Casai, startup para estadias, demite e negocia fusão com Nomah

No Brasil, o corte foi de pelo menos 60 funcionários

A Casai, startup mexicana para estadias de curta duração na América Latina, está demitindo dezenas de funcionários enquanto planeja uma fusão com a Nomah, que pertence à Loft, segundo apurado pela “Bloomberg Línea”. Sob o acordo, ainda em negociação, a Loft venderia suas ações da Nomah para a Casai e investiria na empresa resultante da fusão. 

De acordo com fonte familiarizada com o acordo, a fusão com a Nomah será concluída em breve, mas as negociações de transação ainda não foram finalizadas. Ainda, a transação vem em momento propício para a Casai, depois que uma negociação para extensão da rodada Série A para a startup, em abril, não avançou, disse uma fonte à “Bloomberg Línea”.

A Casai e a Nomah atuam no segmento de short stay: reformam apartamentos que pertencem a investidores e fazer a locação de curta temporada, oferecendo uma experiência digital, com preços mais acessíveis do que diárias de hoteis e sem as burocracias de contratos de aluguéis tradicionais. Para os investidores, é uma mão na roda, podendo rentabilizar o ativo imobiliário sem ter que cuidar da locação pessoalmente. 

Depois que a Sonder, versão americana da Casai, reportou desempenho ruim e demitiu funcionários, family offices donos de imóveis da Casai reagiram, puxando o cheque de extensão da Série A. Como apurado pela “Bloomberg Línea”, os fundos de venture capital seguiram a mesma movimentação.

Assim, a empresa teve que cortar custos e o resultado foi a demissão de pelo menos 60 funcionários no Brasil. Aqui, a equipe era de quase 200 pessoas. Já no México, outros 20 foram desligados da empresa.

Brasileiros demitidos pela startup disseram que ainda não tiveram as verbas rescisórias, mas que, conforme leis trabalhistas, podem recebê-las em até dez dias. No México, a situação é ainda mais incerta, já que ex-funcionários estão recebendo propostas para que a rescisão seja paga em até seis parcelas, como apurado pelo site.

Outra fonte disse que, em junho, a Casai relatou a funcionários que negociava um acordo de fusão e aquisição. Ainda assim, a empresa teria que se reestruturar porque não tinha condições de manter o negócio por mais um mês. Em abril deste ano, a startup cofundada pelos mexicanos Nico Barawid e Maria del Carmen Herrerías adquiriu a empresa brasileira Loopkey, que oferece fechaduras e softwares para acesso aos apartamentos. 

Em 2020, a Casai levantou uma rodada de financiamento da Série A, liderada por Andreessen Horowitz e pela TriplePoint Capital, no valor de US$ 48 milhões. Essa foi uma das maiores rodadas dessa etapa e serviu para bancar a expansão da startup no Brasil. 

Quando o negócio com a Nomah for fechado, ex-funcionários acreditam que o mercado brasileiro se tornará ainda mais relevante para  a Casai, apesar de poder levar a mais demissões, já que a nova empresa – resultante da fusão – terá que ajustar seus negócios e portfólio. 

Como apurado pela “Bloomberg Línea”, o acordo manteria Barawid como CEO e Thomaz Guz, fundador e CEO da Nomah, sairia em seis meses. 

Até seis meses atrás, situação era favorável na Casai

“Houve muito crescimento e muito dinheiro para investir. A estratégia era crescer o mais rápido possível e todas as ideias que poderiam nos ajudar a avançar foram aceitas. Era um momento muito emocionante”, contou à “Blommberg Linea” uma pessoa afetada pelas demissões da Casai. Segundo ela, até seis meses atrás, a situação da startup era mais favorável.

Mas o crescimento acelerado, supostamente sem disciplina financeira, levou o CEO a conversar com toda a empresa, em junho, para informar que a startup estava ficando sem dinheiro. Na ocasião, Barawid teria recomendado que procurassem um novo emprego. 

“Naquele dia havia um clima de total incerteza e não houve contato dos chefes de equipe para explicar o que estava acontecendo”, disse uma das pessoas desligadas pela startup à “Bloomberg Línea”. 

Desde então, a carga de trabalho começou a diminuir na maioria das áreas. Apenas alguns meses antes, as equipes estavam crescendo constantemente. Ainda assim, a partir de junho, alguns líderes começaram a negociar a saída da startup. Segundo ex-funcionários, os departamentos de comunicação e recursos humanos, tanto no Brasil como no México, praticamente desapareceram. 

Apenas nos canais de comunicação da Casai, 349 funcionários haviam sido cadastrados. Com o corte, esse número passou para 299.

Segundo fontes, os benefícios dos funcionários começaram a ser reduzidos recentemente e os fornecedores foram pagos de forma diferente, com cartões de crédito da Clara, unicórnio fundado por Gerry Giacoman, e não com depósitos, como de costume. 

Rescisões

No México, o clima era agradável na startup, segundo relato de ex-funcionários para a “Bloomberg Línea”. Mas, nas últimas semanas, funcionários foram informados que teriam que assinar sua demissão com uma indenização que não correspondia com a prevista em lei. 

Segundo pessoas desligadas pela empresa no México, a Casai está oferecendo apenas metade do que corresponde a seis pagamentos, sendo o primeiro pagamento entre 40% e 50% e o restante em prestações mensais. Os afetados procuraram conselho jurídico e seus advogados concordaram que não é uma prática usual, mas apontam que pagamentos geralmente diferem quando a empresa está com problemas financeiros. 

No México, alguns ex-funcionários estão entrando com um processo, de forma individual, uma vez que a maioria deve aceitar os termos pois precisa do dinheiro imediatamente. Outros querem renegociar para que a Casai pague integralmente à vista.

A equipe da Casai afetada pelas demissões no Brasil ainda está em contato com o RH e realiza exames demissionais. Não há relatos de proposta de pagamentos da rescisão em parcelas, segundo a “Bloomberg Línea”.

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