A retomada de Donald Trump à presidência dos EUA, após sua vitória eleitoral, durante eleição em 2024 contra Kamala Harris, promete movimentar os mercados globais. Com a posse marcada para o dia 20 de janeiro, o republicano leva à Casa Branca suas promessas polêmicas de diversos temas, incluindo as pressões nas tarifas universais sobre importações do exterior.
É neste cenário que economistas e analistas consultados pelo BP Money já vêem a fuga dos investidores para o dólar, fazendo a moeda reforçar sua posição como ativo de proteção global.
“O mercado já precifica estímulos fiscais e desregulamentações, o que pode atrair mais capital para os EUA”, afirma Paulo Martins, CEO da Anova Research.
No entanto, Martins alerta para um teto nesse movimento devido ao afrouxamento monetário conduzido pelo Fed (Federal Reserve).
Eduardo Garay, da TechFX, complementa afirmando que a expectativa de juros altos por mais tempo, combinada com políticas protecionistas, pode manter a moeda forte: “O índice DXY subiu 4% desde o resultado da eleição, refletindo essa perspectiva.”
Política tarifária de Trump favorece dólar
André Valério, economista sênior do Inter, ressalta que a política tarifária de Trump pode desempenhar papel crucial.
“Se implementadas, as promessas de tarifas elevadas tendem a sustentar a alta do dólar, mas o uso da ameaça como barganha adiciona incertezas ao cenário”, disse.
Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, prevê volatilidade inicial. “O histórico de políticas imprevisíveis e tensões comerciais pode gerar movimentos bruscos na cotação da moeda.”
Dólar como moeda de proteção
O dólar permanece como ativo de refúgio para investidores em momentos de incerteza, mas seu papel pode sofrer nuances.
Garay destaca que a demanda pela moeda americana cresce em tempos de crise devido à estabilidade econômica e política dos EUA. Gusmão e Valério concordam que a percepção de segurança continuará, principalmente se tensões geopolíticas se intensificarem sob Trump.
Martins, por outro lado, sugere que a atratividade de mercados emergentes, com potencial de recuperação e juros mais altos, pode gradualmente reduzir a busca pelo dólar como único refúgio. “O ciclo de corte de juros nos EUA limita o fluxo defensivo para a moeda.”
Projeções para o dólar frente ao real
Há consenso entre os especialistas de que o dólar continuará elevado, mas as projeções variam. O cenário fiscal brasileiro e o ambiente internacional influenciarão diretamente a taxa de câmbio.
Enquanto Valério prevê o dólar a R$6,00 ao final de 2025, com uma valorização de 2,9% no ano, Martins estima uma faixa de negociação entre R$5,90 e R$6,00 a curto prazo, mas um enfraquecimento estrutural para R$5,50 no médio prazo, dependendo de ajustes fiscais no Brasil.
Já Garay observa que a diferença entre as previsões oficiais e a realidade cambial destaca a volatilidade do mercado.
O executivo lembra que, embora o Relatório Focus projetasse o dólar a R$5,00 para 2024, a moeda encerrou o ano em R$6,19, um desvio de quase 24%. “A capacidade do Brasil de organizar suas contas públicas será determinante para o fortalecimento do real.”