Cenário de "Red Sweep"

Efeito Trump: dólar dispara e deve chegar a R$ 6, dizem especialistas

A valorização da moeda americana pode intensificar as pressões inflacionárias, encarecendo commodities e insumos importados

Foto: RS/via Fotos Publicas
Foto: RS/via Fotos Publicas

Depois de quatro anos, Donald Trump retorna à Casa Branca, após a vitória do Republicando ser confirmada no início desta quarta-feira (6), para a presidência dos EUA. A notícia impulsionou o dólar frente ao real, que já vinha apresentando valorizações nas últimas sessões.

Por volta das 12h10 (horário de Brasília) o dólar comercial apresentava um salto de 0,57%, cotado a R$ 5,77. Durante a abertura dos negócios, a moeda chegou a subir quase 2% em relação ao real.

Para somar, o cenário de “Red Sweep” — quando os republicanos levarem a maioria nas duas casas, Senado e Câmara — impulsiona a moeda norte-americana no mercado global. 

O fenômeno é explicado pelas expectativas de maiores juros na gestão Trump, principalmente do âmbito fiscal, visto que o republicano tem traços “expansionista de seu governo, com os ambiciosos cortes de impostos”, explica José Alfaix, Economista Da Rio Bravo.

“O plano de Trump tem um viés bastante inflacionário, que deve ser combatido com maiores taxas de juros, aumentando a atratividade do dólar e dos ativos norte-americanos frente aos pares emergentes”, disse.

Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos explica que com uma abordagem que prioriza a indústria local e exige parcerias comerciais, projeta-se uma valorização do dólar frente a outras moedas de mercados emergentes, como o real.

“Ao olhar para nossa economia, essa valorização da moeda americana pode intensificar as pressões inflacionárias, encarecendo commodities e insumos importados. Se o cenário de aversão ao risco nos mercados globais se mantiver e o fluxo de capitais migrar fortemente para os EUA, a expectativa do dólar chegar a R$ 6,00 torna-se plausível, especialmente diante de uma demanda mais alta por ativos seguros”,  avalia Lima.

Dólar pressiona economias emergentes

 Ao BP Money, Yvon Gaillard, Cofundador e CEO da Dootax, destaca que a tendência de desvalorização da moeda americana pode continuar no curto prazo, especialmente em relação ao real e a outras moedas emergentes.

De acordo com Gaillard, a expectativa é de uma leve desvalorização do dólar, motivada pela promessa de Trump de reduzir impostos e investir em infraestrutura. No entanto, ele alerta que o cenário a longo prazo ainda depende da implementação efetiva dessas políticas e dos resultados que elas trarão, como um possível aumento do déficit fiscal nos EUA.

Os primeiros 100 dias do governo Trump serão cruciais para determinar o impacto de suas políticas no valor do dólar, de acordo com Gaillard. 

“Com isso a gente vai observar se de fato tudo aquilo que ele falou na campanha dele de uma maior desregulamentação da economia, uma redução na carga tributária e investimentos em infraestrutura vão ser de fato concretizados, vão dar indícios de que de fato vão ser aplicados. 

O executivo acredita que a efetivação de suas promessas de desregulamentação, redução de impostos e estímulos à infraestrutura pode estimular a economia americana. Contudo, isso pode gerar tensões inflacionárias e aumentar o déficit fiscal, resultando em uma desvalorização maior da moeda americana. 

Em um cenário de baixa taxa de juros nos EUA, o mercado pode reagir com um aumento na demanda por ativos mais seguros, como o dólar. No entanto, o impacto a longo prazo dependerá de como o governo Trump administrará essas questões fiscais e comerciais.

No cenário global, João Kepler, CEO da Equity Fund Group, afirma que a política econômica de Trump tende a pressionar ainda mais as economias emergentes, com o fortalecimento do dólar afetando diretamente os custos de importação. Para o Brasil, embora o fortalecimento das exportações de commodities seja uma possibilidade, também há o risco de um enfraquecimento do real, tornando a economia brasileira mais vulnerável.

