Dificuldades

Carlyle: entenda como a aquisição virou uma dor de cabeça para a SPX

A gestora de private equity tem lidado com dificuldades em várias de suas empresas investidas

The Carlyle Group
The Carlyle Group / Divulgação

A compra da operação da Carlyle no Brasil pela SPX, realizada em 2021, revelou-se um empreendimento mais complicado do que Rogério Xavier poderia ter previsto.

A gestora de private equity tem lidado com dificuldades em várias de suas empresas investidas, e os cotistas de seus fundos têm levantado questionamentos sobre algumas das decisões da administração.

Os desafios, que tiveram início antes da transação, se intensificaram ao longo dos últimos dois anos. O caso mais emblemático diz respeito à Tok&Stok, onde a SPX se encontra em conflito com a família fundadora sobre o futuro da varejista de móveis e decoração.

Desafios da SPX

Enquanto a SPX propõe a fusão da Tok&Stok com a Mobly, vendendo sua participação em troca de ações da empresa listada, o que lhe proporcionaria uma saída, a família Dubrule defende a necessidade de uma injeção de capital de R$ 220 milhões, juntamente com um alongamento das dívidas, o que poderia oferecer o fôlego necessário para uma reestruturação.

A SPX acusa a família de optar por esse caminho para retomar o controle da empresa, já que a gestora não conseguiria acompanhar o aumento de capital, resultando em sua diluição na operação. Por outro lado, os Dubrule afirmam que a SPX está focada exclusivamente em sua estratégia de saída, sem levar em consideração o futuro do negócio.

O fundador da Tok&Stok chegou a afirmar em uma entrevista que a fusão com a Mobly seria “o abraço dos afogados”, uma vez que a Mobly tem incorrido em perdas financeiras mês após mês.

Investimento da Carlyle

A Carlyle investiu na Tok&Stok em 2010, por meio do Fundo Brasil de Internacionalização de Empresas (FBIE). Dois anos depois, a gestora injetou mais recursos na companhia utilizando dois outros fundos: o TSCO e o FSCO.

Todos os três fundos já chegaram ao fim de seu prazo, e a gestora precisou solicitar a prorrogação, uma prática permitida pelo estatuto.

A insatisfação dos cotistas com o desempenho desses e de outros fundos administrados pela SPX/Carlyle é evidente nas atas das assembleias disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Na assembleia mais recente do FBIE, realizada em 8 de julho para solicitar a prorrogação do prazo do fundo por mais um ano, três cotistas exigiram que a ata incluísse um apelo à gestão por um plano de desinvestimento dos ativos, além de uma redução na taxa de administração.

Ações da Rede D’or

Além de sua participação na Tok&Stok, o fundo também detém uma participação na Rede D’Or.

A mensagem dos cotistas pede ainda que se verifique “se não faz sentido aprovar no comitê de investimentos condições mínimas de venda da Rede D’Or para evitar que o cumprimento dos ritos de aprovação atrase o processo de venda e se perca alguma janela de oportunidade.”

Esses cotistas solicitam ainda que o fundo apresente o orçamento para o próximo ano, detalhando o tempo de comprometimento de cada integrante da equipe.

“Aliado a isso, o gestor deve detalhar a sua atuação nas companhias investidas,” diz a mensagem. “Por fim, tendo em vista que o fundo vai para a sua quinta prorrogação, recomendamos que a SPX reduza a taxa de gestão em 10%.” 

Outro cotista registrou na ata que somente aprovaria a extensão do fundo caso a gestão concordasse em distribuir as ações da Rede D’Or e reduzisse a taxa de administração em 20%.

A insatisfação dos investidores também é evidente nas atas do FBIE II, que inclui a Rede D’Or em sua carteira. O conteúdo é semelhante, com os cotistas demandando maior transparência sobre a estratégia de desinvestimento e a diminuição das taxas.