Os brasileiros estão cada vez mais acostumados com a realidade de ter o real desvalorizado frente ao dólar, que, neste ano, já chega a subir 15%. Se antes, no fim de 2023, um dos maiores temores do mercado era que a moeda norte-americana tocasse a casa dos R$ 5, agor, final de 2024, a tensão é que o dólar continue a escalar sua valorização progressiva a ponto de alcançar um patamar de R$ 6.
Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, essa tendência se deve principalmente à saída de dólares do Brasil.
“Apesar do superávit na balança comercial, que indica que o país exporta mais do que importa, houve uma significativa fuga de recursos financeiros. Essa falta de consistência nas promessas fiscais desgasta a confiança do mercado, elevando o preço do dólar. Para reverter essa tendência, é essencial que medidas fiscais rigorosas sejam implementadas”, explica Eyng.
A desvalorização do real, mesmo em um contexto de queda de juros nos EUA, é um fenômeno que preocupa especialistas. Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, destaca que “o real continua se desvalorizando em relação ao dólar, refletindo uma perda de cerca de 1,25% na última semana, devido a incertezas fiscais e à desconfiança dos investidores.”
O especialista alerta que o governo precisa agir de forma clara em relação às políticas fiscais para estabilizar o câmbio.
Fuga de capitais e desafios fiscais
Apesaro do superávit da balança comercial, o Brasil está lidando com uma fuga de capitais, ressalta João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
“As promessas do governo de alcançar um déficit fiscal zero têm se mostrado inconsistentes.” Para ele, são necessárias ações concretas para restaurar a confiança do mercado.
Milton Badan, sócio e diretor da Swiss Capital Invest, também enfatiza que “para estabilizar o câmbio, o governo brasileiro precisa agir de forma clara e eficiente no controle dos gastos públicos.”
De acordo com o executivo, a pressão sobre o real é exacerbada pela percepção de risco dos investidores, que continuam a duvidar da capacidade do governo de lidar com a situação fiscal.
José Alfaix, economista da Rio Bravo, acrescenta que a desvalorização do real é um ciclo vicioso, onde o maior prêmio de risco leva a uma demanda maior por juros, o que, por sua vez, eleva o déficit nominal e comprime um orçamento já restrito.
“O resultado é uma vazão significativa do fluxo financeiro, piorando a performance da moeda”, afirma Alfaix.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, adverte que “a situação fundamental do país permanece inalterada.” Segundo ele, a recente queda do dólar pode ser vista como um ajuste técnico, mas não sinaliza uma mudança real no cenário econômico do Brasil.