Juliana Tescaro, sócia e diretora do Grupo Studio, compartilha a visão de que a postura protecionista de Trump pode beneficiar o Brasil, aumentando sua competitividade no mercado americano, principalmente no setor de commodities e produtos agrícolas. 

Contudo, ela alerta que a política econômica dos EUA também pode afetar a inflação e as taxas de juros brasileiras, criando uma situação desafiadora para o país no curto e médio prazo.

Milton Badan, sócio e diretor da Swiss Capital Invest, ressalta que a vitória de Trump no cenário global fortalece o dólar e intensifica a pressão sobre economias emergentes como o Brasil, elevando os custos das importações e tornando a inflação um desafio ainda maior. 

A pressão sobre o mercado brasileiro será grande, e o país precisará se preparar para ajustar suas políticas econômicas em resposta às mudanças globais provocadas pela nova administração dos EUA.

Papel do Fed nas políticas monetárias

A atuação do Federal Reserve será determinante para a dinâmica do dólar, especialmente caso a política fiscal expansionista de Trump se concretize. Gaillard observa que o aumento do déficit fiscal pode pressionar o Fed a ajustar suas taxas de juros para controlar a inflação. Esse aumento nas taxas de juros pode, por sua vez, fortalecer o dólar frente a outras moedas. 

“Se de fato se concretizar essa política mais expansionista que o governo Trump quer fazer pode impactar na inflação americana fazendo com que o Federal Reserve aumente a taxa de juros da moeda americana. Isso faria com que acontecesse um efeito contrário, de valorização do dólar”, avaliou.

Para o Brasil, essa valorização pode resultar em uma maior volatilidade cambial, tornando o real ainda mais vulnerável à valorização do dólar. A resposta do Federal Reserve, aliada à implementação das políticas fiscais de Trump, definirá o futuro do câmbio global e os efeitos sobre a economia brasileira.

Impactos diretos da vitória de Trump para a economia

A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA tem impactos diretos sobre a inflação e o comércio internacional, gerando efeitos significativos, especialmente para economias emergentes como a brasileira.

Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, avalia que a vitória de Trump traz um cenário desafiador para o Brasil, com a possibilidade de um aumento nas tensões comerciais, especialmente com a China. 

Laatus aponta que a combinação de um dólar fortalecido e um aumento dos juros tende a pressionar ainda mais a economia brasileira, exacerbando os problemas fiscais e dificultando as negociações internacionais.

Desafios e oportunidades para as exportações

Por outro lado, Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, aponta que a política de Trump pode ter efeitos positivos para a indústria brasileira que depende de exportações, como o agronegócio. 

Contudo, o aumento da valorização do dólar e dos juros pode resultar em um cenário inflacionário no Brasil, pressionando a moeda local e o poder de compra da população. 

As promessas de Trump, como a redução de impostos e a taxação de empresas chinesas, podem aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano, mas também trarão desafios para a economia interna.

Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, também vê na vitória de Trump uma oportunidade para o Brasil ganhar competitividade no mercado global, especialmente em função da postura protecionista do presidente eleito, que pode abrir espaço para o Brasil substituir produtos chineses. 

No entanto, ele alerta que a revisão de acordos comerciais e políticas protecionistas podem prejudicar as exportações brasileiras, colocando pressão adicional sobre o câmbio e aumentando os custos internos.

Felipe Vasconcellos, sócio da Equss Capital, observa que o fortalecimento do dólar devido ao “Trump Trade” pode gerar um aumento nas transações comerciais e até impulsionar as criptomoedas. 

Para o Brasil, ele destaca que a combinação do dólar mais forte com uma inflação mais alta exigirá ajustes nas políticas monetárias, o que pode impactar negativamente o poder de compra e o crescimento econômico do país.

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