqui no Brasil, temos também na Costa Rica.
Qual o papel principal da Databricks no Brasil?
O foco é mitigar, de fato, no Brasil, é um mercado que vemos um potencial enorme, nós criamos uma operação completa aqui, hoje temos mais 160 parceiros de negócios já registrados, temos treinamentos no idioma local, temos suporte técnico, serviços profissionais, então assim, é uma operação pronta para ajudar as empresas.
Globalmente somos uma companhia que ano passado fechamos com um faturamento de US$ 1,6 bilhões, isso é um crescimento de mais 50% ano sobre ano, e a América Latina foi um dos grandes players, em termos de crescimento. Fico muito contente com os resultados e com o potencial de negócio.
Quais os diferenciais da companhia?
Duas coisas me chamaram muita atenção na Databricks assim que eu cheguei, o primeiro é o custo de entrada. As empresas estão muito preocupadas, principalmente quando se fala em tecnologia, em quanto custa para começar isso. E o que eu fiquei impressionado é que o custo de entrada é realmente baixo, porque é um pagamento por uso. O cliente paga conforme a demanda e escala conforme necessita, ele pode pegar os casos de uso que ajudam bastante.
O segundo diferencial muito importante, que me chamou atenção, é a quantidade de clientes. Todos os meses na América Latina, dezenas de milhares de profissionais fazem o uso da Databricks, para poder melhorar o seu próprio negócio. Portanto, os clientes já estão fazendo o uso, então aquilo que nós temos como missão, nós queremos democratizar efetivamente os dados e a IA.
Qual o objetivo da companhia?
O nosso objetivo é que os usuários de negócios possam executar as suas consultas através da linguagem natural, ou seja digitar mesmo em inglês, e poder retirar os relatórios, extrair efetivamente as informações e tomar suas decisões de negócio, no final, nós queremos que eles sejam seus próprios cientistas de dados, que eles possam impactar o negócio, esse é o nosso grande objetivo na América Latina.
Nós temos três pilares fundamentais, que são uma grande preocupação para nós, segurança – dado tem muito valor, então precisa ter muito cuidado com o acesso ao dado e compartilhamento, segurança é a prioridade; segundo é a parte de governança desses dados – muitos dos clientes que eu converso, são multi nuvem, eles precisam ser, seja por questão de tecnologia, por questão regulatória, ou por custo, isso faz com que ele tenha dados espalhados pela empresa, as empresas acabaram crescendo de uma maneira não tão estruturadas e isso não tem isso tudo consolidado, o que é muito normal.
O terceiro é algo que eles possam efetivamente agir e fazer, que casos que eu posso criar, eu posso pegar como exemplo de caso de uso, as melhores empresas querem ter seu próprio modelo de inteligência artificial gerativa, porque tem um diferencial competitivo aí dentro, tem algumas que usam o modelo de mercado, outras que querem criar o seu próprio modelo, muitas delas usam múltiplos modelo, tem clientes que dizem que terão dezenas de modelos de IA, porque cada caso, é um caso. Então, empoderar o usuário eu acho que ele tira os gargalos.
Quais exemplos de casos de uso você considera relevante para compartilhar?
O iFood é um case nosso muito legal, a ideia deles é tornar um mundo melhor, usar o mercado local, imagina pro iFood que detém 80% aplicação de mercado, eles têm a quantia de 65 milhões de pedidos por mês, acontece que para eles, fazer simulação de negócio é algo super imagina que eles precisam fazer, por exemplo, a logística que é fundamental para eles, fazer cálculos de rota, simulação como utiliza o frete.
Então, antigamente a área de negócio precisava abrir um ticket, esperar semanas, para poder receber a informação, e através das ferramentas e soluções da Databricks, eles conseguiram fazer com que os próprios usuários de negócios tivessem acesso a simulações. Eles chegaram a fazer 10 mil simulações no mês, eles têm hoje 2000 pessoas trabalhando na plataforma, o resultado de fazer tudo isso, foi a redução de custos por pedido em 10 centavos, parece muito pouco, é pouco quando você tem um volume pequeno, mas quando você tem 65 milhões de pedidos ao mês, é muita coisa. Isso que nós conseguimos fazer.
Temos clientes hoje com a Databricks, 50% das Top Five Hundred Forty usam Databricks. Temos mais de 10 mil clientes a nível global, casos de referências incríveis como a Heaven que aumentou a satisfação de cliente, tínhamos que reduzir 80% o número de fraudes.
Mas eu gosto mesmo dos casos que acontecem aqui no Brasil, do que estamos fazendo na América Latina, toda indústria que você olhar, nós temos uma referência muito bacana, nós temos um cliente que já está tirando proveito, assim como acabei de comentar, falando de finanças, temos clientes como Nubank, Santander, XP Investimentos, Sicredi, Pismo.
Um outro caso super legal é o do PicPay, que tem cartão de crédito, carteira virtual, anseia melhorar o relacionamento financeiro das pessoas, e eles tem 60 milhões de clientes, todos esses clientes tem 31 milhões de transações ao ano. Só que para fazer esse monte de transações, gera muitos eventos, porque cada transação tem diversos desdobramentos. Então imagina conseguir otimizar essa quantidade enorme de dados, e através das nossas soluções, em gestão, transformação de dados, adicionar tudo aquilo que eu comentei de governança e segurança. O pessoal do PicPay teve US$ 10 milhões de economia, é muita coisa.
Isso, enquanto eles conseguiram reduzir os custos de análises dos usuários finais de dados em 50%, ao mesmo tempo que, aumentou a utilização em 25%, ou seja, isso efetivamente impacta a vida do cliente final. É isso que nos deixa super motivado e poder compartilhar nossas histórias.
Temos clientes como Quinto Andar, Gerdau (GGBR4), Natura (NTCO3), BRF (BRFS3), no varejo precisa muito, você pode imaginar a quantidade de dados manipulados, temos clientes nesse ramo como Vtex, Petz (PETZ3), Riachuelo. E um caso bem bacana é a Via (VIIA3), antiga Casas Bahia, a Via tem 60 anos, eles tem 100 milhões de clientes, ou seja, eles tem dezenas de anos de dados espalhados pela empresa.
E é necessário fazer simulações em cima disso, como fazer a campanha perfeita para o cliente, como reduzir fraudes, como pegar o call center e faço com que ele seja mais efetivo, é super complexo, os modelos de análises chegam a ter 24 bilhões de linhas, fizemos também uma parceria fantástica que temos com a Via, nós conseguimos melhorar a eficiência da área de tecnologia, eles tiveram uma redução de custo de R$ 3,9 milhões, e o custo de computação em cima disso, baixou em 25%.
Como a Databricks vê o papel dos dados e IA na transformação digital das empresas?
Está acontecendo e vai continuar acelerando. Algumas companhias até podem pensar que é muito cedo, ainda não tem todos os casos comprovados, mas na verdade, as empresas que já estão investindo, terão uma vantagem competitiva de todo esse tempo, então quando isso realmente tiver 100%, as empresas que demoraram para entrar tam um prejuízo enorme para recuperar esse terreno.