BRF (BRFS3) terá 4T22 cru e recuperação deve ser lenta

Perspectiva de melhora no ambiente macro não deve ser suficiente para operações rentabilizarem de forma consistente

A BRF (BRFS3) apresentou somente resultados líquidos negativos em 2022 (até o terceiro trimestre). No total, até o 3T22, foram cerca de R$ 2,1 bilhões de prejuízo e a expectativa é de mais um resultado negativo no 4T22. Para além disso, os especialistas consultados pelo BP Money ainda esperam uma recuperação lenta da empresa, mesmo com as perspectivas de melhora no ambiente macroeconômico, que tem grande influência nas operações da companhia.

Para Fabiano Vaz, analista de Nord Research, o principal fator que deve continuar pesando sobre os resultados da BRF são as margens da companhia, que sofrem bastante com o aumento de custos.

“Acho que falta eficiência em algumas partes. Ela é muito exposta à atividade econômica e o cenário de inflação crescendo pra ela é mais difícil. O consenso do mercado e nossa expectativa é uma queda de mais ou menos 20% a 25% do Ebitda, por exemplo, mesmo com uma receita crescendo um pouco, que é a expectativa de um crescimento leve de cerca de 5%”, disse Vaz. 

No terceiro trimestre de 2022, o prejuízo líquido da maior produtora de frangos e suínos do Brasil foi de R$ 136,8 milhões. A BRF registrou Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 1,32 bilhão no 3T22.

De acordo com a XP, os resultados da dona da Sadia e Perdigão vieram em linha com as expectativas e foram considerados positivos (trimestre contra trimestre), no 3T22. A XP destacou nas operações da BRF a Ásia, que registrou forte recuperação, principalmente devido aos sólidos preços de aves na China, Japão e Coreia do Sul.

Segundo Heitor de Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero – escritório ligado ao BTG – a BRF deve ter mais um trimestre fraco, desta vez com as operações internacionais como as principais detratoras. 

“O excesso de oferta global de aves, impulsionado pelos fortes níveis de produção no Brasil e, especialmente, nos EUA, deve se traduzir em preços mais fracos para os segmentos Halal, Ásia e exportação direta, juntamente com as pressões de custos persistentes”, disse Nicola.

“Embora existam alguns sinais iniciais de racionalidade na produção mundial de aves, os preços e spreads continuam bastante pressionados, o que leva a acreditar que o processo de recuperação pode ser lento”, complementou o especialista.

A inflação de alimentos, que chegou a 11,6% no ano passado, acabou batendo de frente com as operações de uma das maiores empresas globais de alimentos. Além disso, a alta dos preços de commodities influenciaram os custos que a BRF tem para produção. O repasse dos custos, inclusive, foi um dos maiores problemas enfrentados pela companhia em 2022. 

Mesmo com a expectativa de queda na inflação em 2023, a BRF deve seguir com dificuldades para voltar a rentabilizar a operação de forma consistente. 

“O quarto trimestre para BRF não deve ser muito bom. Tem o peso ali dos custos, inflação, tem essa parte da concorrência também bem grande ali no negócio, então vai ser um trimestre um pouco mais difícil e as perspectivas também não são muito boas, principalmente por tudo que a gente vem olhando em relação ao cenário macro”, disse Vaz, da Nord Research.

Concorrência também afeta BRF

Os especialistas destacaram, para além do cenário macro, a ampla concorrência da BRF com outros frigoríficos bem colocados no mercado. Em 2022, as ações da BRF foram, entre os frigoríficos, as piores. A queda da BRF na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) foi de 64% no acumulado de 2022, enquanto JBS e Marfrig caíram 35% e 50%, respectivamente. 

A dona da Sadia e Perdigão, entretanto, atua no segmento de aves e suínos. Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero, salientou que os resultados devem permanecer fracos no Brasil, uma vez que o ambiente competitivo continua acirrado. 

“Deve haver uma contração do Ebitda de 38%, na comparação ano a ano, para R$ 533 milhões com uma margem de 7,2%”, disse Heitor. 

“Espera-se que o Ebitda internacional atinja R$ 413 milhões (-37% ano a ano; -48% trimestre contra trimestre) com uma margem fraca de 6,5% (-480 pontos base ano a ano; -570 pontos base trimestre contra trimestre)”, completou o especialista da Acqua Vero.  

Mesmo com ventos contrários, a XP destacou, após o resultado do terceiro trimestre de 2022, que a companhia deve ter uma oportunidade de crescimento nos próximos meses. 

“Vemos uma oportunidade sólida para a BRF nos próximos trimestres devido a uma melhora nas perspectivas para aves devido a disponibilidade limitada de fornecimento em todo o mundo; menores preços das rações (principalmente soja e milho); e demanda crescente e preços sólidos impulsionados pelo mudança no hábito de consumo da carne bovina devido aos altos preços desta última e à inflação mundial que prejudica o poder de compra do consumidor”, informou a XP. 

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