Equilíbrio fiscal

Brasil tenta remar contra maré do endividamento global; terá êxito?

Segundo o FMI, a dívida pública global deve ultrapassar os US$ 100 mi e o endividamento dos países atingirá 93% do PIB até o final de 2024

Endividamento global
Foto: Freepik

Um alerta do FMI (Fundo Monetário Internacional) balançou os ânimos do mercado na última semana. Segundo a organização, a dívida pública global deve ultrapassar os US$ 100 milhões e o endividamento dos países atingirá 93% do PIB (Produto Interno Bruto) global até o final de 2024.

A organização projeta ainda que, até 2030, a dívida pública se aproximará de 100% do PIB global.

Enquanto isso, em meio à forte pressão, o Brasil levanta esforços para equilibrar as contas públicas e tenta remar contra a maré do endividamento que atinge países em todo o mundo. Será que o país terá êxito?

O que tem acelerado o endividamento global?

Na avaliação de Ademir Júnior, conselheiro de negócios da Holding SM, os estímulos fiscais adotados por governos para mitigar os efeitos da pandemia de covid-19 são parte do problema do endividamento global.

“Os estímulos desencadearam aumentos significativos nos déficits fiscais e, consequentemente, na dívida pública. Muitas economias continuam sentindo os efeitos desses gastos extraordinários, como países africanos e alguns europeus, a exemplo de Portugal e Espanha”, disse Júnior.

Além disso, segundo Ademir, o aumento das tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia, as tensões crescentes no Oriente Médio e as investidas norte-americanas em meio aos bombardeios têm levado a um aumento nos gastos militares e a uma reestruturação das cadeias de fornecimento, resultando em mais custos para os governos.

Gianluca Di Mattina, analista da Hike Capital, chama atenção ainda para a condução das políticas monetárias ao redor do mundo, o que, segundo ela, tem impactado fortemente a dívida pública dos países.

“O aumento das taxas de juros, como resposta à inflação e outros desafios macroeconômicos, eleva o custo do serviço da dívida. Com juros mais altos, os governos gastam mais para financiar suas obrigações existentes, especialmente em nações com dívidas atreladas a prazos longos e taxas variáveis”, disse Gianluca.

Além disso, destacou o analista, políticas fiscais expansionistas, caracterizadas pelo aumento dos gastos governamentais, contribuem para a elevação das taxas de juros de longo prazo, pressionando ainda mais as finanças públicas.

Equilíbrio das contas brasileiras: o que é preciso fazer?

O mercado tem pressionado fortemente o governo brasileiro para reduzir os gastos públicos e reage com desconfiança à política fiscal. Em resposta, a Fazenda prepara um pacote de revisão de gastos para ser apresentado ainda este ano.

De acordo com informação da TV Globo e do jornal Folha de S.Paulo, já foi apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma proposta para limitar os salários que superam o teto do funcionalismo público (R$ 44 mil) e reduzir o seguro-desemprego.

Segundo Ginaluca, o sucesso do Brasil dependerá da capacidade do governo em promover reformas estruturais e adotar políticas fiscais responsáveis, sem comprometer o crescimento econômico.

“A contenção do déficit público é crucial, mas o êxito dessas medidas requer uma implementação eficaz e gradual das reformas, conforme enfatizado pelo FMI”, pontuou o analista da Hike.

Além disso, fatores externos devem ser levados em consideração, reforçou Ademir. “A economia brasileira é fortemente dependente de condições externas, como os preços das commodities e o crescimento de seus parceiros comerciais. Um cenário global adverso, com recessão em grandes economias, pode dificultar a obtenção de receitas necessárias para controlar o déficit”, disse o conselheiro de negócios da Holding SM.