Camil (CAML3) X M. Dias Branco (MDIA3) deve se acirrar?

Entrada da Camil no setor de biscoitos aumenta presença geográfica da companhia, além de trazer um novo segmento para seu portfólio

Como estratégia para aumentar seu portfólio e expandir suas operações geograficamente, a Camil adquiriu a Mabel, marca da indústria de biscoitos, e entrou no segmento que já tinha a M. Dias Branco (MDIA3) como forte atuante. Segundo Rodrigo Glatt, sócio da GTI, a entrada da Camil (CAML3) no segmento de biscoitos não deve afetar muito a M. Dias Branco, já que as companhias estão em “momentos distintos”. 

“As empresas estão com momentos e prioridades muito distintos hoje. Primeiro que a Mabel tem uma presença regional geográfica bastante diferente da M. Dias. Por exemplo, no nordeste, a Mabel tem apenas 12% da venda dela, então é uma empresa muito mais ligada ao sudeste, enquanto M. Dias, nessa parte de biscoitos, está mais presente no nordeste, está mais bem distribuída regionalmente. Então esse é o primeiro ponto”, destacou Glatt.

Com a compra da Mabel, a Camil ganhou, automaticamente, mais uma marca (para além da Mabel). Isso porque a marca Toddy (para biscoitos), que segundo relatório da XP pode atingir preços de cerca de duas vezes a média do setor, será licenciada pela Camil, por um período de dez anos. 

A XP reiterou, em relatório divulgado nesta terça-feira (23), que o conhecimento de originação de trigo adquirido pela Camil com a “Santa Amália” prevê uma oportunidade na redução de custos para a Mabel. Segundo Glatt, a Mabel estava perdendo muito mercado e não tinha grandes objetivos dentro da Pepsico.

“No caso da Mabel, ela realmente vinha perdendo muito mercado. Acho que ela inclusive está com capacidade ociosa. Era uma operação que não tinha o foco necessário dentro da Pepsico, e por isso ela performou mal, então era uma divisão que não era muito a prioridade do grupo nos últimos anos”, disse o especialista. 

Os analistas da XP dos setores de Agro, Alimentos e Bebidas, Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, destacaram em relatório que a Camil é “um alvo interessante por um preço atrativo” na bolsa de valores de São Paulo (B3). 

Para os especialistas, o maior desafio para a Camil está “na execução” do negócio feito com a Mabel. Isso porque, assim como disse Glatt, a Mabel era uma marca “parada” no grupo Pepsico e precisa de um novo planejamento. 

“Como a Mabel necessita de um processo de turnaround (os volumes diminuíram 40% nos últimos 2 anos), entendemos que a Camil conseguiu pagar um preço atrativo por uma empresa com potencial muito interessante pela frente, com capacidade instalada de 110 mil toneladas (ociosidade ao redor de 45%), marcas fortes como Toddy que podem atingir preços cerca de duas vezes a média do setor, além de presença nacional”, disseram os analistas da XP em relatório. 

Com a entrada da Camil (CAML3) na categoria de biscoitos, através da aquisição da Mabel, as ações da companhia do setor de varejo alimentar subiram nesta terça-feira (23). Os papéis da Camil fecharam o pregão em alta de 2,68% cotados a R$ 10,35.

De acordo com o CEO da Camil, Luciano Quartiero, no médio prazo, a companhia pode dobrar a receita da Mabel, que é de cerca de R$ 480 milhões, o que representaria à Camil um incremento de R$ 1 bilhão em faturamento. A fala de Quartiero foi dita em entrevista ao “Valor Econômico”. 

Resultados de Camil e M. Dias no 2T22

A Camil reportou seus resultados referentes ao primeiro trimestre de 2022 do ano fiscal há pouco mais de um mês. A empresa teve lucro líquido de R$ 96,8 milhões, queda de 10,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Por outro lado, a M. Dias Branco divulgou neste mês um lucro líquido de R$ 233,5 milhões referente ao segundo trimestre deste ano. O montante surpreendeu o mercado por ser 64,1% maior do que o reportado no mesmo período de 2021.

“A M. Dias vem há muitos anos tendo a rentabilidade questionada e esse segundo trimestre foi o primeiro trimestre que vimos a companhia mudar de patamar, no sentido de retomar a rentabilidade”, informou Glatt.

“Eles aumentaram bastante preço, as margens vieram melhores, então não estão tão preocupados em ocupar mais mercado, vamos dizer assim, e esse é um processo de construção de retomada da rentabilidade, que vem acontecendo desde a compra da Piraquê e da junção dos portfólios de marcas e produtos, então já tem um tempo que a empresa já está nesse foco e é um foco maior na rentabilidade ao invés de ganhos de market share ou de ganho de mercado”, explicou Glatt, sobre a maior diferença da companhia, hoje, em relação à Camil.