O mercado financeiro brasileiro tem mostrado sinais de aquecimento, com o Ibovespa atingindo novos recordes intradiários e nos fechamentos. Na última ocasião, o índice fechou, na terça-feira (21), no maior patamar ja registrado da história.
Em paralelo aos “dias azuis” da Bolsa, observa-se que o dólar vem sofrendo uma leve pressão, criando uma expectativa de que a moeda norte-americana caminhe para uma possível redução frente ao real.
Ao BP Money, Henrique Lucena, sócio e especialista em investimentos offshore da Arton Advisors, destaca que o dólar está sendo pressionado por uma combinação de fatores específicos.
Entre eles, a possível diminuição das taxas de juros nos EUA e a perspectiva de que o Banco Central do Brasil possa optar por aumentar as taxas de juros para controlar a inflação, em vez de reduzi-las.
“Hoje, não observamos um fluxo estrangeiro significativo na bolsa, o que poderia influenciar a cotação, já que, quando investidores estrangeiros entram no Brasil, eles vendem dólares e compram reais. No entanto, essa influência é mínima no cenário atual”, explica Lucena.
O especialista em investimentos também observa que, em termos de múltiplos, o Ibovespa está subvalorizado, e, se não houver choques geopolíticos, há potencial para que o índice alcance níveis mais altos no curto prazo.
Por outro lado, Filippe Santa Fé, head de multimercados do ASA, compartilha a visão de que o dólar poderia estar operando em um patamar mais baixo.
O head de multimercados aponta para a evolução na comunicação do Banco Central, especialmente com o posicionamento mais claro de membros indicados pelo governo Lula, que tem contribuído para a redução gradual do prêmio de risco acumulado desde a reunião do Copom em maio.
“A continuidade desse processo gradual, no entanto, depende de um eventual ciclo de alta da Selic para se consolidar, e, se isso se confirmar, devemos ter alguma valorização da moeda e um comportamento do Ibovespa não tão positivo quanto o que vimos nos últimos dias”, alerta Santa Fé. Para ele, essa dinâmica pode não perdurar sem novos acontecimentos relevantes no cenário externo.
O Papel do Ibovespa e do investimento estrangeiro
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, observa que o Ibovespa tem registrado altas constantes, o que tende a pressionar o dólar para baixo.
“O aumento nos investimentos e no mercado acionário brasileiro atrai mais capital estrangeiro, valorizando o real”, destaca. Ele aponta que, apenas em agosto, houve um ingresso de R$ 6 bilhões no segmento Bovespa, reforçando essa tendência.
Chinchila também ressalta a valorização do real após a publicação da ata do Banco Central em 6 de agosto, com um aumento de 4% no mês, tornando-se a moeda latino-americana com melhor desempenho.
O profissional explica que as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sugerem um viés de alta na Selic, o que pode estar contribuindo para a queda do dólar, que chegou a R$ 5,37.
Além disso, a expectativa de cortes de juros pelo Fed (Federal Reserve), o Banco Central norte-americano, e a valorização das commodities metálicas também influenciam esse movimento.
Expectativas de crescimento econômico e valorização do real
O economista Josenito Oliveira, professor da Universidade Tiradentes (Unit), oferece uma perspectiva sobre a relação entre o Ibovespa em alta e o comportamento do dólar.
O professor afirma que um Ibovespa em ascensão geralmente sinaliza um mercado acionário aquecido, o que atrai investidores estrangeiros em busca de oportunidades.
“Isso pode refletir uma maior confiança no crescimento econômico do Brasil, atraindo não apenas investidores no mercado acionário, mas também em outros setores da economia”, comenta.
Oliveira também aponta que se o aumento do Ibovespa estiver associado a uma expectativa de melhora nas condições econômicas e a uma possível política monetária mais rígida, como um aumento na taxa de juros, o Brasil pode se tornar mais atraente para investidores em busca de rendimentos.
“Com mais fluxos de capital entrando no país, a demanda por reais aumenta, levando a uma valorização da moeda brasileira e uma consequente queda no valor do dólar”, explica.
No entanto, Oliveira adverte que essa relação não é linear nem garantida, pois fatores externos, como a política monetária dos EUA, o cenário político interno e as condições econômicas globais, também desempenham um papel crucial no comportamento do dólar em relação ao real.